Encontrei a Ti Maria à vinda da missa. Chovia a potes. Quer boleia Ti Maria. Não. A água da chuva refresca as ideias. E que ideias são essas Ti Maria. Ah. Zé. Tens estado onde, rapaz. Até gosto que me chamem rapaz. Diga lá, Ti Maria.
-Fomos gozados, Zé. Os cabrões (sic) do PS e do PSD (ó Ti Maria, olhe que veio agora da missa!) andaram a fazer de conta que negociavam. Para chegarem ao ponto final. É uma comédia que o nosso grupo de teatro do Centro de Dia, o dos velhotes, faria muuuuuito melhor!
Ó Ti Maria, mas o orçamento não tinha que vir a ser aprovado?
-Estás muito verde, Zé. Ainda tens que comer muito caldo. Este orçamento é para quê? Os gajos da televisão só falam que se o orçamento não for aprovado, ninguém nos empresta dinheiro. Mas que é isto? Orçamentos para ficarmos ainda a dever mais dinheiro?!
Tem razão, Ti Maria. Vou-me ao cozido. E ao caldo. Hoje é Domingo, Ti Maria.
domingo, 31 de outubro de 2010
sábado, 30 de outubro de 2010
O sonho
J. L. Pio de Abreu, no "Destak"
Nos anos 80 sonhava-se com o futuro. Sonhava-se que a ciência iria resolver os problemas humanos, a fome seria suprimida e a automação iria substituir o trabalho mais pesado, permitindo uma maior justiça social. Energia e software eram quanto precisávamos para obter os nossos recursos. O trabalho humano seria menos necessário, e os produtos resultantes da automação seriam cada vez mais baratos.
Para manter o pleno emprego, o horário de trabalho seria reduzido e a reforma viria mais cedo. Como as pessoas viveriam mais tempo, elas podiam, a partir de certa altura, encetar uma nova vida e dispor de mais tempo para o convívio e educação dos mais novos. Haveria mais produção artística e intelectual e inovadora que resultaria do gosto de criar, o que se faria por opção. Na verdade, já estávamos nesse caminho.
Desde então, existiram imensos progressos da genética, da engenharia, da energética e da informática que facilitariam o sonho. A automação aumentou, os seus produtos embarateceram, apareceram as energias renováveis e o software não pára de substituir o trabalho humano, cada vez menos necessário. Mas aumentaram as exigências e o horário de trabalho, bem como a idade da reforma, à custa de um desemprego cada vez maior.
Temos hoje melhores condições para cumprir o sonho, no entanto caminhamos no sentido inverso, em direcção ao pesadelo. Nos anos 80 sonhava-se porque não se tinha previsto que o lucro fosse o valor supremo dos anos que a seguir viriam.
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Eu sonhava nos anos 80… O murro que apanho agora é, por isso, muito doloroso
Zé da Silva
Os corpos do delito
Não tenho por costume folhetinizar em episódios estas crónicas (como o taoista, chamo-lhes assim porque não sei que nome têm e posto que tenho que chamar-lhes alguma coisa), mas as declarações do "porta-voz oficial da PSP" ao DN acerca da detenção de quatro raparigas e um rapaz da JCP que pintavam um mural na Rotunda das Olaias, em Lisboa, talvez justifiquem, na sua exemplaridade novilinguística, uma excepção.
(Gaugin)
A PSP considera naturalíssimo e "decorre[nte] das medidas cautelares de polícia" que duas das jovens detidas (menores, tudo o indica) tenham sido obrigadas a despir-se completamente na esquadra. Porque tudo terá tido, pelos vistos, a maior pureza de propósitos: fazer-lhes uma "revista sumária" (imagine-se o que será uma "revista completa") à procura de "armas, de fogo ou brancas" ou "produtos cujo transporte pode ser considerado crime, nomeadamente drogas".
Dir-se-ia, pois, que é rotina da PSP, de modo a pôr a nu todas as suspeitas possíveis sobre comuns cidadãos "conduzidos à esquadra", pedir-lhes o BI e mandá-los logo pôr-se em pelota. Talvez seja, mas, a crer no que se passou, será só com jovens raparigas, já que, no caso, os agentes se dispensaram de qualquer actividade por assim dizer investigatória no corpo do rapaz. Aparentemente, nem as mochilas do grupo terão sido revistadas. Só os corpos das jovens.
Há-de ter havido um bom motivo para isso. Talvez até mais do que um.
quinta-feira, 28 de outubro de 2010
A quem serve o interesse nacional?
(por BAPTISTA-BASTOS , no DN)
A expressão "interesse nacional", muito em voga nos últimos tempos, é recuperada do discurso que marcou os anos salazaristas.
Acontece que Salazar escrevia bem e assimilava melhor, leitor com mão profusa do Padre Vieira, o que melhora o estilo e ajuda os labirintos da metáfora.
Os senhores que se servem, agora, da locução, nada sabem de metáforas, de Vieira, e muito menos das inclusões que tal alusão comporta e envolve. E, involuntariamente, são netos de Salazar. A árvore da língua exige a consciência de a saber afeiçoar às circunstâncias, neste caso políticas. A articulada ignorância que demonstram causa um cansaço interminável a quem é medianamente letrado.
Em nome do "interesse nacional", duas vistosas delegações (do PS e do PSD), procuram, no sigilo de enternecedoras conversas, salvar a pátria da derrocada. Os drs. Teixeira dos Santos e Eduardo Catroga são criaturas estimáveis. Em épocas diferentes já tentaram dar sentido à vida portuguesa, e contribuir para a nossa felicidade, mas, lamentavelmente, tudo piorou depois das suas influências.
Sempre em nome do "interesse nacional", têm mantido o statu quo, de que são crias e guardiães. As preocupações de ambos nada têm a ver com a renovação do presente. As reuniões apenas tentam dirimir a questão do poder. O conceito de "interesse nacional", na acepção mais nobre, implica a regulação dos laços sociais, e a capacidade de reformulação do sistema, a fim de se definir o que deve ser realizado. De contrário, [O "interesse nacional" ] é um conceito abstracto, porque dele é expulsa a população, permanentemente desrespeitada nos seus direitos e espoliada das suas prerrogativas fundamentais.
O "interesse nacional" corresponde ao interesse de uma minoria, cuja natureza de classe (não receemos a noção) invadiu tanto o campo privado como o público.
Não há identificação possível entre o tão declamado "interesse nacional" e aquilo que, directamente, diz respeito a todos nós. Nós pertencemos a outra história. À daqueles que pagam a factura pelos crimes que outros, impunemente, cometeram.
Não sei muito bem qual o "interesse nacional" que os representantes dos dois partidos em conclave estão a defender, a preservar, a resguardar. A hegemonia do PS e do PSD é balizada por um conservadorismo absolutamente imoral porque gerador das mais atrozes desigualdades.
Os drs. Catroga e Teixeira dos Santos não estão ali para reforçar o vínculo social dos portugueses, para melhorar a nossa vida. Estão ali com sentimentos de pacotilha, combinados na ideologia dominante, e cujos resultados estarão sempre esvaziados de substância, pelo carácter dos objectivos visados: manter o sistema a todo o custo. Sabemos o preço desse custo e a índole desse sistema
quarta-feira, 27 de outubro de 2010
Preocupações sociais
(JN de hoje)
Algo que me enternece (falta-me melhor palavra para identificar sentimento tão confuso) são as preocupações sociais do nosso patronato.
As empresas portuguesas constituem, com efeito, um capítulo à parte na teoria económica capitalista pois que, a crer nas declarações públicas dos nossos empresários, o que os move é sempre a criação de postos de trabalho e não o lucro (só que, para criar postos de trabalho, se vêem obrigados a ter lucro).
Portugal tem, ao lado de um Estado Social, um Empresariado Social, facto que justifica que, ao mesmo tempo que reclamam "menos Estado", os empresários portugueses peçam ao Estado tantos subsídios, apoios, isenções e benefícios fiscais.
Veja-se o recente e exemplar caso do patronato farmacêutico. O Governo baixou o preço dos medicamentos em 6% e isso gerou "muita apreensão" na Apifarma pois "1500 a 2000 postos de trabalho poderão estar em causa" (também "poderão estar em causa" uns milhões de euros de lucros, mas isso é, obviamente, secundário).
Já no que toca ao facto de o preço dos medicamentos deixar de constar das embalagens, a Apifarma concorda. "Estamos a falar de pôr etiquetas em embalagens que estão em armazéns, em paletes, e estamos a falar de desmontar paletes, embalagem por embalagem, para andar a colar etiquetas. Era um trabalho de loucos", diz o seu presidente. Não lhe ocorreu é que isso poderia criar "1500 a 2000 postos de trabalho".
Haverá Cojones?
(Paulo Guinote)
Porque a verdade é que o FMI não entra pela porta dentro sem a autorização interna.
Porque a verdade é que as instituições internacionais não têm assim tanto interesse numa bancarrota que lhes faria perder os créditos.
Porque vejo preocupados com o chumbo do OE principalmente muitos daqueles que podemos associar aos piores negócios do Estado, bastando para isso ler o livro de Carlos Moreno.
Porque há que, de uma vez por todas, perceber se Sócrates os tem no sítio para levar as ameaças até ao fim, ou se alguém os tem mais mais fortes e aguenta a parada
Porque a verdade é que o FMI não entra pela porta dentro sem a autorização interna.
Porque a verdade é que as instituições internacionais não têm assim tanto interesse numa bancarrota que lhes faria perder os créditos.
Porque vejo preocupados com o chumbo do OE principalmente muitos daqueles que podemos associar aos piores negócios do Estado, bastando para isso ler o livro de Carlos Moreno.
Porque há que, de uma vez por todas, perceber se Sócrates os tem no sítio para levar as ameaças até ao fim, ou se alguém os tem mais mais fortes e aguenta a parada
terça-feira, 26 de outubro de 2010
E depois dos professores...
"Juízes em fim de carreira ganham 4,2 vezes acima da média"
"Magistrados acusam Governo de manipular relatório"
A estratégia é exactamente a mesma: fornecer dados para um estudo internacional e acusar uma classe profissional de ganhar muito e trabalhar pouco para a manchar perante a opinião pública.
A principal vantagem dos juízes é que são elementos de um órgão de soberania e têm formas muito mais eficazes de fazer valer os seus direitos. Menos espampanantes, nem precisando de vir para a rua.
Mas a estratégia comunicacional do Governo é a mesma.
Paulo Guinote
"Magistrados acusam Governo de manipular relatório"
A estratégia é exactamente a mesma: fornecer dados para um estudo internacional e acusar uma classe profissional de ganhar muito e trabalhar pouco para a manchar perante a opinião pública.
A principal vantagem dos juízes é que são elementos de um órgão de soberania e têm formas muito mais eficazes de fazer valer os seus direitos. Menos espampanantes, nem precisando de vir para a rua.
Mas a estratégia comunicacional do Governo é a mesma.
Paulo Guinote
A propósito de uma entrevista de Luís Capucha
Excertos dos comentários de Helena Damião
(Blogue De Rerum Natura)
Luís Capucha é director da Agência Nacional para a Qualificação, “criada para acolher a Iniciativa Novas Oportunidades (INO) e o ensino profissional e artístico especializado”.
Devo dizer que encontro nessa entrevista indícios muito preocupantes de total ausência de atitude científica, que sistematicamente tem vindo ao de cima por parte de quem tem responsabilidades na educação formal.
Dou os seguintes exemplos:
1. Em vez de se encararem as críticas ou, pelo menos, algumas delas como uma possibilidade de análise e de correcção de eventuais erros, descredibiliza-se, menoriza-se, acusa-se, calunia-se quem as faz.
Bárbara Wong: "a opinião publicada tem colocado reservas à INO. Muitos dizem que esta só serve para dar diplomas. É assim?”
Luís Capucha: "Surgem críticas, mentiras e afirmações de quem não quer mentir mas fala do que não sabe".
Quem critica só pode, pois, ser mentiroso. E se não for mentiroso será ignorante!
Bárbara Wong: "Porque é que não se fez antes esta mudança?"
