(Manuel Serrão)
Adaptando o trocadilho engraçado do Ricardo Araújo Pereira, como nem em tempo de recenseamento há bom senso em Portugal, lá vamos nós cantando e rindo, a caminho de mais umas eleições.
Para este desenlace, o que se diz de Sócrates é que foi a forma que o tramou. Lendo e ouvindo algumas declarações dos seus adversários fica a pairar no ar a sensação de que não terá sido o conteúdo das medidas que levou ao chumbo do último PEC, mas sim a falta de aviso considerada como uma arrogância indesculpável.
Para quem ainda não sabia, fica agora claro que a democracia formal é tão ou mais importante que a democracia substancial.
Seja como for, é caso para dizer, como também já aconteceu com a regionalização, que na política portuguesa há medidas e reformas inadiáveis que perdem o pé por terem sido mal apresentadas ou formatadas.
Ora ainda Sócrates não caiu e Passos Coelho, que também ainda não se levantou, pode já ter caído neste problema com a questão do anúncio da putativa subida do IVA para 25 pontos percentuais.
Como aqui já defendi em crónica antiga, salvo melhor opinião, considero que o IVA é o imposto que mais contribui e se aproxima do ideal da justiça fiscal.
Claro que não há impostos perfeitos nem milagrosos. Mas o IVA, porque incide sobre o consumo e permite a correcção de algumas injustiças através da redução da taxa para diversas categorias de produtos básicos, permite acalentar a ideia de que quem pagará mais são os que mais ganham e os que mais têm, porque deles se espera que também consumam mais.
Assim pensando, já se pode inferir que a tirada de Passos Coelho foi música para os meus ouvidos. O problema que se levanta é outra vez a forma.
Será que a forma e o timing usados pelo líder do PSD para anunciar esta medida foram os melhores ou pelo menos os adequados?
Para o "povão" tenho muitas dúvidas e para os analistas políticos não tenho dúvidas nenhumas.
Então quando a batalha estava centrada entre os que querem fazer a austeridade à custa do povo e os que preferem desenhá-la a riscar obras sumptuosas e outras despesas correntes do Estado, vem o dr. Passos Coelho dar uma cajadada na polémica com a prometida subida do IVA? Parece impossível.
Para além dos estragos óbvios já em curso, aquilo que mais me custa é pensar que pode ter sido dada igualmente outra cajadada fatal naquilo que considero uma boa ideia e uma medida justa.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Este blogue é gerido por Zé da Silva.
A partilha de ideias é bem vinda, mesmo que sejam muito diferentes das minhas. Má educação é que não.