terça-feira, 30 de novembro de 2010

Cientistas de pé no Jardim Botânico Tropical

(colhido no De Rerum Natura)


segunda-feira, 29 de novembro de 2010

O art.º 17. º da nossa infâmia

(JN)

Carlos Abreu Amorim

Diz-se que a questão se originou na incomodidade dos quadros do Banco de Portugal (BdP) em se sujeitarem aos cortes salariais previstos na austeridade orçamental.

O BdP hospeda e agasalha o melhor das subidas cabeças económicas e políticas da corte que manda no país - sempre tal ouvi afiançar (mas nunca acreditei): Silva Lopes, Tavares Moreira, Miguel Beleza, Vítor Constâncio, Cavaco Silva, Oliveira e Costa, Manuela Ferreira Leite, Octávio Teixeira, Ernâni Lopes e tantos outros.

Em suma, que ninguém se equivoque: quando o BdP franze o sobrolho, o regime que temos estremece.

As pressões levaram Jaime Gama a pedir um parecer ao BCE. Este, usou do habitual "amiguismo de classe" e sentenciou que a independência do BdP estaria ameaçada caso o Estado português prosseguisse com os cortes salariais nessas tão autónomas e soberanas figuras que jazem no BdP - logo, temos de concluir, para que a emancipação do BdP seja assegurada, o Estado está forçado a recompensar os seus milhares de funcionários e outros tantos aposentados com remunerações muito acima dos restantes servidores públicos e que nunca poderão, sequer, oscilar com os abalroamentos mais terríveis da crise!

Prontamente se percebeu que outras entidades públicas ansiavam por plagiar o exemplo do BdP à custa de qualquer pretexto. Os demais albergues do regime, como a Caixa Geral de Depósitos, acompanhada por uma série de entidades públicas ditas empresariais (como a TAP, CTT, CP e por aí fora), iniciaram nos corredores do poder uma ofensiva que tentava comprovar a mirífica possibilidade de os seus quadros superiores desertarem em massa para outras instituições, pelos vistos sedentas da competência e do mérito que por ali abundam, como é por todos consabido...

A falta de pudor que assinala os principais responsáveis por esta III República prevaleceu - na passada terça-feira, de forma dissimulada, prestes a encerrar-se o debate na especialidade do OE, em véspera da greve geral e tentando apanhar distraídos os poucos que ainda não prescindiram da capacidade de pensar e de se indignarem com o que resta deste pobre país, o PS, tácita e desgraçadamente apoiado pelo PSD, aprovou uma nova redacção do art.º 17.º do OE, segundo a qual as administrações das empresas públicas poderão ser autorizadas a realizarem "adaptações autorizadas e justificadas pela sua natureza empresarial".



Num ápice, abriu-se o postigo da vergonha! Com estas oito simples palavras está concretizada a tarefa de descobrir uma fresta para, logo de seguida, escancarar o portão das excepções aos cortes salariais, simbolizando na perfeição a notória carência de um mínimo ético por parte de quem tanto nos tem desgovernado.

Os esforços de justificação desta ignomínia ainda são mais reveladores da imensa desconsideração que os responsáveis partidários detêm pela lucidez dos portugueses - tentaram impingir-nos a ínvia fábula que assegurava que caso persistissem os cortes salariais na Caixa aquela rapaziada que para lá foi enviada (ou para outros lugares análogos) como gratificação adquirida por percursos e fretes politiqueiros, debandaria, amuada, para o J.P. Morgan Chase ou para o HSBC, que, claro, os receberiam de braços e bolsas abertas! Quiseram fazer-nos acreditar que os nossos gestores públicos, na sua maioria, autênticos especialistas em afundar as empresas por onde passam, poderão ser aproveitados por alguma entidade privada em que o mérito prevaleça e que não necessite de "Varices", ou seja dos conúbios insalubres entre decisores públicos e privados.

Fiel à sua história recente, o PS abdicou dos princípios e cedeu aos interesses mais torpes. O PSD apadrinhou esse declive ético, mostrando que ainda vê o país a partir da confundida visão da corte.

Numa hora em que importava manifestar, cá dentro e lá fora, que a austeridade é para levar a sério, exibimos os nossos piores vícios: o favoritismo, a discriminação em razão de posições de influência, a ideia de que há servidores públicos com e sem "pedigree".

Cada vez mais, os políticos deste país dão-me náuseas - que venha o FMI e depressa!












domingo, 28 de novembro de 2010

É fartar, vilanagem!


(JN)

Uma estimável instituição vocacionada para a defesa dos consumidores mostrava há dias que na factura da electricidade, cada vez mais gorda, mais de 40 por cento não se referem ao que consumimos. Se bem entendi, estaremos aí a falar de "extras" variados, entre os quais (estou certo disso) não deixarão de ter o seu peso os salários e prémios milionários pagos aos gestores e, também, aos assessores (originários exactamente daqueles sítios em que o leitor está a pensar), bem como cátedras de luxo em universidades americanas...


Mas esses expedientes, hoje mais vulgares do que o "doce da Teixeira" nas romarias, não se ficam pela electricidade. Essas habilidades, que visam entrar nos bolsos dos cidadãos com aparências de seriedade, estão presentes noutros bens de primeira necessidade e prestados em regimes de monopólio ou parecidos.


É o caso da água: mais de metade da factura nada tem a ver com o consumo, antes se dispersa por rubricas como a recolha de lixo (que grande negócio vai por aí!), o saneamento e outras criatividades semânticas, entre as quais se destaca a "disponibilidade".


Mas há muito mais, a começar pelas gasolinas e a terminar... nunca. E coisas novas vêm a caminho sem o menor pudor: em breve estaremos a pagar uma "taxa de protecção civil", como se entre as obrigações públicas não estivesse precisamente a protecção das populações.


Cabe perguntar, aqui chegados, para que servem, afinal, os impostos que nos cobram!

sábado, 27 de novembro de 2010

Crónica da desgraça anunciada


J.L. Pio Abreu



O orçamento derrapou, sabem porquê? Porque se anunciaram restrições, e não houve director, presidente ou autarca que não desatasse a gastar dinheiro enquanto podia dispor dele. Aumentou o consumo de medicamentos, sabem porquê? Porque se anunciou que eles ficariam mais caros, e não houve doente que não os comprasse enquanto eram mais baratos.


Quando se anuncia a taxação dos dividendos, não há accionista que não os queira enquanto não forem taxados. Se, por uma crise social, se adivinhar que faltará o abastecimento de bens essenciais, começará sem dúvida o açambarcamento, fazendo apressar a falta. Se alguém souber que um país sairá do Euro, as notas vão sair do circuito económico e dirigir-se rapidamente para debaixo dos colchões.


São os nossos Chicos Espertos? É verdade que sim, mas quem os pode condenar quando seguem o exemplo dos mais respeitáveis gestores? O erro, no mundo em que vivemos, é anunciar a desgraça. Tal como na psicologia humana, só o optimismo, mesmo contra as probabilidades, se torna saudável. Os optimistas sabem que a desgraça é possível e que poderão vir a enfrentá-la, mas apostam antes na esperança e até podem ganhar.


