Onde é que anda o Zé?

(Maria de Lurdes Vale - DN)

Ao olhar para o triste espectáculo político e económico a que vem assistindo nos últimos tempos, o cidadão pergunta: mas voto em quem?

Ao olhar para o exemplo de desorientação do Governo face à adopção de medidas que têm repercussão na vida e no futuro de todo um país, o cidadão pergunta: mas será que "eles" sabem o que andam a fazer?


Ao olhar para a forma como algumas dessas medidas foram ocultadas aos portugueses, em geral, e ao Presidente da República, em particular, o cidadão pergunta: mas voltámos ao tempo da outra senhora?


Ao olhar para a forma como o primeiro-ministro pintava ainda há pouco tempo o País como o reino das maravilhas e agora avisa que ou é ele ou o caos, o cidadão pergunta: mas será que a Alice se foi embora e não avisou o Sócrates?

Ao olhar para o pronto aviso das finanças para entregar a declaração do IRS e fazer o pagamento do IMI, agora em Abril, o cidadão pergunta: e se eu não pagar?


Ao olhar para a Europa dos Vinte e Sete e perceber que Portugal tem de cumprir regras para fazer parte do clube, o cidadão pergunta: mas porque é que não nos disseram isto mais cedo?



Ao olhar para a forma como o Estado foi engordando ao longo dos tempos e a despesa pública aumentando, sem que ninguém se atrevesse a recomendar uma dieta ou a cortar no excesso de calorias, o cidadão pergunta: mas porque é que a mim me mandam comer menos se eles continuam a empaturrar-se?


Ao olhar para o reparo de António Costa, presidente da Câmara de Lisboa, ao ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, pela forma "desastrosa" como comunicou aos portugueses o PEC IV, que afinal não é um PEC, mas sim outra coisa qualquer, o cidadão pergunta: mas se o Costa vem dizer isto é porque a coisa é grave dentro do PS?


Ao olhar para os comunicados que a Comissão Europeia divulgou após a aprovação de cada PEC - e vão quatro - e nos quais felicita sempre o Governo pela aprovação de mais um punhado de medidas que "vão no bom caminho", o cidadão pergunta: será que esta Comissão é assim tão porreira, pá?


Ao olhar para a forma como o líder do PSD disse que não entrava mais no jogo dos PEC, PEC, o cidadão pergunta: será que prefere o jogo do FMI, FMI?


Ao olhar para a manifestação da "geração à rasca", para o protesto dos camionistas, para a greve na CP, para a anunciada greve dos pilotos da TAP e para o que mais aí vem, o cidadão pergunta: e eu?



Ao olhar para tudo isto e perceber que todos desconfiam de todos e ninguém é capaz de fazer um pacto sério com o País, o cidadão está à beira de deixar de acreditar no regime. Depois, não se queixem, porque quando forem à procura do Zé, ele faz-vos um grande manguito e então é que são elas.