quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Segurar a escada


Ideias são bens escassos e o seu preço andaria pela hora da morte acaso tivessem procura.


Ora Passos Coelho pertence a uma espécie dotada de um cérebro frenético que segrega permanentemente ideias como o fígado segrega bílis (a formulação de Cabanis tem séculos, mas é perfeitamente actual no caso de Passos Coelho). A sua última ideia, depois do colorido ramalhete de novíssimas ideias, também com séculos, da proposta de revisão constitucional, é prometedora: responsabilizar criminalmente os políticos - Passos Coelho pensa obviamente em Sócrates - que tenham gerido ruinosamente a coisa pública.


A perspectiva de ver metade do país, de presidentes de junta de freguesia a ministros e primeiros--ministros, metida na cadeia é, convenhamos, excitante, e capaz de levar ao êxtase o taxista que existe em cada português. Deve ter ocorrido a Passos Coelho quando, no Curso Rápido de Primeiro-Ministro que estará a frequentar nas Novas Oportunidades, alguém lhe falou de uma lei de 87, assinada por Cavaco como primeiro-ministro, sobre "crimes da responsabilidade de titulares de cargos políticos", designadamente em matéria orçamental.


Talvez, no entanto, Passos Coelho devesse recordar a sua cumplicidade não só no PEC II como, agora, no Orçamento para 2011 e pensar duas vezes antes de ter ideias. Porque, como dizem povo e Código Penal, tão ladrão é o que entra pela janela como o que segura a escada.

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