quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Sócrates quer eleições

CARLOS ABREU AMORIM (DN)

Sócrates bem como a maioria dos que folgam em o acolitar provaram ser péssimos governantes. Destituídos de sentido de Estado, reagiram à crise negando-a, camuflando-a, alindando perfidamente os seus efeitos até às legislativas de Setembro de 2009. Depois, temendo novas eleições, adiaram os óbvios remédios para a trágica situação do País até que a infecção financeira se aproximou do ponto do não retorno - cometeram, inclusive, a trágica proeza de subir a despesa pública quando todos (mas mesmo todos) os Governos dignos desse nome já executavam severos planos de austeridade. O Plano Sócrates revela-se, assim, funestamente tardio. Para além disso, é um roteiro orçamental descompassado, socialmente injusto e que repisa o vetusto artifício cultivado por todos os maus ministros das Finanças que nos têm assolado desde há décadas: o tique compulsivo de subir os impostos como terapia que tudo adia e nada cura.

Mas se Sócrates se mostrou incapaz de governar é forçoso reconhecer-lhe um enorme talento para engendrar campanhas publicitárias e ganhar eleições.

2 O Governo não quer um acordo com o PSD ou o CDS visando a aprovação do futuro Orçamento. Todos os indícios transmitem a percepção de que o PS planeia uma fuga para a frente que redundará em eleições antecipadas - desde que consiga fazer passar a ideia de que toda a inflexibilidade está do lado do PSD.

Em parte alguma do mundo democrático se tem como razoável que um Governo minoritário apresente um Orçamento como quem impõe um documento intocável, de conteúdo irrecusável e inegociável - a não ser que a verdadeira intenção, não enunciada, seja coagir uma rejeição liminar por parte daqueles com quem esse Orçamento deveria ser ajustado.

3 Nas duas últimas semanas, o marketing suplantou a política e arredou qualquer laivo de racionalidade ainda resistente. Numa inversão descarada da realidade, as baterias comunicacionais do Governo, em patente prática concertada com aqueles que se habituaram a confundir as conveniências pessoais de Cavaco Silva com o interesse nacional, apregoaram a ideia falaciosa de que chumbar o Orçamento acarretaria, por si só, todos os efeitos nefastos da crise. De repente, contrariando os factos e a história, fabricou-se e difundiu-se a convicção de que a culpa da crise, afinal, pertenceria ao PSD por não ter admitido, instantaneamente e às cegas, o Orçamento antes de conhecer as suas linhas gerais. Pelos vistos, segundo as subidas inteligências atreladas em parelha a Belém e S. Bento, todo o mal que nos está a acontecer e o muito que está quase a chegar deve-se a Passos Coelho, que é líder do PSD há seis meses, e não a José Sócrates, que nos desgoverna há quase seis anos...

4 Sócrates sabe que 2011 vai ser uma agonia que nada aliviará. A táctica, simplória mas eficaz para os mais distraídos, consiste em tentar impingir um Orçamento impróprio, para, após uma recusa induzida, afiançar que o FMI só entrou em Portugal por culpa do PSD. Provocar uma crise política é a saída natural para a inépcia governativa de Sócrates. Depois, resta-lhe arriscar a sobrevivência em eleições de tudo ou nada - Portugal faz as vezes de mero figurante nesta ópera bufa.

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