Luís Capucha: "A democratização de acesso implica verdadeira abertura social e de mobilidade, o que cria pressão junto de determinadas elites que não deixaram de reagir. Há uma democratização mal tolerada do acesso aos diplomas escolares".
Quem critica é, portanto, necessariamente, preconceituoso e anti-democrata...
2. Em vez de se esclarecem dúvidas que se colocam a quem está de fora, mas que legitimamente quer conhecer e compreender, recorre-se a arrazoados a redundâncias que nada esclarecem, antes confundem... ainda mais.
Bárbara Wong: “uma das críticas é que os adultos não aprendem disciplinas formais”,
Luís Capucha: “Desminto. Há regras a cumprir que têm a ver com o cumprimento dos procedimentos necessários.”
Se “há regras a cumprir”, que regras são essas que não podem ser claramente referidas?... Se "têm a ver com o cumprimento dos procedimentos necessários”, que procedimentos são esses, que não podem ser enunciados?
3. Em vez de se sistematizarem racional e objectivamente argumentos, recorre-se a crenças, a convicções individuais ou colectivas (não, isso não é filosofia da educação!).
Bárbara Wong: "Nessa velocidade não se perde qualidade?",
Luís Capucha: "O primeiro pilar da qualidade é a quantidade. Digo-o com toda a convicção. Sabemos que alunos de determinadas vias de ensino aprendem a fazer exames e a tirar notas, mas não sabemos se sabem alguma coisa quando acabam."
4. Em vez de se recorrer a conhecimento pedagógico sólido e aos meios que faculta ao ensino, à formação, à aprendizagem... recorre-se a sensibilidades de mercado e a opiniões que, acresce, serem opiniões em causa própria.
Bárbara Wong: "no processo de RVCC, as pessoas são avaliadas pelo que sabem e não pelo que aprenderam. Concorda?",
Luís Capucha: "Há dois grandes indicadores que mostram que as pessoas saem mais capacitadas, preparadas para os desafios: a adesão das empresas à INO e os testemunhos das pessoas".
Nenhum conhecimento digno de crédito [de qualquer área] nos permite afirmar com toda a certeza, sem qualquer margem para dúvidas, que os resultados académicos obtidos pelos alunos e, em sequência, os diplomas que recebem, correspondem directa, linear e integralmente ao que se pretendia que aprendessem.
Quem estudou minimamente estes assuntos saberá que certas linhas de investigação pedagógica têm, desde o início do século XX, trabalhado de maneira exemplar no assunto, o que se tem traduzido em princípios e técnicas de avaliação que, uma vez usadas correctamente, permitem obter uma maior aproximação entre o que se se pretende ensinar e o que os alunos revelam do que aprenderam.
Assim, não se pode afirmar que: "Os alunos quando obtêm um diploma, esse corresponde às competências que têm. Existem referenciais que estabelecem as áreas de competências que têm que ser possuídas e toda a avaliação de conhecimentos e os júris de certificação garantem que as pessoas possuem essas competências (...) as competências certificadas correspondem às possuídas".
Porém, esta afirmação peremptória foi feita por alguém que, além de ter ao que parece formação pedagógica, assume responsabilidades educativas assaz relevantes a nível nacional. Trata-se de uma afirmação tanto mais estranha quanto é certo que o conceito de competência é vagamente definido e diversamente entendido, mesmo pelos seus mentores.
Mais baralhados ficamos quando esse alguém declara que, afinal, nem valoriza sobremaneira os diplomas escolares. Pelo menos é o que se depreende quando numa postura dubitativa refere: "Há um factor social muito forte que tem a ver com o valor dos diplomas escolares. São muito valorizados."
Entrevista completa em:
http://www.publico.pt/Educa%C3%A7%C3%A3o/nao-ha-uma-especie-de-oferta-de-brindes-para-as-pessoas-virem-para-as-novas-oportunidades_1462412
(Blogue De Rerum Natura)
Luís Capucha é director da Agência Nacional para a Qualificação, “criada para acolher a Iniciativa Novas Oportunidades (INO) e o ensino profissional e artístico especializado”.
Devo dizer que encontro nessa entrevista indícios muito preocupantes de total ausência de atitude científica, que sistematicamente tem vindo ao de cima por parte de quem tem responsabilidades na educação formal.
Dou os seguintes exemplos:
1. Em vez de se encararem as críticas ou, pelo menos, algumas delas como uma possibilidade de análise e de correcção de eventuais erros, descredibiliza-se, menoriza-se, acusa-se, calunia-se quem as faz.
Bárbara Wong: "a opinião publicada tem colocado reservas à INO. Muitos dizem que esta só serve para dar diplomas. É assim?”
Luís Capucha: "Surgem críticas, mentiras e afirmações de quem não quer mentir mas fala do que não sabe".
Quem critica só pode, pois, ser mentiroso. E se não for mentiroso será ignorante!
Bárbara Wong: "Porque é que não se fez antes esta mudança?"
Luís Capucha: "A democratização de acesso implica verdadeira abertura social e de mobilidade, o que cria pressão junto de determinadas elites que não deixaram de reagir. Há uma democratização mal tolerada do acesso aos diplomas escolares".
Quem critica é, portanto, necessariamente, preconceituoso e anti-democrata...
2. Em vez de se esclarecem dúvidas que se colocam a quem está de fora, mas que legitimamente quer conhecer e compreender, recorre-se a arrazoados a redundâncias que nada esclarecem, antes confundem... ainda mais.
Bárbara Wong: “uma das críticas é que os adultos não aprendem disciplinas formais”,
Luís Capucha: “Desminto. Há regras a cumprir que têm a ver com o cumprimento dos procedimentos necessários.”
Se “há regras a cumprir”, que regras são essas que não podem ser claramente referidas?... Se "têm a ver com o cumprimento dos procedimentos necessários”, que procedimentos são esses, que não podem ser enunciados?
3. Em vez de se sistematizarem racional e objectivamente argumentos, recorre-se a crenças, a convicções individuais ou colectivas (não, isso não é filosofia da educação!).
Bárbara Wong: "Nessa velocidade não se perde qualidade?",
Luís Capucha: "O primeiro pilar da qualidade é a quantidade. Digo-o com toda a convicção. Sabemos que alunos de determinadas vias de ensino aprendem a fazer exames e a tirar notas, mas não sabemos se sabem alguma coisa quando acabam."
4. Em vez de se recorrer a conhecimento pedagógico sólido e aos meios que faculta ao ensino, à formação, à aprendizagem... recorre-se a sensibilidades de mercado e a opiniões que, acresce, serem opiniões em causa própria.
Bárbara Wong: "no processo de RVCC, as pessoas são avaliadas pelo que sabem e não pelo que aprenderam. Concorda?",
Luís Capucha: "Há dois grandes indicadores que mostram que as pessoas saem mais capacitadas, preparadas para os desafios: a adesão das empresas à INO e os testemunhos das pessoas".
Nenhum conhecimento digno de crédito [de qualquer área] nos permite afirmar com toda a certeza, sem qualquer margem para dúvidas, que os resultados académicos obtidos pelos alunos e, em sequência, os diplomas que recebem, correspondem directa, linear e integralmente ao que se pretendia que aprendessem.
Quem estudou minimamente estes assuntos saberá que certas linhas de investigação pedagógica têm, desde o início do século XX, trabalhado de maneira exemplar no assunto, o que se tem traduzido em princípios e técnicas de avaliação que, uma vez usadas correctamente, permitem obter uma maior aproximação entre o que se se pretende ensinar e o que os alunos revelam do que aprenderam.
Assim, não se pode afirmar que: "Os alunos quando obtêm um diploma, esse corresponde às competências que têm. Existem referenciais que estabelecem as áreas de competências que têm que ser possuídas e toda a avaliação de conhecimentos e os júris de certificação garantem que as pessoas possuem essas competências (...) as competências certificadas correspondem às possuídas".
Porém, esta afirmação peremptória foi feita por alguém que, além de ter ao que parece formação pedagógica, assume responsabilidades educativas assaz relevantes a nível nacional. Trata-se de uma afirmação tanto mais estranha quanto é certo que o conceito de competência é vagamente definido e diversamente entendido, mesmo pelos seus mentores.
Mais baralhados ficamos quando esse alguém declara que, afinal, nem valoriza sobremaneira os diplomas escolares. Pelo menos é o que se depreende quando numa postura dubitativa refere: "Há um factor social muito forte que tem a ver com o valor dos diplomas escolares. São muito valorizados."
Entrevista completa em:
http://www.publico.pt/Educa%C3%A7%C3%A3o/nao-ha-uma-especie-de-oferta-de-brindes-para-as-pessoas-virem-para-as-novas-oportunidades_1462412
Torpor
Só me ocorre uma palavra para descrever a não reacção da população portuguesa perante o assalto fiscal que está anunciado (os dois principais partidos estão praticamente só a negociar o IVA do leite achocolatado) para já não falar dos cortes salariais, em princípio só para os funcionários públicos: Torpor.
Consulto o Dicionário Houaiss para saber se é mesmo a palavra certa:
"1- sentimento de mal-estar caracterizado pela diminuição da sensibilidade e do movimento, entorpecimento, estupor, insensibilidade.
2- indiferença ou apatia moral , indolência, prostação
3. (MED.) ausência de reacção a estímulos de intensidade normal.
ETIM: lat torpor/óris entorpecimento, inércia, languidez, preguiça."
E é.
Carlos Fiolhais (in De Rerum Natura)
Consulto o Dicionário Houaiss para saber se é mesmo a palavra certa:
"1- sentimento de mal-estar caracterizado pela diminuição da sensibilidade e do movimento, entorpecimento, estupor, insensibilidade.
2- indiferença ou apatia moral , indolência, prostação
3. (MED.) ausência de reacção a estímulos de intensidade normal.
ETIM: lat torpor/óris entorpecimento, inércia, languidez, preguiça."
E é.
Carlos Fiolhais (in De Rerum Natura)
Para quem não saiba ou se tenha esquecido...
Liberdade de expressão e informação
1. Todos têm o direito de exprimir e divulgar livremente o seu pensamento pela palavra, pela imagem ou por qualquer outro meio, bem como o direito de informar, de se informar e de ser informados, sem impedimentos nem discriminações.
2. O exercício destes direitos não pode ser impedido ou limitado por qualquer tipo ou forma de censura.
(Artigo 37.º da Constituição da República Portuguesa)
1. Todos têm o direito de exprimir e divulgar livremente o seu pensamento pela palavra, pela imagem ou por qualquer outro meio, bem como o direito de informar, de se informar e de ser informados, sem impedimentos nem discriminações.
2. O exercício destes direitos não pode ser impedido ou limitado por qualquer tipo ou forma de censura.
(Artigo 37.º da Constituição da República Portuguesa)
domingo, 24 de outubro de 2010
Novas mentiras
(Luís Capucha - foto retirada do site Fundação Telecom)
Vale a pena ler a entrevista que o director da Agência Nacional para a Qualificação, Luís Capucha, deu ao jornal Público acerca do programa "Novas Oportunidades".
Está lá tudo esclarecido: desde o desconhecimento se este "ensino" é mais caro que o regular, até ao admitir que é possível alguém passar do 6º para o 12ºano em poucos meses.
O discurso utilizado é invariavelmente o que os socialistas usam quando falam de escola, outra coisa não seria de esperar, mas o que é verdadeiramente surpreendente é que esta gente não tenha o mínimo pudor em repetir num jornal as asneiras clamorosas com que estão a enterrar o ensino em Portugal.
Prova que no mundo de pessoas como Luís Capucha, só existe o eduquês e a sociologia da batata.
Não foi por acaso que a ex-ministra Maria de Lurdes Rodrigues o escolheu para o lugar.
Em 23/10/2010
David Levy no Blogue Lisboa Te - aviv
De mentira em mentira até chegar o FMI
( JN de hoje)
Quando Sá Carneiro morreu no ainda misterioso acidente de Camarate, abriu--se diante de Pinto Balsemão o labirinto habitual da política portuguesa: ele era o sucessor natural, mas a complicada teia das ambições, invejas e traições, dentro e fora do seu partido, não lhe deu sossego. Balsemão foi vencendo as conspirações, mas acabou por se demitir. Aí nasceu a célebre frase de vitória em vitória até à derrota final.
