quinta-feira, 19 de maio de 2011

Nunca mordas a mão que te estendem



Por estes dias, o refrão tem sido tantas vezes entoado que fica mesmo no ouvido. Dizem muitos políticos, mais uma mão-cheia de economistas, que andámos demasiado tempo a fazer vida de ricos e, agora, pagamos as favas. Quem se habituou a acreditar em todas as histórias que lhe contam, terá pensado: "Desta vez é que é! Os nossos dirigentes políticos vão fazer um bom negócio com o FMI e a União Europeia, para nos livrarem do sufoco". E assim tem sido, a bem da nossa Nação.
Primeiro, José Sócrates anunciou, com um senhor grisalho ao lado que se sabe ser ainda ministro das Finanças, o que não está no acordo com a "troika" (triunvirato, corrigirá Paulo Portas, um purista da língua). Não está nem a guilhotina, nem a injecção letal, quanto mais a forca. Está o PEC IV, mais coisa menos coisa. O povo respirou de alívio. Se só está o PEC IV, cantam os amanhãs. Vamos ter rancho melhorado e férias de dois meses por ano no Rio de Janeiro.

Vieram depois as negociações - desculpe o leitor a força da expressão - conduzidas pelo Governo. O pacote é tão bom, tão bom que os partidos do "arco da governação" (pensava-se, ingenuamente, que eram o arco da Oposição) acotovelaram-se para ver quem o subscrevia primeiro. PSD e CDS trataram de reivindicar para si um quinhão de influência no resultado final, as tais medidas que teremos de cumprir para que nos emprestem dinheiro. A ver vamos se assumem a paternidade da criança quando ela "crescer"...




Tão concentrados andavam o Governo e aqueles partidos a assinar hipotecas que a nenhum deles ocorreu perguntar - sem ofensa, claro - qual seria a taxa de juro da fatia europeia do empréstimo. É certo que não devemos morder a mão que nos estendem, mas era impertinência pôr a questão do custo real do dinheiro que Bruxelas, generosamente, nos vai disponibilizar?

Era, pelos vistos, que a gratidão não se compra e detalhes como esse tratam-se no fim, entre dois charutos, na sala de fumo. Como os novos ricos que descobrem a paixão pelo mar e encomendam um iate, sem olhar ao preço. Vão os juros a 6%? É a vida, como diria o engenheiro Guterres. Depois não digam que o mau da fita é o FMI...

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