Viver a pensar no mal que nos pode acontecer é doentio. Causa infelicidade e apressa o próprio mal. No mundo de hoje também é assim. Mas a sociedade, ou parte dela, ou a sua parte mais visível, está doente. Anuncia o mal, causa infelicidade e abre o caminho para a desgraça.

Hipocrisias

(JN)

Vamos falar curto e grosso, sem perder tempo com a precisão das palavras utilizadas no relatório do FMI. Os senhores dizem que a causa maior da crise que estamos a viver é a desigualdade de rendimentos e apontam o dedo à má distribuição de riqueza feita pelos estados. Os senhores do FMI dizem isto, como podiam dizer outra coisa qualquer, porque estes relatórios têm uma lógica "professor Marcelo" e provam o que for preciso ou o seu contrário.


Adiante. É de uma extrema hipocrisia que os senhores do dinheiro nos digam que é preciso distribuir melhor a riqueza e tenham como receita única para as suas intervenções cortar na despesa pública, mesmo naquela que funciona como terapia social.


Estamos a chegar à época do Natal e as hipocrisias saltam mais à vista. Pode parecer demagogia, mas o que eu vejo é a lógica de "olha para o que eu digo, não olhes para o que eu faço".


Esta semana houve uma greve geral contra as políticas públicas de recessão, contra o acordo do PS com o PSD para pôr de pé os PEC da nossa tristeza. Os que pararam perderam um dia de salário, mas no Parlamento lá estavam comunistas e bloquistas a ganhar o deles. Alegam que os órgãos de soberania não podem fazer greve. Mas quem falta tantas vezes não poderia ter deixado nesse dia o PS a falar sozinho com o PSD. Pelos vistos não. Um dia de salário de deputado é coisa que se nota na carteira.


Sem hipocrisias, sou a favor da vinda do FMI e de uma correcção séria dos nossos desequilíbrios. Todo o tempo que perdermos sem acertar o passo é tempo que estamos a roubar às gerações futuras.

Coerência


(João Marcelino - DN)


Afinal, os cortes dos ordenados na função pública não vão ser para todos. À última hora, o sector empresarial do Estado ganhou um regime de excepção apresentado pelo PS e viabilizado pelo PSD. A tese é a de que não podemos perder os nossos melhores quadros. Mais uma vez, só perdemos a coerência.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Como era de esperar

(JN)



Vai ficando à vista aquilo que, desde que foram anunciados os famosos e igualitários "sacrifícios para todos", era de esperar tendo em conta a cultura político--partidária dominante: que alguns "todos" seriam mais "todos" que outros.


Poupada, primeiro, a Banca, apesar dos escandalosos lucros que tem obtido com a crise (crise de que foi e é o sistema financeiro, com esse nome ou sob o fantasmático pseudónimo de "mercados", o principal responsável), seguiram-se os grandes grupos económicos, que se preparam para distribuir dividendos antes que os "sacrifícios para todos" entrem em vigor e sem que seja visível a olho nu, da parte do PS ou do PSD, qualquer medida para impedir a fuga aos impostos de muitos milhões de euros (1100 milhões, só por conta da PT, Portucel e Jerónimo Martins/Pingo Doce).


Agora, aprovado que foi o Orçamento na generalidade, começam a aparecer na discussão na especialidade mais "excepções", dos funcionários dos grupos parlamentares (isto é, funcionários partidários) aos "trabalhadores das empresas públicas", das "entidades públicas empresariais"e do "sector empresarial regional ou municipal" (poisos privilegiados de "boys" e "girls"), onde poderá haver não se sabe que "adaptações" desde que "autorizadas" não se sabe por quem.


Se a aprovação do Orçamento demorar muito mais, "todos" acabará por significar só a arraia miúda e gente sem poder económico ou político.

Greve

(Carlos Abreu Amorim - DN)

Raramente vi tanta gente disposta a fazer greve como hoje.
Apesar de a maioria dos nossos sindicatos e sindicalistas já merecerem integrar uma colecção de um qualquer Museu de História Natural que se debruçasse sobre o período que dista, algures, entre o Mesolítico e o Neolítico, se tivermos como premissa a desenvoltura das suas ideias.

Mas é preciso reagir quando nos sentimos injustiçados.

Um povo que cala quando tanto leva de quem tão mal o governa já perdeu o respeito por si mesmo.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

A miséria "em directo e exclusivo"


Não fosse uma notícia do JN e talvez nunca tivesse tomado consciência de que a ajuda alimentar estrangeira não abrange apenas países terceiro-mundistas, como a Somália ou o Haiti. Afinal, Portugal também pertence ao número dos "desgraçadinhos". Em 2009, quase 100 mil famílias nossas andaram às sopas de Bruxelas. O meu orgulho nacional foi-se abaixo! Depois disso, quase não me beliscou o brio patriótico vir Timor-Leste oferecer-se para comprar parte da dívida nacional. Será o roto a ajudar o nu, mas por que não?...


E que não se fale na crise internacional! Porque há muito que quase meio milhão de portugueses vive da caridade de misericórdias, igrejas e outras. Só que dessas pouco se fala, pois praticam a máxima cristã de não saber a mão esquerda o que dá a mão direita.

(imagem retirada de www.nilzasilva.com)

A quem tanto bem espalha, juntou-se a TVI, através de um programa ("em directo e exclusivo"...) que paga umas continhas a gente que em troca se sujeita a fazer palhaçadas. E, indo mais longe, o programa criou um apêndice que me deixou estarrecido a única vez que o vi. Apresentaram-nos um casal que vive com poucos euros, passa fome e teve os electrodomésticos estragados pela chuva. Durante largos minutos, o casal - ela lavada em lágrimas, ele com ar contristado - foi exibido para uma plateia de lágrima ao canto do olho e para milhares de telespectadores a fungar de comoção. No final, recebeu quatro carrinhos com comida, oferta (e publicidade...) de um hipermercado, e electrodomésticos, oferta (e publicidade...) da TVI. Em suma: a miséria patenteada sem o mínimo pudor, os pobres expostos na jaula de um zoo de caridade! Um país que admite um espectáculo público tão degradante afinal talvez mereça ser colocado, aos olhos de Bruxelas, no nível da Somália ou do Haiti...

À espera de um "sinal"



No meio de notícias que são hoje, infelizmente, quase diárias ("Cinco mil famílias em lista de espera para receber apoio alimentar de instituições"; "Classe média está a chegar à sopa dos pobres"...), alguns poucos parágrafos davam ontem conta do apelo do arcebispo de Braga aos párocos para que dêem um "sinal sacerdotal" e prescindam do salário de um mês para acudir "àqueles que, cada vez mais, não têm o mínimo para sobreviver". "Trata-se - diz o arcebispo - de colocar em questão este modelo económico e acreditar que a solidariedade tem capacidade para dar dignidade a todos".