Ocorre-me a lembrança a propósito do Orçamento para 2011, que não me atrevo a analisar como especialista (que não sou), mas que seguramente vou amargar como aposentado neste Portugal financeiramente amordaçado (assim escreveria, noutros tempos, o patriarca Soares).
Também agora poderemos dizer que vamos de mentira em mentira até à bancarrota. Ainda há pouco mais de um mês, o ministro das Finanças (que desilusão!) garantia que as contas seguiam em linha com o previsto, ao mesmo tempo que o primeiro-ministro (que confirmação!) vociferava contra aqueles a quem chamava catastrofistas ou alarmistas, consoante a arrogância do momento. Era o tempo em que Portugal chegou a ser chamado por Sócrates campeão europeu do crescimento...
Foi por este caminho de falsidades que os portugueses foram conduzidos ao maior suplício dos tempos modernos. Aprovem lá o Orçamento, abram as portas ao FMI - mas não deixem sem castigo (político e não só) os responsáveis por estes crimes
Nota do Zé da Silva: Apoio o castigo dos responsáveis. Sejam eles quem forem!...
A Avaliação Externa das Novas Oportunidades
Mesmo num país em que a tolerância tem a elasticidade das conveniências dos seus corifeus, muito me admiraria que um estudo encomendado pelos próprios interessados para dar um determinado resultado o contrariasse.
Por outro lado, que interesse teriam os beneficiários das Novas Oportunidades em dizer mal de uma formação que transveste ignorantes em sábios, enquanto o diabo do oportunismo esfrega um olho? Ou dito de outra maneira, em morder a mão que lhes deu um presente, ainda que envenenado, por saberem no íntimo das suas consciências que foram joguetes de uma viciada estatística para aumentar o número de portugueses prontos a tomarem de assalto as universidades tirando, por vezes, como foi denunciado recentemente nos media, o lugar a estudantes do ensino regular?
[...]
Quanto a mim - com o peso da responsabilidade de ter tecido, naquilo que tenho como dever de cidadania, vários textos críticos sobre esta temática - , as Novas Oportunidades são um insulto de uma sociedade medíocre que mais não pretende que ampliar essa mediocridade aos seus cidadadãos e cidadãs para não sofrer o peso da solidão.
Nada disto seria, assim, tão grave, como é, se não servisse de um mau exemplo para os nossos jovens do ensino secundário que desperdiçam energias em ingentes tarefas escolares num percurso de 3 anos lectivos de sangue, suor e lágrimas para obterem um diploma que, sabemos agora, mais não vale que os cinco réis de mel coado de uma equivalência a seis meses de Novos Oportunismos.
Ora,um estado que despende balúrdios com escolas estatais de ensino secundário para fazerem o mesmo que as Novas Oportunidades (com formadores mal pagos e vítimas de instabilidade contratual) deverá ser responsabilizado pelo mau uso que faz dos dinheiros públicos, os nossos impostos. Impostos que muito se irão agravar num próximo ano de grande sacrifício para as famílias portuguesas que passarão a ser prejudicadas por tectos mais baixos no que respeita a despesas do âmbito da educação dos seus filhos para efeitos de IRS.
Todo este circo pode ser sintetizada neste excerto de um texto de Mario Perniola, professor de Estética da Universidade “Tor Vergata" de Roma. Escreveu ele:
”Os fautores da tradição, que apelam para os valores, para o classicismo, para o canôn, são postos fora do jogo por esses funâmbulos, esses equilibristas, esses acrobatas, que também querem ser eternizados no bronze e no mármore. E quem diz que o não conseguem? Há sempre uma caterva de ingénuos prontos a escrever a história da última idiotice, a solenizar as tolices, a encontrar significados recônditos nas nulidades, a conceder entrada às imbecilidades no ensino de todas as ordens e graus, pensando que fazem obra democrática e progressista que vão ao encontro dos jovens e do povo, que realizam a reunião da escola com a vida”.
Ora, como nos ensina a sabedoria popular, "nas costas dos outros lemos as nossas". Não será altura, portanto, de meditarmos, os seus responsáveis e todos nós, sobre os funestos efeitos de uma pretensa "obra democrática e progressista" que nos querem impingir, à viva força, e que mais não é do que querer fazer passar o gato por lebre? Refiro-me, é óbvio, às Novas Oportunidades!
Por Rui Baptista (De Rerum Natura)
Excertos seleccionados por Zé da Silva
Por outro lado, que interesse teriam os beneficiários das Novas Oportunidades em dizer mal de uma formação que transveste ignorantes em sábios, enquanto o diabo do oportunismo esfrega um olho? Ou dito de outra maneira, em morder a mão que lhes deu um presente, ainda que envenenado, por saberem no íntimo das suas consciências que foram joguetes de uma viciada estatística para aumentar o número de portugueses prontos a tomarem de assalto as universidades tirando, por vezes, como foi denunciado recentemente nos media, o lugar a estudantes do ensino regular?
[...]
Quanto a mim - com o peso da responsabilidade de ter tecido, naquilo que tenho como dever de cidadania, vários textos críticos sobre esta temática - , as Novas Oportunidades são um insulto de uma sociedade medíocre que mais não pretende que ampliar essa mediocridade aos seus cidadadãos e cidadãs para não sofrer o peso da solidão.
Nada disto seria, assim, tão grave, como é, se não servisse de um mau exemplo para os nossos jovens do ensino secundário que desperdiçam energias em ingentes tarefas escolares num percurso de 3 anos lectivos de sangue, suor e lágrimas para obterem um diploma que, sabemos agora, mais não vale que os cinco réis de mel coado de uma equivalência a seis meses de Novos Oportunismos.
Ora,um estado que despende balúrdios com escolas estatais de ensino secundário para fazerem o mesmo que as Novas Oportunidades (com formadores mal pagos e vítimas de instabilidade contratual) deverá ser responsabilizado pelo mau uso que faz dos dinheiros públicos, os nossos impostos. Impostos que muito se irão agravar num próximo ano de grande sacrifício para as famílias portuguesas que passarão a ser prejudicadas por tectos mais baixos no que respeita a despesas do âmbito da educação dos seus filhos para efeitos de IRS.
Todo este circo pode ser sintetizada neste excerto de um texto de Mario Perniola, professor de Estética da Universidade “Tor Vergata" de Roma. Escreveu ele:
”Os fautores da tradição, que apelam para os valores, para o classicismo, para o canôn, são postos fora do jogo por esses funâmbulos, esses equilibristas, esses acrobatas, que também querem ser eternizados no bronze e no mármore. E quem diz que o não conseguem? Há sempre uma caterva de ingénuos prontos a escrever a história da última idiotice, a solenizar as tolices, a encontrar significados recônditos nas nulidades, a conceder entrada às imbecilidades no ensino de todas as ordens e graus, pensando que fazem obra democrática e progressista que vão ao encontro dos jovens e do povo, que realizam a reunião da escola com a vida”.
Ora, como nos ensina a sabedoria popular, "nas costas dos outros lemos as nossas". Não será altura, portanto, de meditarmos, os seus responsáveis e todos nós, sobre os funestos efeitos de uma pretensa "obra democrática e progressista" que nos querem impingir, à viva força, e que mais não é do que querer fazer passar o gato por lebre? Refiro-me, é óbvio, às Novas Oportunidades!
Por Rui Baptista (De Rerum Natura)
Excertos seleccionados por Zé da Silva
sexta-feira, 22 de outubro de 2010
Matar os sonhos para alimentar os mercados
Se há coisa que, de tão confrangedora, se tornou, já, insuportável é assistir a discursos políticos moldados à tirania dos mercados.
Mercados para aqui,
mercados para ali,
é preciso dar sinais claros aos mercados,
cuidado que os mercados estão à espreita,
temos de sossegar os mercados.
Em suma: os políticos, em Portugal e, de uma forma geral, no Mundo civilizado, transformaram-se em marionetas dos especuladores, paus-mandados dos cérebros proeminentes que iluminam as agências de rating. Acordam a pensar nos índices bolsistas, adormecem atormentados pelos juros da dívida. A política perdeu, irremediavelmente, a batalha para a economia. Podemos culpar a crise, mas devemos culpar, sobretudo, a política.
[...]
Em Portugal, servir a população, cumprindo o dever de alcançar o bem público, é não atacá-la em demasia. Não nos darem más notícias são boas notícias. Mas num momento em que os portugueses mais precisam que lhes falem ao coração, assistimos com tristeza, e não com surpresa, ao aniquilamento das pessoas em detrimento dos mercados.
As decisões já não parecem ser tomadas porque vão favorecer-nos ou prejudicar-nos, mas apenas tendo em conta o impacto nos mercados. O ataque sem precedentes aos orçamentos familiares que este Governo patrocinou (um casal da classe média com dois filhos, por exemplo, vai transformar-se pura e simplesmente num escravo da máquina fiscal) é sintomático.
Matam-se os sonhos de milhões, mas mantém-se bem alimentada a voracidade do mercado.
No fundo, como se as pessoas só existissem para lhe dar a comida à mão, acariciá-lo no dorso e confortá-lo: "Não te preocupes, eu posso passar fome, mas a ti não te faltará nada".
E diz cá o Zé da Silva: Alberto Pimenta, vem fazer o teu discurso (não ao Pedro, claro)
Descobri o simplex
Tenho mais medo de entrar numa repartição de Finanças ou da Segurança Social do que no consultório do dentista. Por isso, quando entrei na Segurança Social para pedir um documento a provar que não devo nada a ninguém, até tremia. Tirei a senha e, oh alegria!, era a senha 35 e já iam na 14, não devia demorar muito.
Nem valia a pena sentar-me, fiquei encostada à parede a olhar para os que iam chegando, e tirando senhas, e suspirando.
Quando, hora e meia depois, ainda se continuava na senha 14, comecei a não achar graça.
Reparo então - tenho pouca prática destas coisas - numas senhas com a designação de "prioritárias". Pergunto quais as prioridades que abrangem - mas ninguém me sabe responder.
De repente, num ecrã em que passa muita informação a correr, com toda a gente a sorrir muito, a dizerem-nos - a nós, que já ali estamos há horas - como tudo agora é fácil e rápido, descubro que basta uma pessoa ter mais de 65 anos para usufruir dessa benesse.
Tiro outra senha, desta vez a 20, quando já estavam a chamar a 10. Óptimo, agora é que era.
O pior é que se estava na hora do almoço - e ,durante mais de uma hora, nenhuma senha mexeu.
Palavra que temi um levantamento popular. Uma senhora começou a fazer um comício às massas, "devíamos era ir com panelas a São Bento!", mas como a maior parte não estava a perceber o que faziam ali as panelas, ela lá explicou que era uma coisa que tinha acontecido no Chile, mas na sua cabeça as coisas deviam andar um pouco baralhadas porque, dali a momentos, já era a Argentina e as mães da Praça de Maio, e nós que éramos todos uns bananas, que amochávamos tudo. Desiste de esperar e vai embora, ela e mais alguns, e por isso, ao fim de seis horas de ali estar, chamam-me para me informarem que o que eu quero não é com eles.
Deve ser a isto que o nosso primeiro chama o "simplex".
quarta-feira, 20 de outubro de 2010
Paulo Guinote – notas do seu blogue
1-«Negociação deve fazer-se de boa fé», diz PS
Sem se pronunciar sobre os pressupostos em concreto avançados hoje pelo PSD para viabilizar o Orçamento do Estado, Fernando Medina, o porta-voz do PS, diz esperar que a notícia não se confirme.
Mas o actual PS entrou em alguma negociação de boa-fé seja com quem for?
Isto é como o lobo a pedir aos cordeirinhos para não serem mauzinhos…
===========================
2- O FMI
Há perto de 30 anos as elites políticas e económicas clamavam pela vinda do FMI como forma de legitimarem as suas políticas perante a populaça.
Neste momento, paradoxalmente, são essas mesmas elites que se mostram alvoroçadas pela eventual (e muito aumentada em relação à realidade) vinda do FMI.
Será que alguém receia que uma auditoria verdadeiramente externa descubra algo incómodo? Ou um conjunto de algos?
