terça-feira, 23 de novembro de 2010
A miséria "em directo e exclusivo"
Não fosse uma notícia do JN e talvez nunca tivesse tomado consciência de que a ajuda alimentar estrangeira não abrange apenas países terceiro-mundistas, como a Somália ou o Haiti. Afinal, Portugal também pertence ao número dos "desgraçadinhos". Em 2009, quase 100 mil famílias nossas andaram às sopas de Bruxelas. O meu orgulho nacional foi-se abaixo! Depois disso, quase não me beliscou o brio patriótico vir Timor-Leste oferecer-se para comprar parte da dívida nacional. Será o roto a ajudar o nu, mas por que não?...
E que não se fale na crise internacional! Porque há muito que quase meio milhão de portugueses vive da caridade de misericórdias, igrejas e outras. Só que dessas pouco se fala, pois praticam a máxima cristã de não saber a mão esquerda o que dá a mão direita.
A quem tanto bem espalha, juntou-se a TVI, através de um programa ("em directo e exclusivo"...) que paga umas continhas a gente que em troca se sujeita a fazer palhaçadas. E, indo mais longe, o programa criou um apêndice que me deixou estarrecido a única vez que o vi. Apresentaram-nos um casal que vive com poucos euros, passa fome e teve os electrodomésticos estragados pela chuva. Durante largos minutos, o casal - ela lavada em lágrimas, ele com ar contristado - foi exibido para uma plateia de lágrima ao canto do olho e para milhares de telespectadores a fungar de comoção. No final, recebeu quatro carrinhos com comida, oferta (e publicidade...) de um hipermercado, e electrodomésticos, oferta (e publicidade...) da TVI. Em suma: a miséria patenteada sem o mínimo pudor, os pobres expostos na jaula de um zoo de caridade! Um país que admite um espectáculo público tão degradante afinal talvez mereça ser colocado, aos olhos de Bruxelas, no nível da Somália ou do Haiti...
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Este blogue é gerido por Zé da Silva.
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