A obra assistencial da Igreja (em boa parte com apoios do Estado), juntamente com a de instituições como o Banco Alimentar ou as Misericórdias, é hoje a última fronteira da esperança de muitas dezenas de milhares de famílias que a "crise" (é difícil escrever a palavra sem aspas quando a Banca, poupada aos "sacrifícios para todos", continua a lucrar milhões por dia) atirou para a fome e a miséria. E todos os dias se ouvem apelos da parte do clero à solidariedade. Mas é a primeira vez que um bispo vem louvavelmente lembrar que, "na partilha, os sacerdotes não podem pôr-se de lado".


Falta a própria Igreja não se pôr de lado e, quem sabe?, decidir-se a prescindir de, por exemplo, uma pequeníssima parte dos rendimentos do Santuário de Fátima a favor "daqueles que, cada vez mais, não têm o mínimo para sobreviver".

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Os donos de Portugal





Três grandes grupos económicos anunciaram já a antecipação para este ano da distribuição de dividendos (e mesmo de reservas) que só deveriam ser pagos em 2011.

A razão é escandalosamente simples: em Janeiro entram em vigor, juntamente com os aumentos de impostos e reduções de salários, pensões e prestações sociais que atirarão para o desemprego e a miséria muitas centenas de milhar de portugueses, também várias alterações às isenções de tributação de que gozam as SGPS.

Pagando antecipadamente os dividendos de 2010 antes de findo o ano económico, a PT, a Portucel e o Grupo Jerónimo Martins/Pingo Doce (que ainda recentemente instituiu uma fundação com uma "carta de princípios" cheia de expressões como "solidariedade social" e "responsabilidade social") escaparão pela porta do cavalo aos "sacrifícios para todos" com que enchem a boca Governo e PS.


Sobre a fuga aos impostos de 1 100 milhões de euros num momento crítico como o que o país atravessa, o que o Governo, pelo perplexo ministro das Finanças, tem de substantivo a dizer é que é "legal". E se calhar é. Só que quem fez as leis que o permitiram e não fez as leis que o impediriam foi o mesmo Governo (que às vezes mais parece um Conselho de Administração do país por conta dos grandes grupos económicos e da banca) que tanto gosta de mostrar "coragem e determinação" quando se trata de exigir sacrifícios aos mais pobres e às classes médias.

sábado, 20 de novembro de 2010

É tão chato haver coisas complicadas



O mundo era mais simples se tudo fosse mais simples não é? Se a simplicidade fosse a regra e a complexidade abolida.



Na página 28 do Expresso dá-se conta de um estudo que demonstra como os alunos portugueses falham bastante quando as palavras são acentuadas e quando os grafemas se afastam dos fonemas, como resultado da evolução da linguagem escrita e do seu afastamento da mera oralidade.


E isto é lamentado por um especialista, que fez o estudo e que denuncia os “caprichos” linguísticos que “dificultam a vida aos alunos”.


Realmente é uma chatice… Isto deveria evoluir tudo mas as msgs de sms e pco +. Pk s pcebe na mm e n da tanta xatice ao ppl.


E que tal se em História suprimíssemos todas partes mais complicadas, como aquela dos séculos minguarem até Cristo e crescerem depois? E se deixássemos de nos aborrecer com as tricas que levaram à independência de Portugal (contava-se que um dia tinha aparecido um rei formado ao domingo e que tinha criado o país, mandando a mãe às compras), limitavam-se os descobrimentos ao Brasil e aos PALOP para não ter de complicar as coisas, aboliam-se as guerras liberais por serem confusas e, por proposta do Rui Ramos e do Nogueira Pinto, fazia-se ligação directa entre a Monarquia e o Estado Novo. Certamente complicaria menos a vida aos alunos.


E em Matemática? Para quê complicar se a vida se a maioria vive com as quatro operações aritméticas básicas e umas quantas formas geométricas? Os sólidos ainda vá… mas equações? E, vai de retro, inequações? E probabilidades?


E em Ciências? Vamo-nos aborrecer com a classificação dos minerais e vegetais porquê? Porque não ficamos nos tempos pré-Lineu? Porque não chamamos pedras e metais a todos os minerais? Não é verdade? E a Geologia (ou a Geomorfologia, já agora), a quem interessa(m), se nem a(s) estudam para fazer o metro chegar ao Terreiro do Paço?


E muito se poderia fazer neste campo, aligeirando programas e currículos, no sentido de promover o Sucesso?


Quem nos manda querer que as crianças e jovens aprendam o que se foi descobrindo e sabendo ao longo dos últimos milhares de anos?


Não poderíamos ficar ali pelo Aristóteles, com a terra no centro do Mundo? E não é o Criacionismo uma teoria bem mais fácil de entender do que as darwinices? E até ficava tudo mais fácil em matéria de manual, porque existiria um único com tiragem comprovada e certamente poupança por existirem exemplares a passar entre gerações?


É que realmente esta coisa estranha de se ter de perceber que sucessão se escreve de uma forma e açucena de outra tem muito que se lhe diga (são os exemplos que aparecem no texto) e o especialista de serviço – Óscar Sousa, da Universidade Lusófona – tem toda a razão: isto é uma enorme complicação… e não é justo…

(Paulo Guinote)

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Dia Mundial do Xadrez

Uma jovem jornalista perguntou a Mikhail Tal:



- O que prefere: uma mulher verdadeira ou uma dama de xadrez?


- Depende da posição! - respondeu o ex-campeão mundial.

Denunciantes

(JN)

Os jornais anunciaram que, a partir de agora, é oficialmente reconhecida a nobre profissão de denunciante. Já tardava, é um facto. Mas pronto, antes tarde que nunca. Todos sabemos como a nobre arte da denúncia tem sólidas raízes entre nós. No tempo do senhor D. João III (e nos tempos que depois se seguiram...) muitos foram os que acabaram nas fogueiras da Inquisição, denunciados por vizinhos, familiares ou amigos, prontos a jurar que os tinham visto, por exemplo, "a ter comércio com o demónio", ou a "apartar-se da nossa santa fé católica, passando-se à lei de Moisés, vestindo camisas lavadas aos sábados, e jejuando às segundas e quintas, e não comendo carne de porco".


Sabe-se como a nossa santa fé lhes ficou eternamente grata.


Muito mais tarde, nos saudosos tempos do Estado Novo, a nobre arte da denúncia foi de novo reinstaurada. Uma legião de impolutos cidadãos, amantíssimos esposos e extremosos pais de família, encarregava-se de escrever cartas denunciando vizinhos, colegas de trabalho, familiares, amigos, ou vagamente conhecidos, jurando que os tinham ouvido falar contra a ordem estabelecida, denegrindo a figura do sr. presidente do Conselho, ou pondo em causa a nossa patriótica presença em África, ou ouvindo rádios a soldo de potências inimigas estrangeiras, ou acolhendo gente suspeita em suas casas pela calada da noite. Assim o juravam e assinavam, a bem da nação.


Sabe-se como a nação lhes ficou eternamente grata.


Como se vê, está-nos na massa do sangue.


Agora, se alguém suspeitar de corrupção - as autoridades ordenam que se denuncie imediatamente.