===========================
3- Governo anuncia extinção de entidades que não existem
São pelo menos nove os organismos que o Governo anunciou que iria extinguir no próximo ano e que, afinal, já não existem ou cujo encerramento já estava previsto para este ano. Da lista de 50 organismos, cerca de 18% são, assim, extinções ‘virtuais’ – em 2011 já não existiriam, ou não deviam existir, por ordem do Governo
===========================
4- Estudos...
De acordo com o secretário de Estado, os técnicos neste domínio, terapeutas ocupacionais, terapeutas da fala, fisioterapeutas, formadores e intérpretes de linguagem gestual portuguesa passaram de 1289 para 1300, enquanto os assistentes operacionais passaram de 700 para 714.
Alexandre Ventura reafirmou a aposta do Ministério da Educação neste domínio e lembrou que o Governo encomendou um estudo para acompanhar as medidas no terreno que estará concluído em Dezembro e apresentará recomendações para a melhoria do sistema.
A encomenda do estudo é que realmente não poderia faltar, porque se há algo que nos falta é estudos sobre Educação.
===========================
5- Telhados de vidro...
Pedro Silva Pereira em directo, em várias televisões, com um comunicado chato como tudo, fazendo uma retrospectiva obviamente spinada do que se tem passado (como pode este senhor criticar debates em praça pública quando ele veio contar conversas teoricamente privadas entre Sócrates e Passos Coelho?). Antes, outros dois Pedros (Adão e Silva e Marques Lopes), reeditaram engomados duelos blogosféricos e radiofónicos com zero novidades e repetindo lugares-mais-do-que-comuns, na SICN.
Isto vai ser duro…
Sem se pronunciar sobre os pressupostos em concreto avançados hoje pelo PSD para viabilizar o Orçamento do Estado, Fernando Medina, o porta-voz do PS, diz esperar que a notícia não se confirme.
Mas o actual PS entrou em alguma negociação de boa-fé seja com quem for?
Isto é como o lobo a pedir aos cordeirinhos para não serem mauzinhos…
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2- O FMI
Há perto de 30 anos as elites políticas e económicas clamavam pela vinda do FMI como forma de legitimarem as suas políticas perante a populaça.
Neste momento, paradoxalmente, são essas mesmas elites que se mostram alvoroçadas pela eventual (e muito aumentada em relação à realidade) vinda do FMI.
Será que alguém receia que uma auditoria verdadeiramente externa descubra algo incómodo? Ou um conjunto de algos?
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3- Governo anuncia extinção de entidades que não existem
São pelo menos nove os organismos que o Governo anunciou que iria extinguir no próximo ano e que, afinal, já não existem ou cujo encerramento já estava previsto para este ano. Da lista de 50 organismos, cerca de 18% são, assim, extinções ‘virtuais’ – em 2011 já não existiriam, ou não deviam existir, por ordem do Governo
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4- Estudos...
De acordo com o secretário de Estado, os técnicos neste domínio, terapeutas ocupacionais, terapeutas da fala, fisioterapeutas, formadores e intérpretes de linguagem gestual portuguesa passaram de 1289 para 1300, enquanto os assistentes operacionais passaram de 700 para 714.
Alexandre Ventura reafirmou a aposta do Ministério da Educação neste domínio e lembrou que o Governo encomendou um estudo para acompanhar as medidas no terreno que estará concluído em Dezembro e apresentará recomendações para a melhoria do sistema.
A encomenda do estudo é que realmente não poderia faltar, porque se há algo que nos falta é estudos sobre Educação.
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5- Telhados de vidro...
Pedro Silva Pereira em directo, em várias televisões, com um comunicado chato como tudo, fazendo uma retrospectiva obviamente spinada do que se tem passado (como pode este senhor criticar debates em praça pública quando ele veio contar conversas teoricamente privadas entre Sócrates e Passos Coelho?). Antes, outros dois Pedros (Adão e Silva e Marques Lopes), reeditaram engomados duelos blogosféricos e radiofónicos com zero novidades e repetindo lugares-mais-do-que-comuns, na SICN.
Isto vai ser duro…
terça-feira, 19 de outubro de 2010
OE2011 - O momento ZERO
O orçamento de estado para 2011, e o momento do seu debate já nos dias 28 e 29 de Outubro, é um assunto de extrema importância para o nosso futuro próximo. Na verdade, considero-o tão decisivo que decidi ir assistir ao vivo (com convite e tudo) ao debate na assembleia da república. Será uma sessão que marcará, para o bem ou para o mal, a história deste país. Será um momento para perceber de que matéria são feitos os nossos políticos. O que têm como prioridade. Que lugar ocupa o país e os portugueses nas suas preocupações.
Pois será esse debate, que espero que as televisões e rádios transmitam em directo, sem cortes, nem comentários dos "inteligentes" profissionais, que marcará o momento ZERO da nossa vida nos próximos anos. Não são os múltiplos apelos a Pedro Passos Coelho para que engula um sapo e deixe passar o orçamento de José Sócrates. [...] Nem os apelos daqueles que pensam o contrário [...], nem os muitos apelos e pressões daqueles que já tendo ocupado funções no estado são também co-responsáveis pela situação a que chegamos (são tantos os apelos que não coloco nenhum link, basta googlar).
Digo o momento ZERO porque vai marcar a diferença e vai definir o futuro. Será nessa altura que saberemos, se é que já não sabemos, se este país vale ou não a pena e tomaremos todos, pessoalmente, as medidas que considerarmos necessárias para a nossa vida e para a vida da nossa família. É isto que os políticos não compreendem, tão atarefados que andam com as suas guerras de poder. Este país pode deixar de ser importante e deixar de valer a pena para muitos portugueses. Muitos deles podem pensar que o seu futuro não passa por Portugal aumentando a já vergonhosa (para um país europeu) taxa de emigração (mais de 50 mil por ano). Muitos, a maioria, fartos desta TRETA, podem desistir. Não percebem, pois não? Os países ou regiões, antes de espaços geográficos, políticos ou económicos, são a sua população. São as pessoas que fazem a diferença e moldam o futuro. Perder as pessoas, especialmente aquelas que fazem a diferença, aquelas que sabem identificar oportunidades e as perseguem tenazmente, perder as pessoas com atitude, é só o fim do fim.
Mercados
Foram anunciadas medidas de austeridade muito violentas (redução de salários na função pública, aumento do IVA em 2%, aumento de impostos, etc.) que têm como objectivo resolver o nosso problema de contas públicas: deficit orçamental (que pretende ser de 7.6% este ano, 4.3% em 2011 e 3% em 2012) e dívida soberana (que atinge neste momento 236% do PIB e é a 10ª maior dívida pública do mundo em função do PIB). Este pacote de medidas (o famoso PEC3), segue-se a outro (PEC2), anunciado em Maio deste ano, que foi classificado pelo PM como sendo necessário e suficiente.
Mas logo percebemos que o esforço não era para todos. Apareceram logo as excepções e recuos. Uma LONGA LISTA de pessoas, entidades e instituições que não fazem o esforço dos outros. E também percebemos que este esforço não chega. Em 2011 serão necessários mais cortes, mais esforço, mais sacrifício. Para quê? Para tapar os buracos que o nosso percurso errático e sem objectivos tem produzido. É assim quando se chega ao fim.
Sabem, estou convencido que enfrentamos um problema de regime. O nosso problema é que a situação do país se tem agravado ao longo dos anos. Não temos um projecto nacional, objectivos a atingir, nem uma ideia clara do que queremos ser daqui a 15 ou 20 anos. Sem objectivos e sem planos isto é muito complicado. É andar ao sabor do vento. Ora Portugal foi grande quando aprendeu a aproveitar o vento para atingir os seus objectivos: navegou à bolina e os resultados são por todos conhecidos. Descobrimos novos mundos com as nossas naves espaciais (as caravelas), fizemos evoluir o conhecimento, marcamos a diferença e fazemos saber que tudo "vale a pena quando a alma não é pequena". Até dividimos o mundo ao meio, com a Espanha.
Assim, da forma que vivemos, estou certo que se o Bill Gates conseguisse convencer o grupo dos mais ricos do mundo a pagar toda a nossa dívida pública, isso não serviria de nada porque depressa ela voltava. E se calhar ainda com mais força. Porque o nosso deficit é de atitude e cultural, isto é, o de viver sem objectivos acima das nossas possibilidades: é um deficit de responsabilidade (como dizia um amigo meu há dias: "norberto, isto é tudo um bando de garotos a brincar com o país"). O deficit das contas públicas é só uma consequência, assim como o descalabro da educação, da justiça, da saúde, da segurança-social, etc. Um país à deriva, um povo sem rumo. Bem dizia Camões: fraco rei faz fraca a sua forte gente.
Por isso não somos credíveis no exterior. Enfrentamos o problema que enfrentamos porque quem nos emprestou (e continua a emprestar) dinheiro não acredita (ou tem sérias e crescentes dúvidas) que somos capazes de pagar. E não é desta forma que vão acreditar. É preciso ser claro. Em 2011 e anos seguintes aparecerão outras despesas para pagar: mais um submarino, as SCUTS, as parcerias público-privadas, as contas escondidas da saúde, de empresas públicas, etc.
E não foi o anúncio destas medidas que acalmou os mercados. Não. Está tudo como estava, senão ligeiramente pior. O problema é a falta de credibilidade. As medidas não estão certas, não são suficientes, são complicadas de implementar e não são verdadeiramente entendidas pelo país ao mais alto nível. Os famosos mercados apercebem-se disso, percebem que não existe uma verdadeira vontade de mudar de vida, e com isso esfuma-se a nossa credibilidade junto deles.
Por isso, para mim não é líquido que seja um descalabro que o OE2011 não seja aprovado. O verdadeiro descalabro é que não exista uma mensagem de esperança, um plano consequente, entendido por todos, que mostre bem a todos que ACABOU. Precisamos de mudar de vida HOJE. E que isso vai ser a nossa missão nos próximos MUITOS ANOS. É nestas alturas que aparecem, ou não, os líderes e se faz a sorte de uma nação e de um povo.
Liderança
Em minha opinião só existe uma forma de resolver isto. Com um plano sério, a 15 ou 20 anos. [...]
Mas também um plano que explique por que razão não o fizemos até hoje. Por que razão desperdiçamos as várias oportunidades que tivemos, não sendo capazes de fazer aquilo que então afirmaríamos ser capazes. Temos muito que explicar. Por isso, só seremos convincentes se inscrevermos estes objectivos e limites na lei constitucional. Só assim acreditarão em nós. Só assim perceberão que estamos conscientes e firmemente empenhados em cumprir os nossos compromissos e introduzir as reformas que são necessárias e urgentes para que o problema não se repita.
[...]
Os problemas resolvem-se com estudo e com trabalho, e não com facilitismo e aldrabice. O primeiro caminho gera confiança, credibilidade e respeito, o segundo já todos percebemos ao que conduz.
Um caminho claro, bem afirmado e realista, mesmo que difícil, gerará a confiança e credibilidade necessárias.
Qual é o drama?
[...]
O drama é que a "politiquice" se sobreponha aos superiores interesses nacionais. O drama é o de verificarmos, nos dias 28 e 29, que afinal isto "é tudo um bando de garotos a brincar com o país".
Ora, os famosos mercados apercebem-se disso com facilidade. E deixarão de acreditar em nós. E isso é o fim de Portugal tal qual o conhecemos hoje.
Seis (6) meses só são muito importantes se no exterior perceberem que é indiferente que esteja A ou B, porque nada vai mudar. Esse é o nosso verdadeiro drama.
O que aí vem é dramático, seja qual for o caminho. Muito grave e muito complicado. Seja qual for a opção.
[...]
Ou QUEREM ou NÃO QUEREM.
Se não querem, o ultimo que feche a porta e apague a luz porque não vai haver dinheiro para pagar ao porteiro nem à companhia da electricidade.
