Mesmo num país em que a tolerância tem a elasticidade das conveniências dos seus corifeus, muito me admiraria que um estudo encomendado pelos próprios interessados para dar um determinado resultado o contrariasse.
Por outro lado, que interesse teriam os beneficiários das Novas Oportunidades em dizer mal de uma formação que transveste ignorantes em sábios, enquanto o diabo do oportunismo esfrega um olho? Ou dito de outra maneira, em morder a mão que lhes deu um presente, ainda que envenenado, por saberem no íntimo das suas consciências que foram joguetes de uma viciada estatística para aumentar o número de portugueses prontos a tomarem de assalto as universidades tirando, por vezes, como foi denunciado recentemente nos media, o lugar a estudantes do ensino regular?
[...]
Quanto a mim - com o peso da responsabilidade de ter tecido, naquilo que tenho como dever de cidadania, vários textos críticos sobre esta temática - , as Novas Oportunidades são um insulto de uma sociedade medíocre que mais não pretende que ampliar essa mediocridade aos seus cidadadãos e cidadãs para não sofrer o peso da solidão.
Nada disto seria, assim, tão grave, como é, se não servisse de um mau exemplo para os nossos jovens do ensino secundário que desperdiçam energias em ingentes tarefas escolares num percurso de 3 anos lectivos de sangue, suor e lágrimas para obterem um diploma que, sabemos agora, mais não vale que os cinco réis de mel coado de uma equivalência a seis meses de Novos Oportunismos.
Ora,um estado que despende balúrdios com escolas estatais de ensino secundário para fazerem o mesmo que as Novas Oportunidades (com formadores mal pagos e vítimas de instabilidade contratual) deverá ser responsabilizado pelo mau uso que faz dos dinheiros públicos, os nossos impostos. Impostos que muito se irão agravar num próximo ano de grande sacrifício para as famílias portuguesas que passarão a ser prejudicadas por tectos mais baixos no que respeita a despesas do âmbito da educação dos seus filhos para efeitos de IRS.
Todo este circo pode ser sintetizada neste excerto de um texto de Mario Perniola, professor de Estética da Universidade “Tor Vergata" de Roma. Escreveu ele:
”Os fautores da tradição, que apelam para os valores, para o classicismo, para o canôn, são postos fora do jogo por esses funâmbulos, esses equilibristas, esses acrobatas, que também querem ser eternizados no bronze e no mármore. E quem diz que o não conseguem? Há sempre uma caterva de ingénuos prontos a escrever a história da última idiotice, a solenizar as tolices, a encontrar significados recônditos nas nulidades, a conceder entrada às imbecilidades no ensino de todas as ordens e graus, pensando que fazem obra democrática e progressista que vão ao encontro dos jovens e do povo, que realizam a reunião da escola com a vida”.
Ora, como nos ensina a sabedoria popular, "nas costas dos outros lemos as nossas". Não será altura, portanto, de meditarmos, os seus responsáveis e todos nós, sobre os funestos efeitos de uma pretensa "obra democrática e progressista" que nos querem impingir, à viva força, e que mais não é do que querer fazer passar o gato por lebre? Refiro-me, é óbvio, às Novas Oportunidades!
Por Rui Baptista (De Rerum Natura)
Excertos seleccionados por Zé da Silva
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