Com a net é uma limpeza, pena ela não existir nos tempos do senhor D. João III ou do sr. dr. Oliveira Salazar, bom jeito tinha dado.


Claro que há uma triagem - dizem.


Claro que há uma investigação - dizem.


Claro que os tempos são outros - dizem


Mas os denunciantes, lá no fundo, nunca mudam.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Profissão: "boy" ou a vida cor-de-rosa

(JN)

É uma história de proveito e exemplo e todos os pais a deveriam ler à noite aos filhos para que eles possam aprender que, ao contrário do que professores antiquados ainda ensinam na escola, não é com estudo e trabalho, ou com mérito, que se vai longe na vida.


Pedro era um petiz de palmo e meio e frequentava o ensino secundário. Vivia com o pai, funcionário do PS, numa casa da Câmara de Lisboa pagando 48 euros de renda.

Cedo percebeu que, se tirasse um curso superior, decerto acabaria como caixa de supermercado e, miúdo esperto, rapidamente deixou as aulas e se tornou, como o pai, funcionário partidário.

Estava lançado na vida.

Algum tempo depois rescindiu o contrato e, assim desempregado "por motivo de reestruturação, viabilização ou recuperação da empresa [o PS], quer por a empresa se encontrar em situação económica difícil", obteve do IEFP 40 mil euros de subsídios para a criação da sua própria empresa - que nem precisou de ter actividade - e do seu próprio posto de trabalho.

Meteu os subsídios ao bolso e arranjou "o seu próprio posto de trabalho" na Câmara de Lisboa a ganhar 3950 euros por mês como assessor político (o que quer que isso seja) de uma vereadora do PS.


O "Público", que traz a história do jovem Pedro, hoje com 26 anos e um grande futuro político pela frente, sugere que ela é ilegal e imoral.

Deixará de ser quando quem faz as leis fizer também a moral.

Não tardará muito..

Ir p'ro carvalho, mas sem v

CARLOS RODRIGUES LIMA (DN)


Quando um cabo da GNR, irritado com o facto de não ter conseguido uma troca na escala de serviço, se dirige ao seu superior, dizendo "não dá pra trocar, então prò c...", está a cometer um crime de insubordinação ou apenas a desabafar?

Este debate percorreu o Departamento de Investigação e Acção Penal (DIAP) de Lisboa e o Tribunal de Instrução Criminal, chegando, a 28 de Outubro deste ano, ao Tribunal da Relação de Lisboa, que encerrou o caso: o cabo não deve ser julgado, porque a expressão utilizada é um "um sinal de mera virilidade verbal".


Foi no dia 4 de Agosto de 2009 que, no gabinete do sargento da GNR que liderava um subdestacamento, o cabo solicitou uma troca de serviço com outro militar. Perante a recusa do seu superior hierárquico, tal como vem descrito no acórdão do Tribunal da Relação, o militar disse: "Não dá para trocar, então pró c..." E de seguida: "Se participar de mim, depois logo falamos como homens."


A situação em causa evoluiu para uma acusação pelo crime de insubordinação. Segundo uma procuradora do DIAP, "a palavra 'c...', proferida pelo arguido, na presença do seu superior hierárquico, de forma alguma, poderia constituir um mero desabafo, antes, indignado, pelo facto de o seu superior não permitir a troca de serviço, visou o arguido atingi-lo na sua honra e consideração".


"Então existe outro significado para a palavra, 'c...' em causa, dita naquele contexto, que não seja injurioso, ofensivo, de afronta, em relação à pessoa a quem é dirigida?", questiona a mesma magistrada.


Os juízes desembargadores Calheiros da Gama e o juiz militar major-general Norberto Bernardes tiveram entendimento diferente, mantendo a decisão do juiz de instrução que decidiu não levar o arguido a julgamento.


E para fundamentar tal decisão, os desembargadores fazem uma extensa análise da expressão "prò c..." que, no fundo, era o que estava em causa no autos. Concluíram que há contextos em que a utilização da expressão não é ofensiva, mas sim um modo de verbalizar estados de alma. Um pouco de história: "Para uns a palavra 'c...' vem do latim caraculu que significava pequena estaca, enquanto que, para outros, este termo surge utilizado pelos portugueses nos tempos das grandes navegações para, nas artes de marinhagem, designar o topo do mastro principal das naus, ou seja, um pau grande. Certo é que, independentemente da etimologia da palavra, o povo começou a associar a palavra ao órgão sexual masculino, o pénis."


Porém, continuam os juízes, "é público e notório, pois tal resulta da experiência comum, que 'c...' é palavra usada por alguns (muitos) para expressar, definir, explicar ou enfatizar toda uma gama de sentimentos humanos e diversos estados de ânimo. Por exemplo 'prò c...' é usado para representar algo excessivo. Seja grande ou pequeno de mais. Serve para referenciar realidades numéricas indefinidas ('chove pra c...'; 'o Cristiano Ronaldo joga pra c...'; 'moras longe pra c...'; 'o ácaro é um animal pequeno pra c...'; 'esse filme é velho pra c...')".


Mas há mais jurisprudência sobre a matéria: "Para alguns, tal como no Norte de Portugal com a expressão popular de espanto, impaciência ou irritação 'carago', não há nada a que não se possa juntar um 'c...', funcionando este como verdadeira muleta oratória."


Tendo presente tais considerações, mais o facto de se ter dado como assente que o cabo e o sargento - apesar da distância hierárquica - manterem uma relação de proximidade, sem muitas regras formais, a Relação de Lisboa decidiu não levar o militar a julgamento pelo crime de insubordinação.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Cem tribos continuam por descobrir no mundo

(por PEDRO VILELA MARQUES - DN)


Foi encontrada uma nova tribo no parque de Kugapakori Nahua Nanti, na selva amazónica do Peru. Este é um dos 15 grupos indígenas do Peru que vivem em auto-isolamento.

"É inacreditável que em pleno século XXI ainda haja populações que estejam à margem do mundo globalizado." O espanto do ministro da Cultura do Peru deve-se à descoberta de uma nova tribo no parque de Kugapakori Nahua Nanti, na selva amazónica do país. Mas a admiração de Juan Ossio será ainda maior por este ser apenas um dos 15 grupos indígenas do Peru que vivem em auto-isolamento e que nunca foram contactos pela "civilização". Segundo organizações internacionais no terreno, em todo o mundo, estima-se que cerca de cem tribos rejeitem contactos com o exterior. Estas são as pessoas mais vulneráveis do planeta.

Tal como a maioria dos grupos que ainda são desconhecidos, também o agora encontrado tem de fugir dos madeireiros e dos colonos que invadem o seu território. As provas da sua existência foram recolhidas durante uma expedição que durou mais de ano e meio - entre Janeiro de 2009 e Setembro deste ano - do Instituto Para o Desenvolvimento dos Povos Andinos, Amazónicos e Afro-Peruanos: lanças, flechas, recipientes de casca e bolsas feitas de fibra vegetal.

Os expedicionários, que criaram cinco postos de controlo nas fronteiras do parque, realizaram ainda vídeos e tiraram fotografias aos nativos e a pequenas cabanas feitas com ramos de palmeiras, estas já conhecidas das autoridades a partir de outros estudos.