J. Norberto Pires
Pois será esse debate, que espero que as televisões e rádios transmitam em directo, sem cortes, nem comentários dos "inteligentes" profissionais, que marcará o momento ZERO da nossa vida nos próximos anos. Não são os múltiplos apelos a Pedro Passos Coelho para que engula um sapo e deixe passar o orçamento de José Sócrates. [...] Nem os apelos daqueles que pensam o contrário [...], nem os muitos apelos e pressões daqueles que já tendo ocupado funções no estado são também co-responsáveis pela situação a que chegamos (são tantos os apelos que não coloco nenhum link, basta googlar).
Digo o momento ZERO porque vai marcar a diferença e vai definir o futuro. Será nessa altura que saberemos, se é que já não sabemos, se este país vale ou não a pena e tomaremos todos, pessoalmente, as medidas que considerarmos necessárias para a nossa vida e para a vida da nossa família. É isto que os políticos não compreendem, tão atarefados que andam com as suas guerras de poder. Este país pode deixar de ser importante e deixar de valer a pena para muitos portugueses. Muitos deles podem pensar que o seu futuro não passa por Portugal aumentando a já vergonhosa (para um país europeu) taxa de emigração (mais de 50 mil por ano). Muitos, a maioria, fartos desta TRETA, podem desistir. Não percebem, pois não? Os países ou regiões, antes de espaços geográficos, políticos ou económicos, são a sua população. São as pessoas que fazem a diferença e moldam o futuro. Perder as pessoas, especialmente aquelas que fazem a diferença, aquelas que sabem identificar oportunidades e as perseguem tenazmente, perder as pessoas com atitude, é só o fim do fim.
Mercados
Foram anunciadas medidas de austeridade muito violentas (redução de salários na função pública, aumento do IVA em 2%, aumento de impostos, etc.) que têm como objectivo resolver o nosso problema de contas públicas: deficit orçamental (que pretende ser de 7.6% este ano, 4.3% em 2011 e 3% em 2012) e dívida soberana (que atinge neste momento 236% do PIB e é a 10ª maior dívida pública do mundo em função do PIB). Este pacote de medidas (o famoso PEC3), segue-se a outro (PEC2), anunciado em Maio deste ano, que foi classificado pelo PM como sendo necessário e suficiente.
Mas logo percebemos que o esforço não era para todos. Apareceram logo as excepções e recuos. Uma LONGA LISTA de pessoas, entidades e instituições que não fazem o esforço dos outros. E também percebemos que este esforço não chega. Em 2011 serão necessários mais cortes, mais esforço, mais sacrifício. Para quê? Para tapar os buracos que o nosso percurso errático e sem objectivos tem produzido. É assim quando se chega ao fim.
Sabem, estou convencido que enfrentamos um problema de regime. O nosso problema é que a situação do país se tem agravado ao longo dos anos. Não temos um projecto nacional, objectivos a atingir, nem uma ideia clara do que queremos ser daqui a 15 ou 20 anos. Sem objectivos e sem planos isto é muito complicado. É andar ao sabor do vento. Ora Portugal foi grande quando aprendeu a aproveitar o vento para atingir os seus objectivos: navegou à bolina e os resultados são por todos conhecidos. Descobrimos novos mundos com as nossas naves espaciais (as caravelas), fizemos evoluir o conhecimento, marcamos a diferença e fazemos saber que tudo "vale a pena quando a alma não é pequena". Até dividimos o mundo ao meio, com a Espanha.
Assim, da forma que vivemos, estou certo que se o Bill Gates conseguisse convencer o grupo dos mais ricos do mundo a pagar toda a nossa dívida pública, isso não serviria de nada porque depressa ela voltava. E se calhar ainda com mais força. Porque o nosso deficit é de atitude e cultural, isto é, o de viver sem objectivos acima das nossas possibilidades: é um deficit de responsabilidade (como dizia um amigo meu há dias: "norberto, isto é tudo um bando de garotos a brincar com o país"). O deficit das contas públicas é só uma consequência, assim como o descalabro da educação, da justiça, da saúde, da segurança-social, etc. Um país à deriva, um povo sem rumo. Bem dizia Camões: fraco rei faz fraca a sua forte gente.
Por isso não somos credíveis no exterior. Enfrentamos o problema que enfrentamos porque quem nos emprestou (e continua a emprestar) dinheiro não acredita (ou tem sérias e crescentes dúvidas) que somos capazes de pagar. E não é desta forma que vão acreditar. É preciso ser claro. Em 2011 e anos seguintes aparecerão outras despesas para pagar: mais um submarino, as SCUTS, as parcerias público-privadas, as contas escondidas da saúde, de empresas públicas, etc.
E não foi o anúncio destas medidas que acalmou os mercados. Não. Está tudo como estava, senão ligeiramente pior. O problema é a falta de credibilidade. As medidas não estão certas, não são suficientes, são complicadas de implementar e não são verdadeiramente entendidas pelo país ao mais alto nível. Os famosos mercados apercebem-se disso, percebem que não existe uma verdadeira vontade de mudar de vida, e com isso esfuma-se a nossa credibilidade junto deles.
Por isso, para mim não é líquido que seja um descalabro que o OE2011 não seja aprovado. O verdadeiro descalabro é que não exista uma mensagem de esperança, um plano consequente, entendido por todos, que mostre bem a todos que ACABOU. Precisamos de mudar de vida HOJE. E que isso vai ser a nossa missão nos próximos MUITOS ANOS. É nestas alturas que aparecem, ou não, os líderes e se faz a sorte de uma nação e de um povo.
Liderança
Em minha opinião só existe uma forma de resolver isto. Com um plano sério, a 15 ou 20 anos. [...]
Mas também um plano que explique por que razão não o fizemos até hoje. Por que razão desperdiçamos as várias oportunidades que tivemos, não sendo capazes de fazer aquilo que então afirmaríamos ser capazes. Temos muito que explicar. Por isso, só seremos convincentes se inscrevermos estes objectivos e limites na lei constitucional. Só assim acreditarão em nós. Só assim perceberão que estamos conscientes e firmemente empenhados em cumprir os nossos compromissos e introduzir as reformas que são necessárias e urgentes para que o problema não se repita.
[...]
Os problemas resolvem-se com estudo e com trabalho, e não com facilitismo e aldrabice. O primeiro caminho gera confiança, credibilidade e respeito, o segundo já todos percebemos ao que conduz.
Um caminho claro, bem afirmado e realista, mesmo que difícil, gerará a confiança e credibilidade necessárias.
Qual é o drama?
[...]
O drama é que a "politiquice" se sobreponha aos superiores interesses nacionais. O drama é o de verificarmos, nos dias 28 e 29, que afinal isto "é tudo um bando de garotos a brincar com o país".
Ora, os famosos mercados apercebem-se disso com facilidade. E deixarão de acreditar em nós. E isso é o fim de Portugal tal qual o conhecemos hoje.
Seis (6) meses só são muito importantes se no exterior perceberem que é indiferente que esteja A ou B, porque nada vai mudar. Esse é o nosso verdadeiro drama.
O que aí vem é dramático, seja qual for o caminho. Muito grave e muito complicado. Seja qual for a opção.
[...]
Ou QUEREM ou NÃO QUEREM.
Se não querem, o ultimo que feche a porta e apague a luz porque não vai haver dinheiro para pagar ao porteiro nem à companhia da electricidade.
J. Norberto Pires
segunda-feira, 18 de outubro de 2010
SUBIR O IVA OU AJUDAR A ASCENDI?
18 Outubro de 2010 - Blogue Desmitos
Sabia que mais de metade das receitas projectadas com a subida do IVA vão "direitinhas" para os cofres de uma empresa privada? Sabia que as transferências dos dinheiros do Estado para esta empresa equivalem a mais de metade das poupanças arrecadadas com o corte de salários dos funcionários públicos?
Pois é, é verdade. Pelo menos, é isso o que nos informa o Relatório do Orçamento de Estado para 2011. Como todos sabemos, o projecto de Orçamento de Estado do governo dá azo ao maior aumento da carga fiscal das últimas décadas. Sobe-se o IVA, o IRS, as contribuições sociais, bem como toda uma série de taxas que farão diminuir o rendimento disponível das famílias e aumentar os custos das empresas e dos consumidores. Cortaram-se ainda salários, prestações sociais, despesas com a Saúde e os gastos com a Educação. Tudo em prol do "interesse nacional". Porém, sabia que o mesmo governo que está a querer aumentar o IVA vai igualmente transferir 587,2 milhões de euros para a ASCENDI, com a desculpa de levar a cabo a "reposição da estabilidade financeira" da empresa? E que esse "reforço" equivale a um aumento de 289,6% das verbas pagas à ASCENDI em relação a 2010? (p. 212 do Relatório do OE 2011)
Quem é a ASCENDI? É uma das empresas/grupos económicos que tem ajudado o governo na sua cruzada de "modernização" do país através da construção de mais de 850 quilómetros de auto-estradas em diversos pontos do país. E quem são os principais accionistas da ASCENDI? Depende da concessão em causa, mas são maioritariamente a Mota-Engil (entre 35% e 45% do total), a ES Concessões (detida pela Mota-Engil) e a OPway, entre outros.
Na sua mensagem de missão sobre a parceria da empresa com o nosso Estado, a ASCENDI revela bem o que lhe vai na alma: "Vemos o Estado Português como uma entidade que se confunde com o país, com o bem-estar e com o bem comum."
Pois é. E é esta "entidade que se confunde com o país" que prefere subir o IVA, taxar os contribuintes e cortar nas despesas da Educação e das prestações para reforçar a estabilidade financeira de uma empresa privada.
No entanto, se o Estado não estivesse interessado no "equilíbrio financeiro" da ASCENDI ou se, pelo menos, tivesse tentado renegociar contratos e prazos com esta empresa, talvez tivesse sido possível evitar parte do corte salarial dos funcionários públicos ou, pelo menos, evitar a subida do IVA em um ponto percentual.
Mas não. Afinal, por que é que haveríamos de nos preocupar com a descida do rendimento disponível dos portugueses ou com os efeitos recessivos que a subida do IVA provocará se o que está em causa é o "reforço da estabilidade financeira" da ASCENDI?
Sabia que mais de metade das receitas projectadas com a subida do IVA vão "direitinhas" para os cofres de uma empresa privada? Sabia que as transferências dos dinheiros do Estado para esta empresa equivalem a mais de metade das poupanças arrecadadas com o corte de salários dos funcionários públicos?
Pois é, é verdade. Pelo menos, é isso o que nos informa o Relatório do Orçamento de Estado para 2011. Como todos sabemos, o projecto de Orçamento de Estado do governo dá azo ao maior aumento da carga fiscal das últimas décadas. Sobe-se o IVA, o IRS, as contribuições sociais, bem como toda uma série de taxas que farão diminuir o rendimento disponível das famílias e aumentar os custos das empresas e dos consumidores. Cortaram-se ainda salários, prestações sociais, despesas com a Saúde e os gastos com a Educação. Tudo em prol do "interesse nacional". Porém, sabia que o mesmo governo que está a querer aumentar o IVA vai igualmente transferir 587,2 milhões de euros para a ASCENDI, com a desculpa de levar a cabo a "reposição da estabilidade financeira" da empresa? E que esse "reforço" equivale a um aumento de 289,6% das verbas pagas à ASCENDI em relação a 2010? (p. 212 do Relatório do OE 2011)
Quem é a ASCENDI? É uma das empresas/grupos económicos que tem ajudado o governo na sua cruzada de "modernização" do país através da construção de mais de 850 quilómetros de auto-estradas em diversos pontos do país. E quem são os principais accionistas da ASCENDI? Depende da concessão em causa, mas são maioritariamente a Mota-Engil (entre 35% e 45% do total), a ES Concessões (detida pela Mota-Engil) e a OPway, entre outros.
Na sua mensagem de missão sobre a parceria da empresa com o nosso Estado, a ASCENDI revela bem o que lhe vai na alma: "Vemos o Estado Português como uma entidade que se confunde com o país, com o bem-estar e com o bem comum."
Pois é. E é esta "entidade que se confunde com o país" que prefere subir o IVA, taxar os contribuintes e cortar nas despesas da Educação e das prestações para reforçar a estabilidade financeira de uma empresa privada.
