quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Ninguém vai festejar os 100 anos do Facebook



O 5 de Outubro que implantou a República em Portugal já foi há cem anos. Não conheço ninguém que conheça alguém que tenha sido testemunha desta revolução que nos fez gastar dez milhões de euros para a comemorar. Não deixa de ser engraçado ver e ouvir políticos como Cavaco e Sócrates a falarem de uma revolução em que não participaram e a festejarem a revolução de um punhado de pessoas que não conheceram.


Na TSF ouvi ontem também anunciar o discurso de Cavaco como o último que ele faria no 5 de Outubro. Sendo certo que isso pode não ser verdade, se Cavaco se recandidatar como parece óbvio, já é menos seguro que os discursos do 5 de Outubro se mantenham, o que pode vir a dar razão ao comentário da TSF.


O que provavelmente já não acontecerá daqui a cem anos é que alguém se lembre de comemorar os 200 anos da implantação da República. Pelo menos gastando 10 milhões de euros ou o equivalente à época e sobretudo nunca se falará de gente desconhecida como se fossem nossos colegas de café ou de escritório.


Mas a revolução que hoje gostava de trazer a esta crónica é a das redes sociais, com o Facebook a dar a cara por ela. É uma mudança de "regime" que tem muito menos anos do que a República em Portugal, mas vai mudar muito mais a vida dos portugueses em muito menos tempo.

Contrariamente à maioria dos meus amigos e familiares, nunca tive página no hi5, não quero que me sigam no Twitter e não estou no Facebook. Será que isto faz de mim um " bicho-do-mato" ou um "bota-de-elástico", nos tempos que correm? Mesmo para os que não conhecem o significado destas expressões um pouco mais antigas, a resposta que tenho para lhes dar é negativa.


Em termos pessoais (e não profissionais), o Facebook e o Twitter fazem-me tanta falta como ainda hoje uma viola num enterro e se há modernidade a que não adiro é aquela que rebenta com a minha privacidade e estilhaça a minha liberdade.


Agora que a TVI voltou aos reality shows é bom que não seja segredo para ninguém que a dita revolução das redes sociais é uma espécie de "big brother" de trazer por casa, a que todos podem aceder e em que todos podem participar, sem cachets nem prémios.


Que uma acompanhante de luxo ou um político no início da carreira resolvam expor as suas vidas à procura de pagarem dívidas ou ganharem notoriedade, não aceito, mas compreendo. O que já não aceito nem compreendo é que cada vez mais portugueses se disponham a dar nota pública do que fazem e com quem fazem, do que sofrem e com quem sofrem, onde vão e com quem vão, sem qualquer tipo de recompensa que não seja a total exposição da sua vida pessoal.


Resta-me esperar que a impunidade com que esta gente envolve terceiros inocentes que com eles se cruzam na ignorância das consequências tenha os dias contados. Como é costume nestas coisas, vai ser preciso que alguém morra para que a regulamentação nasça.


Não vou estar cá para ver, mas aposto que daqui a cem anos ninguém gastará um cêntimo para comemorar a "revolução" do Facebook.


Manuel Serrão - JN


Nota: eu, como o Manuel Serrão e "contrariamente à maioria dos meus amigos e familiares, nunca tive página no hi5, não quero que me sigam no Twitter e não estou no Facebook".

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