Mas mais do que base para investigações, os postos de controlo visam sobretudo evitar que a reserva seja invadida por pessoas sem autorização, como madeireiros ou simples locais. Como aconteceu em Outubro na região de Madre de Dios, na fronteira com o Brasil, quando os indígenas feriram com uma lança um adolescente de 14 anos que invadiu o seu território.

Mais de um ano antes, novo exemplo dos perigos da colisão dos dois mundos, mas agora de sentido contrário: uma tribo peruana teve de fugir para o Brasil para escapar ao avanço dos exploradores de madeira.

"Todas estas pessoas enfrentam ameaças terríveis." A organização não governamental Survival International (Sobrevivência Internacional) alerta que, se nada for feito para as proteger, "estas tribos correm o risco de desaparecer completamente". Desde logo porque não têm imunidade contra as nossas doenças, o que, aliado à destruição do seu território, leva a Survival International a rotular estas populações como as mais vulneráveis do planeta.

"Tudo o que sabemos sobre estes indígenas isolados indica que eles procuram manter esse isolamento. Nas raras ocasiões em que são vistos, eles fazem questão de mostrar que querem ficar sozinhos", revela a ONG que luta pela preservação do território e estilo de vida de tribos em todo o mundo.

O que explica, por exemplo, a reacção de tribos como a que foi descoberta no ano passado, também na fronteira entre o Peru e o Brasil, que se mostrou hostil para com os invasores (ver caixa).

Entre as 15 comunidades peruanas que se mantêm complemente incontactáveis nas regiões mais remotas da selva amazónica estão as tribos cacataibo, isconahua, matsigenka, mashco-piro, mastanahua, murunahua, nanti e yora.

domingo, 14 de novembro de 2010

Emídio, o Cómico e Alberto, o Racista




«[…] em todo o território pátrio, hoje só resta um cidadão capaz de assim dedicar ao primeiro-ministro a devoção que dona Maria dedicava a Salazar. O seu nome é Emídio Rangel, e há que apreciar a frontalidade com que regularmente se expõe a jurar a honra e a competência do seu mentor espiritual. […]»


Eis, pois, o mundo às avessas, situação que define a perspectiva de Emídio Rangel em tudo, tudo, tudo o que envolve o eng. Sócrates. […]»

- Alberto Gonçalves, Sábado, 04.Nov.2010



«[…] Agora, tocou-me na rifa um tal Alberto Gonçalves, um escriba racista que passa boa parte do seu tempo a fazer vénias a Salazar, Hitler, Mussolini e a doutrinar sobre as virtudes das bíblias fascistóides. […]


Tudo visto e ponderado, eu já fiz umas coisinhas pelo País em que vivo, e o que é que fez o Albertinho do Norte, para além de se babar com a suas crónicas e perder tempo a lamber as botas dos directores dos jornais que caninamente serve e venera? * [...]


Oh Alberto, vá dar banho ao cão… ** e fique manso».



Emídio Rangel, Correio da Manhã, 13.Nov.2010


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Emídio Rangel no artigo acima (ver aqui) mostra o seu currículo de pretenso sucesso. Estranho que necessite de o fazer para se justificar.

O homem pode dar as piruetas todas que quiser que ninguém duvida de que aquilo de que ele acusa o Alberto Gonçalves é precisamente aquilo que ele faz ao Sócrates: lambe-botas rasteiro.

Não estranhem esta minha linguagem: é o menos que posso dizer educadamente a uma besta que, sem me conhecer, já me chamou hooligan

Um homem de convicções alheias

(Alberto Gonçalves - DN)

Se perguntam a Manuel Alegre pelo Orçamento, ele responde que o grave é que Cavaco Silva não se pronuncie a respeito.

Se perguntam a Manuel Alegre pelos juros da dívida pública, ele responde que o grave é que Cavaco Silva não tome uma posição.

Se perguntam a Manuel Alegre pelas horas, ele responde que o grave é Cavaco Silva não usar relógio a pilhas.




O grave, digo eu, é semelhante deserto opinativo ser candidato à presidência da República. É verdade que, numa rara aceitação dos seus limites, ele já avisou que um mandato basta para fazer o que quer. Acho que bastaria um dia.



Honestidade



(colhida no De Rerum Natura)

sábado, 13 de novembro de 2010

União Europeia...

Protesto, luto e reflexão


Anselmo Borges
(DN)

A sabedoria da história bíblica das vacas gordas e das vacas magras - armazenar no período da abundância para os tempos de dificuldade - há muito que foi esquecida entre nós. E aí está a crise, incalculável, na perplexidade, e sobretudo sem horizontes de futuro. Ninguém nos diz o que se pode razoavelmente esperar, depois de tanta crise e sacrifícios sem fim, e este é o perigo maior.


Há a crise mundial, uma imensa interrogação sobre o que ainda se chama União Europeia, a subordinação da política ao poder económico-financeiro. Entre nós, é tudo isto. Mas não só.

É certo que o País mudou, e nem tudo foi mau. A rede viária, por vezes até com excessos desnecessários - que interesses estavam em causa? -, permite comunicação rápida. Pôs-se fim ao analfabetismo. Há nichos de excelência na investigação e no ensino. Houve alguma mudança nas mentalidades, a convivência com outras culturas e religiões é boa. Grandes camadas da população viram o seu nível de vida melhorado.

Mas, depois, há perguntas que inevitável e desesperadamente se colocam, e todas, quando se pensa na situação presente e no que aí vem, convergem para esta: como foi possível chegar à beira do abismo em que nos encontramos?

Tem-se a sensação de que houve uma imensa ilusão, que desemboca, agora, na desilusão. Afinal, quando se devia fazer a transformação do aparelho produtivo, em geral não se fez. Pior: foram dados sinais aos portugueses de que estavam em vésperas de se tornarem ricos, de tal maneira que eles se puseram a consumir sem regra nem medida. Até se começou a dar reformas aos 50 anos! Os Bancos puseram os portugueses a engolir cartões de crédito, mesmo para fazer férias. Muitos pensaram que já nem era preciso trabalhar. Era evidente que a factura chegaria: como se poderia continuar a viver acima das posses?

Foram postergados valores como a honra e a família. Apesar dos tais nichos de excelência, a educação está envenenada. Que interesses foram satisfeitos, quando se permitiu a abertura indiscriminada de instituições de ensino superior? Quem se atreverá a dizer que a Justiça funciona? Quem porá termo ao roubo e à corrupção ao longo de três décadas? Como se chegou a tanta assimetria social? - mais de 20% da população trilham o caminho da pobreza, e muitos, da miséria, quando se sabe das remunerações escandalosas de gestores e da acumulação de reformas chorudas.

Em todo este tempo, com tantos Governos e políticos, quem se lembra de quantos verdadeiros estadistas? Serão os partidos instituições empregadoras? Nas campanhas eleitorais, há real propósito de esclarecer? É o trabalho pela causa pública e pelo bem comum que seduz a maioria dos políticos de carreira? Serão necessários tantos deputados e secretárias e motoristas? A quem servem as parcerias público-privadas e as consultadorias externas?