No entanto, se o Estado não estivesse interessado no "equilíbrio financeiro" da ASCENDI ou se, pelo menos, tivesse tentado renegociar contratos e prazos com esta empresa, talvez tivesse sido possível evitar parte do corte salarial dos funcionários públicos ou, pelo menos, evitar a subida do IVA em um ponto percentual.
Mas não. Afinal, por que é que haveríamos de nos preocupar com a descida do rendimento disponível dos portugueses ou com os efeitos recessivos que a subida do IVA provocará se o que está em causa é o "reforço da estabilidade financeira" da ASCENDI?
sentido
(JN de hoje)
Não conheço ninguém que goste do Orçamento do Estado para 2011. Mais, não conheço ninguém que ache que este é um bom Orçamento. O drama começa logo entre quem o propõe: José Sócrates relembra, a cada passo, os apertos no coração ou as dores de alma que este Orçamento lhe provoca. Compreende-se, é a prova, preto no branco, que a prosperidade que nos andou a vender durante anos era uma fantasia descabelada. E confirma, se dúvidas houvesse, que os políticos, sobretudo quando estão no Poder, se transformam em gente incapaz de falar verdade.
O drama continua com quem tem de o aprovar, ou seja, os deputados. Não deve haver um único que acredite neste Orçamento. Sendo que os do PS limitar-se-ão a cumprir as ordens do chefe, com mais ou menos entusiasmo. O folhetim joga-se portanto no lado do PSD. É o único partido de oposição com verdadeiro poder de influenciar a decisão. E quase todos dizem que acabará por viabilizar a proposta, optando pela abstenção. Com isso perderá a pouca credibilidade que eventualmente lhe sobrava. Depois de meses a pregar contra o aumento de impostos, lá terá de aprovar o maior ataque fiscal de que há memória em Portugal. E a ser assim fica a curiosidade de saber que pedido de desculpas fará Passos Coelho desta vez.
O drama adensa-se quando se percebe que até "a última reserva do país" manifesta reservas quanto a este Orçamento. É sempre difícil perceber o que quer dizer Cavaco Silva, mas parece evidente que, quando manifesta esperança num "Orçamento eventualmente melhor", está a dizer-nos que o actual não é grande coisa.
Como é evidente, quem tem de pagar este Orçamento também não pode gostar dele. Os professores, polícias, juízes, médicos, resumindo, os funcionários públicos, não apreciaram o corte nos salários até 10%. A classe média trabalhadora, desde os remediados aos mais abastados, não aceita a rapina do Fisco sobre os seus salários. Os pensionistas mais pobres não apreciam piorar o seu já miserável poder de compra, os remediados não vêem com bons olhos a perda de qualidade de vida. As famílias mais pobres não podem aplaudir o fim do abono de família, as reduções no Rendimento Social de Inserção, as restrições ao subsídio de desemprego, sobretudo quando sabem que faltarão aos seus filhos as migalhas que até aqui permitiam sobreviver.
Repito, não há ninguém que goste deste Orçamento, ninguém que o considere um bom Orçamento. Todos reconhecem que o país ficará mais pobre, que vem aí mais uma recessão e, com ela, ainda mais pobreza, mais impostos, mais recessão, e outra vez mais pobreza, num ciclo infernal sem fim. Mas ao mesmo tempo insistem os políticos no poder que temos de engolir, de aceitar, de aprovar o Orçamento. Porque é preciso dar um sinal ao mercado, ou seja, aos que especulam com o dinheiro. Mas que sentido é que isto faz?
domingo, 17 de outubro de 2010
O nosso dinheiro...
Para se perceber como aqueles que negociaram certos negócios do Estado deveriam ter o decoro de não vir agora explicar como devemos sair da crise e do défice.
Bastava não terem feito o que fizeram, com contratos ruinosos para o Estado.
E depois o pagamento a 115.000 professores e 40.000 contratados é que são o problema?
Os últimos 20 anos foram um forrobodó para muita gente e agora os funcionários públicos é que são quem paga?
E os senhores secretários e ministros que se foram acoitar nas empresas com quem fizeram negócios quando governantes?
in educar.wordpress.com
Bastava não terem feito o que fizeram, com contratos ruinosos para o Estado.
E depois o pagamento a 115.000 professores e 40.000 contratados é que são o problema?
Os últimos 20 anos foram um forrobodó para muita gente e agora os funcionários públicos é que são quem paga?
E os senhores secretários e ministros que se foram acoitar nas empresas com quem fizeram negócios quando governantes?
in educar.wordpress.com
sábado, 16 de outubro de 2010
O que Deus dá com uma mão José Sócrates tira com as duas
Tiago Mesquita (www.expresso.pt)
O OE é um bilhete sem regresso para o descalabro social. Banqueiros, Boys e outros desesperam pela aprovação. Ninguém parece perceber que o Primeiro-Ministro deseja exactamente o contrário. A saída de emergência.
O Orçamento em si, repleto de medidas inqualificáveis e injustas, os apelos de aprovação feitos à oposição sempre de pedra na mão e um ar "tasqueiro" de desafio, a chantagem permanente, o tom intimidatório e os insultos demonstram uma coisa: o Primeiro-Ministro quer tanto ver este orçamento aprovado como eu quero vê-lo ganhar as próximas legislativas.
Sócrates não pode manifestar abertamente este secreto desejo. Estaria a ser verdadeiro, o que seria inadmissível e contranatura. A irresponsabilidade é tal que prefere salvaguardar a face no dia da despedida, munido de um bode expiatório orçamental laranja, a ter de assumir os erros de gestão que cometeu desde o primeiro dia em que se sentou em São Bento. E foram milhões de erros. Esta governação é a pior de sempre da história da República portuguesa. O maior ataque à classe média de que há memória.
As pessoas de bem, as que efectivamente se preocupam com a coisa e causas públicas e não só com o próprio bem-estar, sem aquecerem poleiros de boys & girls, sem viverem amedrontadas com a indisposição dos donos (banqueiros) como lacaios incapazes ou com a inquietude nos clientes habituais de negócios "bronzeados", estranhas parcerias e concessões, contratos maquilhados em escritórios de advogados 5-à-Sec, obviamente defendem o que julgam ser o melhor para o país. Seja este "melhor" a aprovação ou não deste Orçamento. Não interessa, são honestas de pensamento.
Mas aconteça o que acontecer, uma verdade é indesmentível: José Sócrates ganhou esta guerra. Apontou baterias ao adversário e centrou nele a responsabilidade de um débil e desequilibrado OE vir ou não a ser aprovado. Criou-se a ilusão de que todos devemos dinheiro ao Estado. Ouço falar um Ministro e tiro logo 5 euros do bolso para lhe dar. A perda de direitos tornou-se trivial. Subidas de impostos banais. Cortes todos os dias. Vivemos uma mentira. Vamos ao supermercado e somos assaltados pela máquina registadora: 23% de IVA ou levas um tiro nas fuças.
Velhos babões e anafados, enroscados em pensões chorudas incutem-nos a ideia de que somos nós quem tem de pagar a crise. Que o governo sofredor é alheio ao que nos está a acontecer. Ide babar longe. Que os mercados internacionais são a causa disto tudo. Que o governo tem feito um excelente trabalho. Que agora uns malandros estão a tentar impedi-lo de continuar a brilhante gestão, e que sem Orçamento serão "forçados" a abandonar o poder e a obra que sonharam para o país. Hipócritas. Ranho político. Assumam-se e assumam. Não fujam como ratos.
Ganhou ainda porque os portugueses desistiram. Ganhou porque já ninguém acredita em nada ou ninguém. Ganhou porque a maioria de nós perdeu a esperança. Ganhou porque secou tudo o que o rodeia. E, qual última estocada, ganhará se Pedro Passos Coelho chumbar o Orçamento. Sairá descansado e desresponsabilizado, deixando um país ajoelhado e em agonia pelas costas. Pura cobardia.
quinta-feira, 14 de outubro de 2010
Sócrates quer eleições
CARLOS ABREU AMORIM (DN)
Sócrates bem como a maioria dos que folgam em o acolitar provaram ser péssimos governantes. Destituídos de sentido de Estado, reagiram à crise negando-a, camuflando-a, alindando perfidamente os seus efeitos até às legislativas de Setembro de 2009. Depois, temendo novas eleições, adiaram os óbvios remédios para a trágica situação do País até que a infecção financeira se aproximou do ponto do não retorno - cometeram, inclusive, a trágica proeza de subir a despesa pública quando todos (mas mesmo todos) os Governos dignos desse nome já executavam severos planos de austeridade. O Plano Sócrates revela-se, assim, funestamente tardio. Para além disso, é um roteiro orçamental descompassado, socialmente injusto e que repisa o vetusto artifício cultivado por todos os maus ministros das Finanças que nos têm assolado desde há décadas: o tique compulsivo de subir os impostos como terapia que tudo adia e nada cura.
Mas se Sócrates se mostrou incapaz de governar é forçoso reconhecer-lhe um enorme talento para engendrar campanhas publicitárias e ganhar eleições.
2 O Governo não quer um acordo com o PSD ou o CDS visando a aprovação do futuro Orçamento. Todos os indícios transmitem a percepção de que o PS planeia uma fuga para a frente que redundará em eleições antecipadas - desde que consiga fazer passar a ideia de que toda a inflexibilidade está do lado do PSD.
Em parte alguma do mundo democrático se tem como razoável que um Governo minoritário apresente um Orçamento como quem impõe um documento intocável, de conteúdo irrecusável e inegociável - a não ser que a verdadeira intenção, não enunciada, seja coagir uma rejeição liminar por parte daqueles com quem esse Orçamento deveria ser ajustado.
3 Nas duas últimas semanas, o marketing suplantou a política e arredou qualquer laivo de racionalidade ainda resistente. Numa inversão descarada da realidade, as baterias comunicacionais do Governo, em patente prática concertada com aqueles que se habituaram a confundir as conveniências pessoais de Cavaco Silva com o interesse nacional, apregoaram a ideia falaciosa de que chumbar o Orçamento acarretaria, por si só, todos os efeitos nefastos da crise. De repente, contrariando os factos e a história, fabricou-se e difundiu-se a convicção de que a culpa da crise, afinal, pertenceria ao PSD por não ter admitido, instantaneamente e às cegas, o Orçamento antes de conhecer as suas linhas gerais. Pelos vistos, segundo as subidas inteligências atreladas em parelha a Belém e S. Bento, todo o mal que nos está a acontecer e o muito que está quase a chegar deve-se a Passos Coelho, que é líder do PSD há seis meses, e não a José Sócrates, que nos desgoverna há quase seis anos...
4 Sócrates sabe que 2011 vai ser uma agonia que nada aliviará. A táctica, simplória mas eficaz para os mais distraídos, consiste em tentar impingir um Orçamento impróprio, para, após uma recusa induzida, afiançar que o FMI só entrou em Portugal por culpa do PSD. Provocar uma crise política é a saída natural para a inépcia governativa de Sócrates. Depois, resta-lhe arriscar a sobrevivência em eleições de tudo ou nada - Portugal faz as vezes de mero figurante nesta ópera bufa.
Sócrates bem como a maioria dos que folgam em o acolitar provaram ser péssimos governantes. Destituídos de sentido de Estado, reagiram à crise negando-a, camuflando-a, alindando perfidamente os seus efeitos até às legislativas de Setembro de 2009. Depois, temendo novas eleições, adiaram os óbvios remédios para a trágica situação do País até que a infecção financeira se aproximou do ponto do não retorno - cometeram, inclusive, a trágica proeza de subir a despesa pública quando todos (mas mesmo todos) os Governos dignos desse nome já executavam severos planos de austeridade. O Plano Sócrates revela-se, assim, funestamente tardio. Para além disso, é um roteiro orçamental descompassado, socialmente injusto e que repisa o vetusto artifício cultivado por todos os maus ministros das Finanças que nos têm assolado desde há décadas: o tique compulsivo de subir os impostos como terapia que tudo adia e nada cura.
Mas se Sócrates se mostrou incapaz de governar é forçoso reconhecer-lhe um enorme talento para engendrar campanhas publicitárias e ganhar eleições.
