quarta-feira, 30 de março de 2011

Um Passos Coelho e duas cajadadas


(Manuel Serrão)


Adaptando o trocadilho engraçado do Ricardo Araújo Pereira, como nem em tempo de recenseamento há bom senso em Portugal, lá vamos nós cantando e rindo, a caminho de mais umas eleições.


Para este desenlace, o que se diz de Sócrates é que foi a forma que o tramou. Lendo e ouvindo algumas declarações dos seus adversários fica a pairar no ar a sensação de que não terá sido o conteúdo das medidas que levou ao chumbo do último PEC, mas sim a falta de aviso considerada como uma arrogância indesculpável.

Para quem ainda não sabia, fica agora claro que a democracia formal é tão ou mais importante que a democracia substancial.

Seja como for, é caso para dizer, como também já aconteceu com a regionalização, que na política portuguesa há medidas e reformas inadiáveis que perdem o pé por terem sido mal apresentadas ou formatadas.

Ora ainda Sócrates não caiu e Passos Coelho, que também ainda não se levantou, pode já ter caído neste problema com a questão do anúncio da putativa subida do IVA para 25 pontos percentuais.

Como aqui já defendi em crónica antiga, salvo melhor opinião, considero que o IVA é o imposto que mais contribui e se aproxima do ideal da justiça fiscal.

Claro que não há impostos perfeitos nem milagrosos. Mas o IVA, porque incide sobre o consumo e permite a correcção de algumas injustiças através da redução da taxa para diversas categorias de produtos básicos, permite acalentar a ideia de que quem pagará mais são os que mais ganham e os que mais têm, porque deles se espera que também consumam mais.

Assim pensando, já se pode inferir que a tirada de Passos Coelho foi música para os meus ouvidos. O problema que se levanta é outra vez a forma.

Será que a forma e o timing usados pelo líder do PSD para anunciar esta medida foram os melhores ou pelo menos os adequados?

Para o "povão" tenho muitas dúvidas e para os analistas políticos não tenho dúvidas nenhumas.

Então quando a batalha estava centrada entre os que querem fazer a austeridade à custa do povo e os que preferem desenhá-la a riscar obras sumptuosas e outras despesas correntes do Estado, vem o dr. Passos Coelho dar uma cajadada na polémica com a prometida subida do IVA? Parece impossível.

Para além dos estragos óbvios já em curso, aquilo que mais me custa é pensar que pode ter sido dada igualmente outra cajadada fatal naquilo que considero uma boa ideia e uma medida justa.

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