Na deplorável partida de póker em que se tornou a luta política, a aposta de Passos Coelho no extremar de posições em relação ao Orçamento seguida da ameaça de Sócrates de se demitir no caso de ele não ser aprovado, revelou o óbvio: que Coelho fizera "bluff" e não iria pagar para ver.
Os inúmeros "bluffs" de Sócrates anunciando, dia sim, dia não, o "fim da crise" (ainda em Maio Portugal era "o primeiro país a sair da recessão") não têm sido menos desastrados. Os aumentos da Função Pública há um ano, em véspera de eleições, lembram Beau Geste no deserto, cercado e acossado pela sede, lavando desafiadoramente as botas com o último cantil de água. A crise não é, contudo, tão impressionável como os "tuaregs",
e Sócrates exige agora a devolução, com juros, desses aumentos.
Ao mesmo tempo opta pela que, em Março, era a solução "mais fácil", o do aumento dos impostos, e por receitas extraordinárias como as que criticou a Ferreira Leite.
Precisa de 4,5 mil milhões para levar o défice de 7,3 a 4,6 %. Tanto quanto enterrou no BPN e BPP. Como confiar o nosso dinheiro (e o nosso futuro) a jogadores destes?
Manuel António Pina (JN)
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