quarta-feira, 27 de abril de 2011

A táctica


Carlos Abreu Amorim - DN

1. As sondagens da pré-campanha mostram o PS e o PSD muito próximos. Tal parece espantar muitos dos que persistem em presumir a política como uma equação eminentemente racional, informada e clarividente - na verdade não o é, poucas vezes o foi e, entre nós, costuma ser precisamente o contrário. Goste-se ou não, grande parte das opções eleitorais são emocionais, baseiam-se em sensações quase sempre imprecisas, em medos não resolvidos e estados de alma mais ou menos efémeros. E, claro, muitas das decisões dos eleitores recostam-se nas universais lições de sugestão, mais propriamente de condicionamento político, neles entranhadas sem o saberem, extraídas das experiências de Ivan Pavlov (que Estaline tanto apoiou), ainda que adoçadas com novas embalagens...


Hoje é inegável que o partido de Sócrates tinha tudo preparado para as eleições. Os seus adversários, nem por isso. Os socialistas conjecturaram, planearam e agora limitam-se a executar um roteiro redigido há vários meses (talvez o seu Plano C ou D), mais ou menos quando perceberam que Portugal se estava irremediavelmente a afundar na indigência financeira e que ficaria sem capacidade de cumprir os seus compromissos, externos e internos, em meados de 2011. Só lhes escapou a recusa do PSD em afiançar o PEC IV e a necessidade precoce do pedido de ajuda externa - tudo deveria acontecer após as legislativas antecipadas e não antes.



2. Não é essencial para os seguidores de Sócrates ganhar as eleições nas actuais circunstâncias. Aliás, alguns de entre os mais lúcidos, computando a insuperável inépcia governativa do seu chefe, devem preferir que os tempos complicadíssimos que aí vêm conheçam um governo privado a sua presença. O plano oficial é outro: tornar Portugal politicamente ingovernável, tentando forçar na mente dos votantes em eleições futuras a tese de que não existe ensejo de alternativa a Sócrates senão o propriamente dito. Se as sondagens até agora arremessadas constituírem algo mais do que armas "eleiçoeiras", o PSD poderá não conseguir a maioria absoluta mesmo com o CDS. E ninguém no seu juízo perfeito considerará uma aliança com alguém como Sócrates - a má experiência dos PEC, com o primeiro-ministro, compulsivamente, a tentar inculpar o PSD das medidas mais antipáticas foi esclarecedora para todos os quadrantes políticos.

Contudo, o triste estado do País exige uma maioria, porventura ainda mais alargada do que a absoluta. Sócrates nunca o consentirá - sabe bem que a sua sobrevivência política depende disso e o País e os seus problemas só lhe merecem a atenção necessária ao abastecimento dos seus interesses. Sócrates moldou o seu PS para que este possa constituir uma força de bloqueio a qualquer esforço de entendimento político ampliado que seja capaz de desatar alguns dos muitos nós que paralisam Portugal ao mesmo tempo que se cumprem os rigores da austeridade.

Os grandes obstáculos para a união de esforços que quer salvar o País são, sem dúvida, José Sócrates e o seu PS domesticado.

Sócrates quer comprovar que não existe hipótese de solução nacional sem Sócrates - de preferência, sozinho...

Também isso está em jogo no próximo dia 5 de Junho.

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