Fica-se atónito, quando se pensa, por exemplo, na desgovernação de projectos como o TGV, o aeroporto, auto-estradas, pagamento nas Scut. E as promessas? Ainda há meses, havia dinheiro para mais auto-estradas, TGV, novo aeroporto. E não haveria aumento de impostos. Estava tudo garantido por anos. De repente, cortes sem fim, um verdadeiro tsunami de impostos, que, para cúmulo, atinge sobretudo as camadas mais pobres. Será legítimo mentir em política ou ser incompetente? Mas que fique claro: as responsabilidades não são só das últimas legislaturas.

Anuncia-se uma greve geral. É preciso dar um sinal forte a todos, traduzido nestas palavras: protesto, luto, reflexão. Protesto contra a irresponsabilidade, mentira e injustiça. Luto, porque o essencial das decisões já vem de fora - Bruxelas, Berlim, FMI. Reflexão: para onde queremos ir?

Mas, quando se reflecte mesmo e se pensa na actual situação e, por exemplo, na teatralização inquietante da vida político-partidária, assalta-nos esta pergunta terrível: onde está a alternativa? Este é o drama e o perigo.

Eles lamentam

(JN)

Almeida Santos, presidente do PS, lamenta, referindo-se às medidas recessivas do OE para 2011, que o Governo, por ter feito "aquilo de que o país precisa" (palmas) "[vá] perder popularidade, [vá] perder votos, porventura [vá] perder o poder".

Há mais gente, a crer nos jornais, que também lamenta. Jardim, por exemplo, lamenta que o Estado seja "ladrão". E Manuela Ferreira Leite, lamenta que estejamos (sinal da Cruz) a viver "um espírito de PREC". Quando as coisas correm mal a factura acaba sempre, mesmo quase 40 anos depois, por cair em cima de Vasco Gonçalves...

O Estado é um "ladrão" e o assustador fantasma do PREC levantou-se do túmulo para assombrar Jardim e Ferreira Leite porque um e outro não poderão, a partir de Janeiro, continuar a acumular a cornucópia de pensões e salários que recebem do Estado. Ora, esclarece Ferreira Leite, "se recebem é porque trabalharam" e trabalham (o que, como se sabe, não acontece com os funcionários públicos nem com os idosos com pensões de miséria congeladas).

Nem Almeida Santos, Ferreira Leite ou Jardim lamentam, até onde é visível a olho nu, que, como denunciam os bispos, haja quem acumule "remunerações, pensões e recompensas exorbitantes" quando "ao lado estão pessoas a viver sem condições mínimas de dignidade". Isso, para Almeida Santos, é "aquilo de que o país precisa" e, para Ferreira Leite, um "tratamento inevitável". Não é caso para lamentos.

Os mercados zombeteiros


Parece que os mercados andaram a gozar com o nosso Ministro das Finanças. Ele disse que o limite eram os 7% de juros e logo os mercados esticaram a corda até esse limite. E andou o ministro a cortar salários, a reduzir pensões, a retirar abonos, a limpar subsídios e a aumentar impostos para compadecer os mercados, e os mercados, nada. Puseram-se no gozo.



E veio o nosso Presidente pedir para não afrontar os mercados, e vieram os nossos milhentos Nóbeis em economia explicar o comportamento dos mercados, vieram os jornalistas perdoar-lhes as diatribes, vieram os políticos prescrever receitas para os acalmar, até os nossos juízes abriram os olhos para ver os mercados, e nem sequer o Ministério Público os acusou. E os mercados, nada. Gozaram com todos.


A divindade anda desenfreada porque tem amigalhaços poderosos. As bocas da senhora Merkel ajudam imenso e o senhor Sarkozy diz que sim. Ninguém tem culpa dos traumas de infância da senhora Merkel e dos amores do senhor Sarkozy, ambos nas tintas para o poder dos Estados e cada vez mais rendidos à volúpia do Mercado. E o Deus Mercado impera.


O problema é que essa divindade perante a qual ajoelhamos deu agora em gozar connosco. Com isso, desceu do altar e mostrou que é tão humana como a senhora Merkel, o senhor Sarkozy ou o nosso Ministro das Finanças. Mas quando é essa divindade desenfreada, improdutiva e zombeteira que nos governa, é porque algo está podre no Reino da Dinamarca.

J. L. Pio Abreu (Destak)





sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Avaliação dos professores

Ainda há alguém que acredite nesta palhaçada?

O pseudo-PS, o pseudo-engenheiro José Sócrates e a pseudo-ministra da educação Lurdes Rodrigues intoxicaram toda a gente com mentiras (anda, Zé Sócrates, processa-me!) que não havia avaliação, que os culpados da ignorância quase geral dos portugueses eram os professores, etc..

E o que se vê, melhor quem vê para além do grande líder, é que o facilitismo está instalado e o que importa é ter diplomados, com oportunidade ou nem por isso para os mais velhos e com passeios ao colo para os mais novos. E quanto ao saber, à competência, ao conhecimento? Não interessa para nada! O que importa é ter o diploma final! Os alunos que sabem, que aspiram a bons empregos ou a continuar as odisseias familiares estão no ensino privado. Alguns pagam mais por mês do que o salário mínimo nacional (então, Zé, processas-me ou não?). Quantos exemplos queres?

Pois é, Zé! Achaste que os professores é que eram as bestas dos portugueses. Estiveste e estás muito enganado, homem! Agora precisavas deles para te ajudar a resolver as asneiras que fizeste! Sei que tu e os teus seguidores não gostam destas comparações, mas elas existem e são legítimas: Salazar também não queria um povo culto!

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Segurar a escada


Ideias são bens escassos e o seu preço andaria pela hora da morte acaso tivessem procura.


Ora Passos Coelho pertence a uma espécie dotada de um cérebro frenético que segrega permanentemente ideias como o fígado segrega bílis (a formulação de Cabanis tem séculos, mas é perfeitamente actual no caso de Passos Coelho). A sua última ideia, depois do colorido ramalhete de novíssimas ideias, também com séculos, da proposta de revisão constitucional, é prometedora: responsabilizar criminalmente os políticos - Passos Coelho pensa obviamente em Sócrates - que tenham gerido ruinosamente a coisa pública.


A perspectiva de ver metade do país, de presidentes de junta de freguesia a ministros e primeiros--ministros, metida na cadeia é, convenhamos, excitante, e capaz de levar ao êxtase o taxista que existe em cada português. Deve ter ocorrido a Passos Coelho quando, no Curso Rápido de Primeiro-Ministro que estará a frequentar nas Novas Oportunidades, alguém lhe falou de uma lei de 87, assinada por Cavaco como primeiro-ministro, sobre "crimes da responsabilidade de titulares de cargos políticos", designadamente em matéria orçamental.


Talvez, no entanto, Passos Coelho devesse recordar a sua cumplicidade não só no PEC II como, agora, no Orçamento para 2011 e pensar duas vezes antes de ter ideias. Porque, como dizem povo e Código Penal, tão ladrão é o que entra pela janela como o que segura a escada.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Desabafo inconveniente...