2 O Governo não quer um acordo com o PSD ou o CDS visando a aprovação do futuro Orçamento. Todos os indícios transmitem a percepção de que o PS planeia uma fuga para a frente que redundará em eleições antecipadas - desde que consiga fazer passar a ideia de que toda a inflexibilidade está do lado do PSD.
Em parte alguma do mundo democrático se tem como razoável que um Governo minoritário apresente um Orçamento como quem impõe um documento intocável, de conteúdo irrecusável e inegociável - a não ser que a verdadeira intenção, não enunciada, seja coagir uma rejeição liminar por parte daqueles com quem esse Orçamento deveria ser ajustado.
3 Nas duas últimas semanas, o marketing suplantou a política e arredou qualquer laivo de racionalidade ainda resistente. Numa inversão descarada da realidade, as baterias comunicacionais do Governo, em patente prática concertada com aqueles que se habituaram a confundir as conveniências pessoais de Cavaco Silva com o interesse nacional, apregoaram a ideia falaciosa de que chumbar o Orçamento acarretaria, por si só, todos os efeitos nefastos da crise. De repente, contrariando os factos e a história, fabricou-se e difundiu-se a convicção de que a culpa da crise, afinal, pertenceria ao PSD por não ter admitido, instantaneamente e às cegas, o Orçamento antes de conhecer as suas linhas gerais. Pelos vistos, segundo as subidas inteligências atreladas em parelha a Belém e S. Bento, todo o mal que nos está a acontecer e o muito que está quase a chegar deve-se a Passos Coelho, que é líder do PSD há seis meses, e não a José Sócrates, que nos desgoverna há quase seis anos...
4 Sócrates sabe que 2011 vai ser uma agonia que nada aliviará. A táctica, simplória mas eficaz para os mais distraídos, consiste em tentar impingir um Orçamento impróprio, para, após uma recusa induzida, afiançar que o FMI só entrou em Portugal por culpa do PSD. Provocar uma crise política é a saída natural para a inépcia governativa de Sócrates. Depois, resta-lhe arriscar a sobrevivência em eleições de tudo ou nada - Portugal faz as vezes de mero figurante nesta ópera bufa.
quarta-feira, 13 de outubro de 2010
Mas os homens estão tolinhos ou quê?
[...] para alguns ex-Presidentes da República o maior problema de Portugal é a avaliação dos professores e não o subdesenvolvimento económico, a corrupção, o nepotismo, o mau uso dos dinheiros públicos e tudo isso.
O problema maior deste país é a ADD [Avaliação do Desempenho Docente]. Tinha de Ramalho Eanes e Jorge Sampaio (embora não tendo votado em nenhum, num caso por falta de idade e no outro por abstencionismo) uma ideia simpática e não os fazia tão enviesados e limitados na forma de encarar os males do país. Podiam ter exemplificado os bloqueios legislativos com o que se passou com o pacote Cravinho sobre a corrupção (Acho que Jorge Sampaio o conhece…) ou mesmo com outras matérias mais sensíveis. Mas não, os professores é que lhes metem confusão. Realmente, há quem invente fantasmas úteis, para esconder os esqueletos que todos conhecemos.
E digo eu:
Estes velhinhos eram muito mais espertos... Vejam-nos:
Muppet show
O problema maior deste país é a ADD [Avaliação do Desempenho Docente]. Tinha de Ramalho Eanes e Jorge Sampaio (embora não tendo votado em nenhum, num caso por falta de idade e no outro por abstencionismo) uma ideia simpática e não os fazia tão enviesados e limitados na forma de encarar os males do país. Podiam ter exemplificado os bloqueios legislativos com o que se passou com o pacote Cravinho sobre a corrupção (Acho que Jorge Sampaio o conhece…) ou mesmo com outras matérias mais sensíveis. Mas não, os professores é que lhes metem confusão. Realmente, há quem invente fantasmas úteis, para esconder os esqueletos que todos conhecemos.
E digo eu:
Estes velhinhos eram muito mais espertos... Vejam-nos:
Muppet show
Olha para este!...
O presidente do PSD disse hoje, em Rio Maior, que, se não fossem as eleições presidenciais, estaria hoje a apresentar uma moção de censura ao Governo e não a discutir se deixava ou não passar o Orçamento do Estado (OE).
in DN
Claro! E se a minha avó não morresse ainda hoje era viva!
in DN
Claro! E se a minha avó não morresse ainda hoje era viva!
domingo, 10 de outubro de 2010
10 de Outubro de 2012: PEC VII
Estamos em 10 de Outubro de 2012. A Comissão Europeia, face ao caos instalado na economia da maioria dos países da comunidade, resolveu dar mais cinco anos a Portugal para reduzir o seu défice orçamental, dos actuais 19% do PIB, para os 10%, a nova meta da União. Foram igualmente reduzidas a metade as coimas que desde 2011 nos foram sucessivamente aplicadas por incumprimento das metas a que nos propusemos. Os fundos estruturais, esses, continuam cativos.
Entretanto, o primeiro-ministro falou ontem ao país, logo após o Conselho de Ministros ter aprovado o Orçamento Estado para 2013, já apelidado de PEC VII.
Tranquilizador, convincente, determinado, assegurou-nos que este será o último apertar de cinto. "2013, ou não fosse 13, será o ano da recuperação".
Tudo começará a melhorar. Para além do equilíbrio das contas públicas, com a tal descida de 9 pontos percentuais num ano, são variadas e optimistas as metas do executivo.
A dívida pública descerá de 300% para 250% do PIB.
O desemprego manter-se-á estável nos 25% da população activa. A recessão será menos grave que a do ano passado e só atingirá os -5% do produto.
A política salarial já dará um ar da sua graça. Ao contrário do corte salarial de 20% de 2011, a quebra deste ano não atingirá os 10%. Razoável, ao fim e ao cabo, desde 2009, os funcionários só ficarão a perder cerca de metade do seu ordenado mensal. Os subsídios de férias e décimo terceiro mês serão pagos em certificados de aforro reembolsáveis a 50 anos, contrastando com o reembolso a 75 anos do ano transacto.
A política fiscal será generosa. O IVA só subirá dos actuais 29 para os 31%.
Os transportes públicos já funcionarão 5 dias por semana, ao contrário das segundas, quartas e sextas do ano passado. Os hospitais só fecharão ao fim de semana e as escolas públicas à segunda e quarta-feira.
Quanto ao mais o país está tranquilo e abrem-se perspectivas de continuar a existir a estabilidade propícia ao renascer da esperança. Há dois dias, após um esforço diplomático de Luís Amado, foram proibidas pelas autoridades locais as manifestação de 50 mil jovens portugueses, licenciados desempregados, que trabalham como empregados de mesa nos aeroportos de Gatwick e Orly.
O reforço da polícia de intervenção nas áreas metropolitanas continua eficaz, evitando a sublevação dos bairros de lata que reapareceram nas cinturas suburbana de Lisboa e Porto.
Jaime Gama continua a presidir interina mas sensatamente aos destinos da República - recordamos que Cavaco Silva venceu com 2/3 dos votos, à primeira volta, as eleições presidenciais de Janeiro de 2011. Só que continua ainda a marinar no Tribunal Constitucional a providência cautelar de Ribeiro e Castro do CDS e o recurso de Francisco Lopes da CDU. O primeiro reclamando por Cavaco Silva ter sido muito brando com Sócrates, conquistando assim eleitorado à esquerda e o segundo protestando por Manuel Alegre ter exagerado na oposição a um Governo e a um primeiro-ministro que estavam em peso na sua Comissão de Honra. Não há drama, o Ministro da Justiça já nos tranquilizou. O diferendo estará esclarecido antes de 2016, data de realização das próximas presidenciais.
Finalmente, abre-se uma luz na frente parlamentar. Ontem em reunião do grupo parlamentar social-democrata, vários deputados, liderados por uma ex-líder, exigiram um voto favorável na votação do fim do mês, por forma a não descredibilizar mais o país perante a Europa e os mercados. Zeca Mendonça* - o 23º líder do PSD, pós Passos Coelho, Aguiar Branco, Rui Rio, Alexandre Relvas, Paulo Rangel, Macário Correia e Virgínia Estorninho, deu os primeiros sinais de recuo face à posição de exigência em que se encontrava.
UF!!! Porque será que sonhei com isto. Será que isto pode mesmo vir a acontecer?
*Zeca Mendonça - competente e leal relações públicas e assessor de imprensa das lideranças social democratas. Não merecia que essa "maldade" lhe acontecesse.
sábado, 9 de outubro de 2010
"Perdoai-lhes Senhor porque eles sabem o que fazem"
Os créditos da ironia deste título são de Sophia de Mello Breyner Andresen ("As pessoas sensíveis", in Livro Sexto). É que a cada dia que passa fica provado que nem PS nem PSD sabem o que andam a fazer. Excepto uma coisa: andam a jogar com a vida de milhões de portugueses com um claro objectivo: Poder. O que, mais do que irresponsável, é perverso.
José Sócrates está convicto: não governa com um orçamento que não seja o seu, nomeadamente que não contemple subida de impostos e corte de salários na Função Pública. Demite-se.
Pedro Passos Coelho está convicto: não aceita um orçamento que aumente a carga fiscal. E se o Governo bater com a porta, não está disposto a apanhar os cacos. Dito isto, tudo leva, então, a crer que vamos a votos. Eles irão, é certo, e nós, portugueses, ficamos a apanhar os cacos.
Se tivesse maioria, Sócrates poderia ter todas as convicções do Mundo. Mas está em minoria e aceitou governar nessa condição. Ao aceitar, sabia que cedência e negociação seriam palavras-chave do seu mandato.
A liberdade é um dos pilares fundamentais da democracia. Mas também o é o interesse nacional. Enquanto líder da Oposição, Pedro Passos Coelho tem toda a liberdade para não aceitar as "ameaças" do Governo. Mas tem de sair em defesa do interesse nacional.
E interessa a alguém que o país fique mais de um ano em coma induzido, à espera de eleições? A viver em duodécimos, tornando-se presa ainda mais fácil das agências de rating e dos investidores internacionais que engordam as suas contas bancárias à custa da nossa dívida? A perder a face perante a "fraterna" Europa?
E, nós, portugueses? Alguém se lembra de nós? Acham mesmo que vamos ter paciência para campanhas eleitorais, lavagens de roupa suja em praça pública e promessas que depois não se concretizam? Não, nós, portugueses, vamos andar de ábaco a fazer contas de dividir e, com sorte, de subtrair.
Como escrevera Sophia no mesmo poema: "'Ganharás o pão com o suor do teu rosto'/ Assim nos foi imposto/E não:/ 'Com o suor dos outros ganharás o pão.'". Triste realidade a nossa.
Os créditos da ironia deste título são de Sophia de Mello Breyner Andresen ("As pessoas sensíveis", in Livro Sexto). É que a cada dia que passa fica provado que nem PS nem PSD sabem o que andam a fazer. Excepto uma coisa: andam a jogar com a vida de milhões de portugueses com um claro objectivo: Poder. O que, mais do que irresponsável, é perverso.
José Sócrates está convicto: não governa com um orçamento que não seja o seu, nomeadamente que não contemple subida de impostos e corte de salários na Função Pública. Demite-se.
Pedro Passos Coelho está convicto: não aceita um orçamento que aumente a carga fiscal. E se o Governo bater com a porta, não está disposto a apanhar os cacos. Dito isto, tudo leva, então, a crer que vamos a votos. Eles irão, é certo, e nós, portugueses, ficamos a apanhar os cacos.
Se tivesse maioria, Sócrates poderia ter todas as convicções do Mundo. Mas está em minoria e aceitou governar nessa condição. Ao aceitar, sabia que cedência e negociação seriam palavras-chave do seu mandato.
A liberdade é um dos pilares fundamentais da democracia. Mas também o é o interesse nacional. Enquanto líder da Oposição, Pedro Passos Coelho tem toda a liberdade para não aceitar as "ameaças" do Governo. Mas tem de sair em defesa do interesse nacional.
E interessa a alguém que o país fique mais de um ano em coma induzido, à espera de eleições? A viver em duodécimos, tornando-se presa ainda mais fácil das agências de rating e dos investidores internacionais que engordam as suas contas bancárias à custa da nossa dívida? A perder a face perante a "fraterna" Europa?
