sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Matar os sonhos para alimentar os mercados




Se há coisa que, de tão confrangedora, se tornou, já, insuportável é assistir a discursos políticos moldados à tirania dos mercados.

Mercados para aqui,
mercados para ali,
é preciso dar sinais claros aos mercados,
cuidado que os mercados estão à espreita,
temos de sossegar os mercados.

Em suma: os políticos, em Portugal e, de uma forma geral, no Mundo civilizado, transformaram-se em marionetas dos especuladores, paus-mandados dos cérebros proeminentes que iluminam as agências de rating. Acordam a pensar nos índices bolsistas, adormecem atormentados pelos juros da dívida. A política perdeu, irremediavelmente, a batalha para a economia. Podemos culpar a crise, mas devemos culpar, sobretudo, a política.

[...]

Em Portugal, servir a população, cumprindo o dever de alcançar o bem público, é não atacá-la em demasia. Não nos darem más notícias são boas notícias. Mas num momento em que os portugueses mais precisam que lhes falem ao coração, assistimos com tristeza, e não com surpresa, ao aniquilamento das pessoas em detrimento dos mercados.

As decisões já não parecem ser tomadas porque vão favorecer-nos ou prejudicar-nos, mas apenas tendo em conta o impacto nos mercados. O ataque sem precedentes aos orçamentos familiares que este Governo patrocinou (um casal da classe média com dois filhos, por exemplo, vai transformar-se pura e simplesmente num escravo da máquina fiscal) é sintomático.

Matam-se os sonhos de milhões, mas mantém-se bem alimentada a voracidade do mercado.

No fundo, como se as pessoas só existissem para lhe dar a comida à mão, acariciá-lo no dorso e confortá-lo: "Não te preocupes, eu posso passar fome, mas a ti não te faltará nada".

 
E diz cá o Zé da Silva: Alberto Pimenta, vem fazer o teu discurso (não ao Pedro, claro)

Sem comentários:

Enviar um comentário

Este blogue é gerido por Zé da Silva.
A partilha de ideias é bem vinda, mesmo que sejam muito diferentes das minhas. Má educação é que não.