terça-feira, 19 de abril de 2011

A escolha



Durante o fim-de-semana [8/9] , o PS fez o seu congresso em clima de campanha eleitoral. Depois de dias antes ter dito "eu ou o FMI", Sócrates passou à versão do "eu com o FMI".


E, como é seu hábito, tentou alijar as responsabilidades da sua governação, justificando que a culpa de tudo o que sucedeu se deve à irresponsabilidade da Oposição, e garantindo que se o PS ganhar as eleições irá continuar a apostar no reforço do Estado social e a recusar as políticas neoliberais da Direita. Ora, por muito que Sócrates recorra, agora, a Ferro Rodrigues e a outros esquerdistas do PS, o país sabe que esse Estado social não será condenado à morte pela Direita pelo simples facto que já pereceu às mãos da governação socialista...

Infelizmente, qualquer que seja o vencedor das próximas eleições, serão sempre os nossos credores a ditar a dimensão futura do Estado social. Esta semana já chegaram à Portela os técnicos da "troika", composta pelo FMI, Banco Central Europeu e Comissão Europeia, que irão avaliar a situação real do país. Depois, apresentarão ao Governo português as suas exigências, como condição de um auxílio urgente e inevitável. E é esta a triste realidade com que o país está confrontado, por muito que os nossos actores políticos nos tentem convencer de que irá haver uma negociação: Portugal está de joelhos, humilhado na Europa e à mercê dos credores.

No mesmo dia em que a "troika" aterrou, os dois grandes partidos entretiveram-se em divagações sobre os "diz-que-disse" sobre Nobre e na troca de versões divergentes sobre os seus encontros e desencontros, o que dá a ideia de quais as questões que consideram relevantes e que entendem lhes poder fazer ganhar as eleições. Não admira, por isso, que muitos portugueses não percebam a gravidade do que se passa.

É preciso e urgente que se compreenda a verdadeira dimensão da situação do país, mais que não seja para que se possa aceitar o grande sacrifício que será imposto. Como é preciso, também, que se perceba como se chegou a esta conjuntura.

Reconheça-se que a crise internacional foi um "azar", como o reconheceu o primeiro-ministro. Mas, como se sabe, essa crise teve consequências em todos os países europeus. Houve governos responsáveis, que se apressaram a tomar as medidas necessárias para contrariar esses ventos, e outros houve que, por optimismo ou mero eleitoralismo, se recusaram a fazer esses ajustamentos. Em Portugal, quando se recomendava contenção e prudência, tanto mais que havia um défice estrutural da economia portuguesa, que exigia cuidados especiais, Sócrates aumentou os funcionários públicos e baixou o IVA, numa altura em que já se sabia que estava à porta uma grande recessão e que o Estado teria de aumentar os seus gastos sociais. E, depois das eleições de 2009, quando se percebia já que o país caminhava para a insolvência, Sócrates insistiu em governar em minoria, o que o impediu de tomar as medidas de emergência que, então, eram inevitáveis e que exigiriam um consenso partidário.

Dir-se-á que, doravante, serão os estrangeiros a impor o tratamento de choque, qualquer que seja o futuro governo. Mas, se a governação económica nos vai ser imposta a troco do resgate, importa que os eleitores desvalorizem os programas eleitorais que lhes são propostos e, por uma vez, escolham um primeiro-ministro credível, que lhes diga toda a verdade, que os motive e lhes aponte um rumo. Portugal precisa de alguém que, com coragem e realismo, saiba construir os consensos políticos indispensáveis e consiga motivar os portugueses nos tempos difíceis que se avizinham.

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