domingo, 17 de abril de 2011

Uma semana deprimente

(JN)


Fernando Nobre é capaz de ter razão: ou chega a presidente do Parlamento ou não está interessado no lugar de deputado. Afinal de contas, ao estado a que coisas chegaram, ou há um tacho como deve ser ou de que vale um lugarzito de deputado, possivelmente - atendendo à experiência do dito - na terceira ou quarta fila, sem mordomias e condenado à mais pura penumbra?


Eu não sei se Passos Coelho contava com esta reacção do independente e crítico dos partidos, que convidou para cabeça-de-lista de Lisboa. Seguramente que não, pois Passos teve educação democrática e sabia que apenas lhe poderia oferecer a honra de ser candidato. Mas Nobre quer mais. A maioria de nós já percebeu que os deputados não vão estar pelos ajustes e mesmo no PSD não serão muitos os que estarão dispostos a ceder ao capricho do candidato e menos ainda os que se reverão num presidente, num democrata deste calibre.



Apesar de dos fracos não rezar a História, o fenómeno Nobre salvou, pelas piores razões, a semana. De resto, além da chegada do FMI, o que a semana mostrou torna tudo mais deprimente.

Do Bloco e do PCP, não havendo nada para "protestar contra", nada a registar.

Do PP, não tendo ainda começado a campanha eleitoral, vem um silêncio que revela o bom senso de quem se perfila para ser parte da solução e não arrisca falar de mais.

Do PSD, o que se ouve causa espanto, mas justifica o recuo nas sondagens. Afinal, ao contrário do que foi dito e apresentado como razão para chumbar o PEC, Passos teve um encontro com Sócrates para discutir o pacote de austeridade. Repare-se nisto: quando Passos protestou por não ser ouvido, a maioria de nós deu-lhe razão; afinal de contas, ele dispusera-se a aprovar outros pacotes de austeridade e era credor de uma palavra do primeiro-ministro. Quando revelou que se tinha encontrado com Sócrates, a maioria das pessoas devolveu-lhe as acusações de pouca seriedade que tem dirigido ao primeiro-ministro, só não se percebendo por que ficou Sócrates calado e acabou por ser o próprio Passos a dar conta do encontro numa entrevista na televisão. A quem interessam os silêncios e estas imprecisões? Mas a semana do PSD correu mal também por causa de Fernando Nobre e pelo pouco entusiasmo que a revelação de outros independentes provocou. Dá-se o caso de os independentes escolhidos para cabeças-de-lista serem pessoas muito mediáticas, quando se esperaria que a colheita pelos independentes abarcasse gente competente sim, mas também em áreas menos expostas aos holofotes da Comunicação Social e capazes de contributos mais diversificados para as áreas em que o país está mais necessitado. O PSD deu a imagem de quem necessita de se aproveitar do brilho alheio.

O PS também deu a sua parte para esta semana tão pouco estimulante. O partido teve o seu congresso kimilsunguista que serviu seguramente a necessidade de se mostrar unido em torno de Sócrates mas não deu respostas a nenhum dos problemas que o país tem para vencer. O dia 23 de Março, em que o PEC foi chumbado, será recordado, como Sócrates tem repetido, como um dia triste em que uma decisão incompreensível levou à queda do Governo. Mas a situação deficitária de Portugal começou antes, muito antes disso e os socialistas não perderam muito tempo com essa questão, como se ela fosse menor.

Cavaco Silva não está, como prometeu, mais interventivo. Continua a assistir à evolução da crise como qualquer de nós (Jorge Miranda explicava esta semana, no JN, como o presidente poderia e deveria ter intervindo). Mas é o presidente mais digital da nossa história, e tornou-se fã do Facebook. Interessa-me pouco quantos amigos tem ou a quem dá os seus "gosto", mas este lado mais urbano do rural Cavaco não o torna seguramente nem um presidente melhor nem um presidente mais próximo.

Enfim, as propostas dos partidos para a campanha não tardarão. Assim que o FMI traçar os contornos da austeridade que nos vai impor, ficaremos a saber a margem que resta para os partidos. Seguramente pouca. Muito pouca.

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