quarta-feira, 20 de abril de 2011

O negócio




1 - Começou em 75, subiu para 90, diz-se agora que será de 110. É de milhares de milhões que se fala, quando o assunto é o resgate do país. Números e negócios demasiado complexos para o cidadão, e portanto tratados no segredo dos gabinetes. Na verdade, não nos importamos, temporariamente distraídos com um Verão fora de época e com os êxitos do futebol.


Mas chegará rapidamente o dia em que nos subirão de novo os impostos para, em contrapartida, nos oferecerem piores escolas e piores hospitais. Falta pouco para que as pensões superiores a 1500 euros sejam alvo de um imposto especial, para, em troca, aumentarem o preço dos medicamentos de todos os pensionistas. Em poucos meses, a recessão provocará a falência de mais empresas e destruirá ainda mais empregos, mas, em compensação, as que sobreviverem poderão fazer despedimentos mais baratos.



É este o cenário que se avizinha, quem quer que vença as eleições. São o FMI, a Comissão Europeia e o BCE quem decide o valor do resgate e o preço a pagar. Sendo que o preço se divide entre as medidas de austeridade já descritas e um grande monte de notas. Basta fazer um exercício simples para perceber a dimensão do negócio: se de repente nos colocassem 100 mil milhões nas mãos e nos cobrassem uma taxa "simpática" de 5%, ao fim de um ano, para além de devolver os 100 mil milhões, ainda teríamos de pagar 5 mil milhões de euros de juros. É só multiplicar isto por três, quatro ou cinco anos. Ou seja, esta coisa de "ajudar" países falidos não é tão má como os finlandeses a pintam. Estou com o ministro Silva Pereira, faça-se tudo longe da praça pública, não vão os contribuintes portugueses lembrar-se de contestar o negócio.

2. Quem é mais competente deve ser mais bem pago. Quem tem mais responsabilidade, mais qualificações, quem trabalha mais horas, corre mais riscos, é mais criativo deve ser mais bem pago. A maioria das pessoas não rejeita distinções no mundo laboral e que elas se reflictam nos salários. Mas se não choca que haja diferenças, choca a amplitude que essas diferenças podem ter.

Concretizemos: Zeinal Bava (PT) recebeu, em 2010, quase um milhão e meio de euros de salário. Recebeu tanto como 208 pessoas que recebem o salário mínimo nacional (485 euros). O termo de comparação é miserável? Pois, mas é o nosso padrão. E que dizer de António Mexia (EDP) que oscila entre o salário de 451 pessoas (três milhões de euros) e de 155 (mais de um milhão de euros), dependendo de ser ano de receber prémio ou não? Apresenta excelentes resultados, mas convém descontar o facto de gerir uma empresa que vive uma situação de quase monopólio. E Alexandre Soares dos Santos, que, para além dos lucros a que terá direito, como accionista da Jerónimo Martins, paga a si próprio uma remuneração equivalente a 193 pessoas com o salário mínimo? Será que se lembra de quanto ganha quando denuncia que há casos de fome entre os trabalhadores das suas empresas?

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