(JN)
Estava eu na sala de espera de um hospital, aguardando que, do altifalante, uma voz dissesse o meu nome. Li o jornal, fiz as palavras cruzadas, tirei da mala uma edição de bolso de um livro do Machado de Assis, ao mesmo tempo que ia ouvindo os nomes que desfilavam.
Até que a espera me pareceu longa de mais. Tenho frequentado com regularidade aquele hospital, e nunca me acontecera esperar tanto.
Cheia de sorrisos e de "se faz favor" e de "desculpe"- lá fui ao balcão das informações saber o que se passava.
- Já foi chamada há mais de meia hora! - gritam-me - Estão para ali na conversa, nem ouvem, e depois queixam-se! Eu não tinha estado na conversa, e tenho bom ouvido.
Protestei eu, protestou ela, voltei a protestar eu - até que a convenço a ir lá dentro informar-se melhor.
Não demorou nem cinco minutos.
Ar triunfante.
- Claro que a chamaram! Maria de Jesus Pereira! Chamaram-na até mais do que uma vez!
Explico-lhe, com a calma possível, que eu não me chamo Maria, "Jesus" é o meu segundo nome, e "Pereira" é um dos muitos apelidos com que carrego, mas nem o último, nem sequer o penúltimo. Adianto-lhe que estou habituada, em hospitais, a que me chamem Alice de Jesus Fonseca (os dois primeiros nomes e o último, como é normal nestas circunstâncias) mas nunca, até então, Maria de Jesus Pereira.
Olha para mim e encolhe os ombros:
- Se a gente se preocupasse com pormenores desses...
E manda-me entrar.
A minha neta mais nova, ainda sob os efeitos do jardim-escola, quando ouve alguém perguntar "quem quer...."- levanta logo o braço, mesmo antes de saber do que se trata. Acho que lhe vou seguir o exemplo: assim que o altifalante chamar alguém, apresento-me logo.
Se não for eu, paciência. Quem é que se preocupa com pormenores desses?
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