Alguém conhece um beneficiado pelas benesses do PS e do seu governo como, por exemplo, corte de vencimento, corte de apoio à família, corte de apoio à educação, etc. (e só não é mais por causa dos cortes do PS e do governo na saúde e já não há mercúrio-crómio para desinfectar esses cortes...)?

Alguém conhece um político do governo e do PS que esteja com dificuldades económicas (está bem! está bem! há aquele cromo de deputado que já deve estar na sopa dos pobres)?

Deve custar a ouvir a alguns ouvidos pseudo-virgens: é tão fácil governar com o dinheiro, cada vez menos, dos outros!...

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Novas oportunidades

David Marçal, no Inimigo Público

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

A sala dos professores


JN, 5 de Novembro de 2010




Eu sei que, hoje, ser professor é profissão de risco. Mas estranhei aquele letreiro, à entrada da sala dos professores, "É expressamente proibido os alunos incomodarem os professores durante os intervalos." Se calhar foi aquele "expressamente proibido", ou aquele "incomodarem", não sei, alguma coisa naquela frase me fez, de repente, reviver os meus 20 anos, quando trabalhei com o prof. Calvet de Magalhães - um dos grandes pedagogos deste país.

Era director da Escola Francisco Arruda, um modelo único de experimentação de metodologias e de integração na comunidade.

Aos sábados, abria as portas da escola - e ela enchia-se de miúdos dos bairros de lata ali em volta, que sabiam que naquele dia tinham ali à sua disposição gente que lhes contava histórias, ou artesãos que lhes explicavam os seus ofícios, ou música, ou ateliers de modelagem, ou xadrez.

Foi no "Diário de Lisboa" que conheci o prof. Calvet de Magalhães, a organizar "O Natal Visto pelas Crianças" - um concurso destinado a todas as escolas do país, com uma aceitação que se traduzia em caixotes e caixotes de trabalhos que as escolas mandavam.

Eu estava então a iniciar-me no jornalismo, e dava-lhe o apoio necessário.

Um dia, de repente, o prof. Calvet de Magalhães disse-me: "Sábado vais ler histórias aos miúdos da minha escola". Passei aquela semana em pânico (estava tão longe de um dia vir a escrevê-las!) e nunca esquecerei aquela sensação de me ver em cima de um palco diante de um salão a abarrotar de malta da pesada...

Mas aguentei-me.

E todos os sábados lá voltava.

Foi nesses anos que entendi o que era ser professor. A dedicação, a disponibilidade permanente ("a porta do meu gabinete nunca se fecha, porque nunca sabemos quando um miúdo precisa de nós"), o gosto pelo trabalho que se faz, até o sentido de humor: uma sineta, à entrada da escola, avisava: "Se o progresso falhar, lembrem-se de mim"

Lembrei-me de tudo naquele dia, ao ler o aviso na sala dos professores.

E tive muitas saudades do prof. Calvet de Magalhães.

SEXO E PODER


(Ruby Rubacuore, alias Karima El Mahrou)


O jornal El País de 24 de Outubro, com base no recente Relatório da Economia Mundial do FMI, divulgou a nossa posição no ranking mundial do crescimento económico (medido em percentagem de aumento do PIB) na década passada. Em 180 nações, o nosso lugar é o antepenúltimo (com 6,5 por cento), só ficando atrás de nós a Itália (2,4 por cento) e o Haiti (-2,4 por cento, o único que decresce). Um artigo intitulado "A década perdida de Itália e Portugal" informava que a dívida pública portuguesa ronda os 80 por cento do PIB ao passo que a de Itália se aproxima dos 130 por cento.

Piores que nós parecem, portanto, estar, a avaliar por esses indicadores, os italianos. Mas estarão preocupados com isso? Bem, o assunto em Itália, por estes dias, não é a economia, mas sim a vida sexual do primeiro-ministro Sílvio Berlusconi. Funciona como uma cortina para tapar a crise. Já tinha havido uma sua relação mal esclarecida com uma menor de Nápoles, que lhe custou o divórcio (a esposa censurou os “pais que oferecem as suas virgens ao imperador”). E já tinha havido uma relação bem esclarecida, esclarecida até demais, com uma prostituta de luxo de Bari, a quem Il Cavaliere não se coibiu de recomendar técnicas sexuais. Mas agora foi anunciado o caso de uma menor de origem marroquina, Karima El Mahroug, refugiada na Sicília, que, tendo rumado ao Norte em busca da fama que só a televisão e a moda podem dar, acabou por entrar na rede que alimentava as casas do chefe de governo de Itália e por participar em festas que a própria designou como bunga-bunga referindo-se a orgias rituais africanas. Pelos escritos dos autores clássicos sabemos que Nero e Calígula terão cometido os seus excessos. Pelos jornais de hoje sabemos que Berlusconi os quer ultrapassar.

O escândalo que enche as bocas do mundo mostra que a mistura de sexo e poder é, em certas proporções, explosiva. Ora vejamos.A marroquina, de nome artístico Ruby, viu-se em apuros financeiros, apesar de ter sido paga com dinheiro e jóias pelas suas visitas à casa de Berlusconi em Milão, e terá roubado uma companheira brasileira. Tudo não passava de um mero caso de polícia, que estava a ser tratado na esquadra, quando um telefonema do próprio primeiro-ministro exigiu a libertação da detida, alegando que ela era sobrinha do presidente egípcio Mubarak. A jovem, apesar de estar em situação ilegal, não tardou em ser libertada, tendo sido entregue a uma pessoa de confiança de Berlusconi. A justiça procura agora averiguar os factos. Instado pela imprensa a esclarecer, o chefe do governo italiano não esteve com papas na língua ao comentar: “É melhor gostar de mulheres bonitas do que ser gay”. E admitiu ter ajudado a garota. Não é preciso saber muito de história para reconhecer que, no que respeita aos costumes, há um recuo relativamente aos antigos imperadores, que tanto gostavam de mulheres como de rapazes bonitos. Mas ressalta a retórica política: Berlusconi já tinha dito que quem não era por ele era contra Itália, agora diz que quem não é por ele é homosexual.

Portugal tem, na economia, óbvias parecenças com Itália. Tem-nas decerto, além da estagnação do PIB e do crescimento da dívida, nas assimetrias regionais (em Portugal a diferença é mais entre o Litoral e o Interior do que entre o Norte e o Sul, para já não falar do desmesurado centralismo da capital) e na corrupção ao mais alto nível (um deputado do PS revelou que o chefe de gabinete do secretário-geral do partido lhe ofereceu um cargo bem remunerado numa empresa pública a troco da desistência numa eleição). Mas na mistura de sexo e poder não conseguimos competir. O Presidente do Governo Regional da Madeira, talvez o político nacional mais parecido com Berlusconi, desfila mascarado no Carnaval, mas não faz, que se saiba, festas bunga-bunga. É certo que há escabrosas histórias sexuais no futebol, mas o Presidente do Porto, a quem não faltam semelhanças com o Presidente do Milão (Berlusconi, para quem não saiba), não tem a mesma ambição política. A nossa situação é má, mas podia ser pior...

