Henrique Raposo (www.expresso.pt) 8:00 Segunda feira, 9 de maio de 2011 |
O documento da troika representa uma violenta humilhação de Sócrates e do PS. Para além das questões programáticas (a inclinação liberal do documento é a negação do socialismo tuga), convém notar que a troika desautorizou a última jogada de Sócrates, a saber: o primeiro-ministro dizia que o PEC IV era suficiente e que, por isso, o derrube do governo tinha sido inútil. Ora, a troika negou esta falácia de Sócrates: o PEC IV não era suficiente. Longe disso. Era pouco claro na parte da despesa e muito rudimentar na agenda para o crescimento. Portanto, devemos um agradecimento a quem derrubou o governo.
Depois, parece-me que os membros da troika sentiram a necessidade de criticar - mesmo que indirectamente - a desonestidade de Sócrates. Se bem se lembram, o nosso primeiro-ministro disse ao país que este era um "bom acordo" e teve o descaramento de fazer uma declaração com base no que não estava no acordo. Para percebermos o incómodo dos membros da troika, basta ler este pedaço da entrevista de António Barreto ao i:
"Quando (Sócrates) anunciou os resultados das negociações fez uma coisa extraordinária que foi dizer o que não está no acordo e não anunciou o que estava. Parece mesmo que há sinais de que a opinião política europeia ficou muito desagradada".
As declarações dos membros da troika revelaram - precisamente - este incómodo europeu ante o populismo de Sócrates. Jurgen Kroger (da Comissão) disse o seguinte: "mas vou ser honesto com o povo português - isto não é fácil". O mighty Poul Thomsen (FMI) foi ainda mais vigoroso no raspanete indirecto a Sócrates: "vamos ser claros - o plano é muito intenso e exigente" (Negócios, 6 Maio, p. 8). Parece inacreditável, mas é a verdade é que os portugueses receberam honestidade das mãos de estrangeiros e não das mãos do seu primeiro-ministro.
PS: a falta de vergonha de Sócrates chegou a incomodar muitos socialistas, inclusive no governo: "houve quem se tivesse sentido desconfortável com o discurso ostensivamente de campanha eleitoral numa altura em que o interesse nacional pediria outro decoro (...) preferiam ter visto do seu secretário-geral e primeiro-ministro uma atitude de maior elevação" (ver Expresso de sábado, p. 10)
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