Carlos Fiolhais (in Público e De Rerum Natura)

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Amigos para sempre



Eu também viabilizo o Orçamento porque ele é, como a dra. Ferreira Leite diz (e quem não salta não é da malta), um testamento, perdão, um "tratamento inevitável".


Concordo com a redução dos salários dos funcionários públicos (até porque não sou funcionário público), com o fim ou diminuição das prestações sociais, sobretudo as que atingem os desempregados e os mais pobres (também não sou desempregado nem pobre), com o aumento do IVA, do IRS e do IRC (desde que isso não afecte os bancos nem a Mota Engil), com o fim das deduções fiscais, e com todas as mais medidas recessivas, pois isso agrada aos "mercados" e fará o milagre da multiplicação do capital e do investimento estrangeiro, já que o capital e o investimento estrangeiro gostam de pobres e mal pagos e nós ainda não somos suficientemente pobres nem suficientemente mal pagos.


E se os "mercados" estiverem a ouvir que saibam que, como quer a dra. Ferreira Leite, "somos todos amigos" de peito, desempregados, pobres, idosos com pensões congeladas, crianças sem leite e sem Abono de Família, o eng.º Sócrates, o dr. Teixeira dos Santos, a própria dra. Ferreira Leite e os 4 Cavaleiros do Apocalipse, os drs. & engºs. Salgado, Faria de Oliveira, Ferreira e Ulrich, e muitos mais, "tantos que nunca pensei que a morte tivesse levado tantos". Ouçam, "mercados", somos nós, de mãos dadas, a cantar: "Fui ao Jardim da Celeste, giroflé, flé, flá".

Que chatice!...

(Imagem apanhada em http://guiamacabu.com.br)

Lucros dos cinco maiores bancos portugueses(*) caíram para 4,6 milhões de euros por dia



(*) BES, BCP, BPI, CGD e Santander Totta

Leram bem. Lucros. Bancos portugueses. 4 600 000 € por dia.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Justiça na repartição dos sacrifícios

Defende Cavaco Silva que tem de haver:

justiça na repartição dos sacrifícios”.


Não sei o que o prof. Cavaco prefere: se ele (mais a família) vir viver comigo  ou eu (mais a família)  ir viver com ele.

Poema do alegre desespero

Motivado pelo blogue "De Rerum Natura", deixo o "Poema do alegre desespero", do grande professor e poeta, Rómulo de Carvalho ou António Gedeão. Segundo este blogue: " Sendo Rómulo de Carvalho professor, percebia claramente que o conhecimento tem valor, e estava consciente de que a função de quem ensina é transmiti-lo, fazendo-o renascer, fazendo-o servir... para que a herança da Humanidade possa ser preservada, revista, acrescentada."






Compreende-se que lá para o ano três mil e tal


ninguém se lembre de um certo Fernão Barbudo


que plantava couves em Oliveira do Hospital,


ou da minha virtuosa tia-avó Maria das Dores


que tirou um retrato toda vestida de veludos


sentada num canapé junto de um vaso com flores.


E até mesmo que já ninguém se lembre que houve três impérios no Egipto


(o Alto Império, o Médio Império e o Baixo Império)


com muitos faraós, todos a caminharem de lado e a fazerem tudo de perfil,


e o Estrabão, o Artaxerxes, e o Xenofonte, e o Heraclito,


e o desfiladeiro das Termópilas, e a mulher do Péricles, e a retirada dos dez mil,


e os reis de barbas encaracoladas que eram senhores de muitas terras,


que conquistavam o Lácio e perdiam o Épiro, e conquistavam o Épiro e perdiam o Lácio,


e passavam a vida inteira a fazer guerras,


e quando batiam com o pé no chão faziam tremer todo o palácio,


e o resto tudo por aí fora,


e a Guerra dos Cem Anos,


e a Invencível Armada,


e as campanhas de Napoleão,


e a bomba de hidrogénio,


e os poemas de António Gedeão.


Compreende-se.


Mais império menos império,


mais faraó menos faraó,


será tudo um vastíssimo cemitério,


cacos, cinzas e pó.


Compreende-se.


Lá para o ano três mil e tal.


E o nosso sofrimento para que serviu afinal?

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Como fazer os ricos pagar a crise

(por Pedro Tadeu - DN)



A pantominice a que assistimos a semana passada entre o PS e o PSD acerca da aprovação do Orçamento do Estado resume-se numa discussão agiota sobre a melhor maneira de sacar dinheiro aos pobres, condenados sem apelo a pagar a crise dos ricos.

Nem José Sócrates nem Pedro Passos Coelho discutem o fundamento da questão, presos, por um lado, à sua convicção ideológica de que falar em economia de mercado é o mesmo que falar em especulação financeira e, por outro lado, amarrados à dependência do eixo Paris-Berlim que o provincianismo crónico e a pedinchice acumulada de subsídios à União Europeia atou em torno dos líderes portugueses. Estão, portanto, juntos num programa de solução da crise que passa por aumentos de impostos sobre a classe média, aumento de desemprego, redução de salários na função pública, redução perigosa da actividade do Estado e paragem das obras públicas. Variam as quantidades dos ingredientes da receita, mas o prato que servem é o mesmo.

E, para nos convencerem, ameaçam-nos com a vinda do FMI, o que, sinceramente, ainda era o mal menor, pois, se o que vai passar-se é um assalto ao bolso do contribuinte, ao menos que o controlo do dinheiro não passe pelas sanguessugas dos grandes partidos que andam a roubar o Estado.

Há outra solução? Há. Via-a pintada nas paredes de Lisboa em 1975. Os ricos que paguem a crise! Como? Nacionalize-se! Nacionalizem-se os bancos que nos meteram neste sarilho. Nacionalizem-se as brisas que exploram as scut desta vida. Nacionalizem-se as estranhas empresas com gestão em parceria pública e privada. Nacionalizem-se os quase monopólios como a Galp, a Refer, a CP, a EDP e eu sei lá que mais. Nacionalize-se tudo o que se diz que é empresa privada mas que, na verdade, vive à conta dos subsídios do Estado.

Aposto, ao tomar posse de todo esse património, que iríamos ter de um dia para o outro um Estado a nadar em dinheiro e até fariam fila os financiadores cheios de vontade de nos emprestar mais dinheiro. Impediam-se os despedimentos em massa, as reduções de salários e os aumentos de impostos.

Depois, em dois ou três anos, era atirar ao rio as clientelas partidárias que navegam por essas empresas, fazer a selecção do que deve continuar a ser público e reprivatizar o que fosse sensato. Crise resolvida.

Ainda nem acabei de escrever e já imagino o ruído: "Socialismo! Comunismo! Pecado! Pecado! Loucura! Loucura! Estupidez! Estupidez." Pois, talvez seja isso tudo... E o que se passou nos últimos tempos, foi um pecado menor que este? Foi uma loucura menor que esta? Foi uma estupidez menor que esta?...