E, nós, portugueses? Alguém se lembra de nós? Acham mesmo que vamos ter paciência para campanhas eleitorais, lavagens de roupa suja em praça pública e promessas que depois não se concretizam? Não, nós, portugueses, vamos andar de ábaco a fazer contas de dividir e, com sorte, de subtrair.
Como escrevera Sophia no mesmo poema: "'Ganharás o pão com o suor do teu rosto'/ Assim nos foi imposto/E não:/ 'Com o suor dos outros ganharás o pão.'". Triste realidade a nossa.
( JN)
A cantilena do malmequer
A cantilena do malmequer é a banda-sonora do PSD na discussão do Orçamento. Passos Coelho sabe o que quer, mas Passos Coelho também não sabe o que quer.
Viabiliza, não viabiliza, viabiliza, não viabiliza. A cantilena do malmequer é a banda-sonora do PSD na discussão do Orçamento de Estado (OE), de um partido que se move aos solavancos numa sinuosa auto-estrada de posições, dúvidas, esclarecimentos, "soundbites", ameaças e demais géneros de expressão dramática. Passos Coelho sabe o que quer, mas Passos Coelho também não sabe o que quer. É como se o líder da Oposição em Portugal padecesse de dupla personalidade. Ora o presidente do PSD que quer ser primeiro-ministro e, como tal, deve agir com responsabilidade; ora o líder da Oposição que anseia ser primeiro-ministro e, como tal, é obrigado a agir com tacticismo. Viabiliza, não viabiliza.
[…]
Mas de nada vale a Passos Coelho endurecer, agora, o discurso e voltar a desembainhar a espada que vai rasgar ao meio o que se previa ser um acordo entre os dois maiores partidos se, no final, for forçado a aceitá-lo, seja por imperativos patrióticos ou tão somente por vergar ante pressões externas.
[…]
Passos Coelho tem dois caminhos para acabar com a cantilena do malmequer. Opção A: aprovar um "mau orçamento" e ficar para a História como o líder da Oposição que caucionou uma estratégia que pode arrastar Portugal para uma recessão. Opção B: não aprovar o Orçamento e ser lembrado como o irresponsável líder da Oposição que cravou o último prego no caixão do país. Tic-tac, tic-tac.
sexta-feira, 8 de outubro de 2010
quinta-feira, 7 de outubro de 2010
Um monumento de ignomínia
(VASCO GRAÇA MOURA)
A Primeira República portuguesa foi um monumento de ignomínia. As comemorações em curso não podem escamotear esse facto e deveriam proporcionar aos portugueses uma visão altamente crítica desse período da nossa história. Historiadores como Vasco Pulido Valente e Rui Ramos já o têm feito e bem. Mas nunca será demais insistir.
Tem sido frequentemente observado que, na monarquia constitucional, o liberalismo foi abrindo a porta a uma dimensão republicana. De facto assim foi. A partir da estabilização ocorrida em meados do século XIX, viveu-se em Portugal uma era "republicana" de tolerância e de fruição das liberdades que só havia de extinguir-se pela força em 1910. Isto, apesar de todos os problemas que o constitucionalismo português foi tendo, da fragilidade do Estado e das suas instituições a uma catadupa de situações escandalosas e insustentáveis, passando por políticas erráticas, incompetentes e contraditórias, crises políticas e sociais, buracos financeiros insolúveis, corrupção, tráfico de influências, caciquismo, analfabetismo, atraso crónico e generalizado face à Europa e outras maleitas graves.
A monarquia constitucional acabou por cair de podre. Afundou-se no fracasso geral das instituições e no desprestígio mais completo dos partidos. Perdeu o pé no entrechocar das rivalidades, despeitos, ajustes de contas e interesses inconfessáveis dos grandes figurões de um regime em que os republicanos já se encontravam instalados por "osmose" pacífica havia muito, enquanto a tropa, quando não conspirava, ia assobiando para o lado. Tudo isso foi assim. Mas nunca a monarquia constitucional em seis décadas cometeu crimes comparáveis aos que a República praticou em meia dúzia de anos.
As comemorações do centenário da República têm de falar desses crimes. Eles foram cometidos sob a batuta de uma das figuras mais sinistras da nossa história. Graças a Afonso Costa e aos seus apaniguados organizados em milícias de malfeitores, a Primeira República, activamente respaldada pela Carbonária (e, mais tarde, por uma confraria de assassinos chamada Formiga Branca), nunca recuou ante a violência, a tortura, o derramamento de sangue e o homicídio puro e simples. Instaurou friamente entre nós o pragmatismo do crime. Institucionalizou a fraude, a manipulação e a batota generalizada em todos os planos da vida portuguesa. Manipulou e restringiu o sufrágio, excluindo dele os analfabetos, as mulheres e os padres. Perpetrou fraudes eleitorais sempre que pôde. Perseguiu da maneira mais radical e intolerante o clero católico, por vezes até ao espancamento e à morte. Levantou toda a espécie de obstáculos ao culto religioso e à liberdade de consciência. Cometeu as mais incríveis violências contra as pessoas. Apropriou-se do Estado, transformando-o em coutada pessoal do Partido Republicano Português…
Em 1915, Portugal deve ter sido um dos pioneiros na defesa do genocídio moderno. Na campanha militar que se desenrolava no Sul de Angola, as atrocidades são de pôr os cabelos em pé. Nas Actas das Sessões Secretas da Câmara dos Deputados e do Senado da República sobre a participação de Portugal na I Grande Guerra (ed. coordenada por Ana Mira, Lisboa, AR e Afrontamento, 2002), encontra-se o depoimento de um militar, segundo o qual "temos ordem para matar todo o gentio desde dez anos para cima" (p. 151). E os outros depoimentos testemunhais, ali reunidos de pp. 148 a 153, ilustram macabramente essa afirmação. Confrontado com esta situação no Parlamento, Afonso Costa foi peremptório: "Não nos deixemos mover por idealismos nem esqueçamos o conceito e impressão dos pretos perante respeitos humanitários que ele [orador] considera como fraqueza ou pusilanimidade" (op. cit., p. 115), ao que Brito Camacho respondeu que "civilizar com a navalha e a carabina não é humanitário nem científico. As chamadas raças inferiores são apenas raças atrasadas; não é possível civilizá-las, exterminando-as" (ibid., p. 117).
[…]
A Primeira República portuguesa foi um monumento de ignomínia. As comemorações em curso não podem escamotear esse facto e deveriam proporcionar aos portugueses uma visão altamente crítica desse período da nossa história. Historiadores como Vasco Pulido Valente e Rui Ramos já o têm feito e bem. Mas nunca será demais insistir.
Tem sido frequentemente observado que, na monarquia constitucional, o liberalismo foi abrindo a porta a uma dimensão republicana. De facto assim foi. A partir da estabilização ocorrida em meados do século XIX, viveu-se em Portugal uma era "republicana" de tolerância e de fruição das liberdades que só havia de extinguir-se pela força em 1910. Isto, apesar de todos os problemas que o constitucionalismo português foi tendo, da fragilidade do Estado e das suas instituições a uma catadupa de situações escandalosas e insustentáveis, passando por políticas erráticas, incompetentes e contraditórias, crises políticas e sociais, buracos financeiros insolúveis, corrupção, tráfico de influências, caciquismo, analfabetismo, atraso crónico e generalizado face à Europa e outras maleitas graves.
A monarquia constitucional acabou por cair de podre. Afundou-se no fracasso geral das instituições e no desprestígio mais completo dos partidos. Perdeu o pé no entrechocar das rivalidades, despeitos, ajustes de contas e interesses inconfessáveis dos grandes figurões de um regime em que os republicanos já se encontravam instalados por "osmose" pacífica havia muito, enquanto a tropa, quando não conspirava, ia assobiando para o lado. Tudo isso foi assim. Mas nunca a monarquia constitucional em seis décadas cometeu crimes comparáveis aos que a República praticou em meia dúzia de anos.
As comemorações do centenário da República têm de falar desses crimes. Eles foram cometidos sob a batuta de uma das figuras mais sinistras da nossa história. Graças a Afonso Costa e aos seus apaniguados organizados em milícias de malfeitores, a Primeira República, activamente respaldada pela Carbonária (e, mais tarde, por uma confraria de assassinos chamada Formiga Branca), nunca recuou ante a violência, a tortura, o derramamento de sangue e o homicídio puro e simples. Instaurou friamente entre nós o pragmatismo do crime. Institucionalizou a fraude, a manipulação e a batota generalizada em todos os planos da vida portuguesa. Manipulou e restringiu o sufrágio, excluindo dele os analfabetos, as mulheres e os padres. Perpetrou fraudes eleitorais sempre que pôde. Perseguiu da maneira mais radical e intolerante o clero católico, por vezes até ao espancamento e à morte. Levantou toda a espécie de obstáculos ao culto religioso e à liberdade de consciência. Cometeu as mais incríveis violências contra as pessoas. Apropriou-se do Estado, transformando-o em coutada pessoal do Partido Republicano Português…
Em 1915, Portugal deve ter sido um dos pioneiros na defesa do genocídio moderno. Na campanha militar que se desenrolava no Sul de Angola, as atrocidades são de pôr os cabelos em pé. Nas Actas das Sessões Secretas da Câmara dos Deputados e do Senado da República sobre a participação de Portugal na I Grande Guerra (ed. coordenada por Ana Mira, Lisboa, AR e Afrontamento, 2002), encontra-se o depoimento de um militar, segundo o qual "temos ordem para matar todo o gentio desde dez anos para cima" (p. 151). E os outros depoimentos testemunhais, ali reunidos de pp. 148 a 153, ilustram macabramente essa afirmação. Confrontado com esta situação no Parlamento, Afonso Costa foi peremptório: "Não nos deixemos mover por idealismos nem esqueçamos o conceito e impressão dos pretos perante respeitos humanitários que ele [orador] considera como fraqueza ou pusilanimidade" (op. cit., p. 115), ao que Brito Camacho respondeu que "civilizar com a navalha e a carabina não é humanitário nem científico. As chamadas raças inferiores são apenas raças atrasadas; não é possível civilizá-las, exterminando-as" (ibid., p. 117).
[…]
Entre O PEC III e o Sócrates III?
(Paulo Guinote)
Há gente muito apressada na política. Na análise e na prática. E há quem confunda desejo e vontade com factos e realidade. Quem ache que o que acha ser correcto, certo e bom se transforma em coisa só por isso mesmo.
Os factos já deveriam ter desmentido estas crenças ingénuas e quem não percebo se não vê, não quer ver ou não consegue ver.
Posso estar eu redondamente enganado, até contra a minha vontade, mas começo a vislumbrar a hipótese de um Sócrates III, tamanhos são os erros de uma oposição e os medos de outra.
Todos aqueles que vaticinaram uma rápida queda do governo de Sócrates perante a investida que parecia imparável do PSD de Passos Coelho já tinham tempo para ter acalmado. Aliás, há quem se mantenha nervoso, mas certamente porque já percebeu que tantos passos em falso estão a deixar alguns entusiasmos demasiado visíveis antes de tempo. Ao contrário do que parecia inevitável, o PSD tropeçou em si mesmo, encostou-se às redes e arrisca-se a perder ou não ganhar um combate apenas porque o adversário, mesmo de rastos, ter sabido atirar-se para cima dele e imobilizá-lo.
Neste momento, o PSD é vítima de si mesmo e de uma equipa de estrategas e tácticos que mereciam ser despedidos com mais do que justa causa, de tão ingénuos ou displicentes. Ou então são imensamente desconhecedores do país onde vivem e do seu eleitorado. Em contrapartida, Sócrates deveria beijar o chão que pisam alguns dos seus consultores.
Neste momento, o PSD tem duas hipóteses: ou ser novamente, no caso do OE muleta do governo perante o país ou ser coerente e ser apresentado como causador de uma crise que pouco fez para que acontecesse, mas que conseguiu em poucos meses parecer que também é sua.
Cavaco Silva prefere um governo com Teixeira dos Santos a ministro das Finanças do que outro com uma equipa do tipo Nogueira Leite/Frasquilho. Pode não confiar em Sócrates, mas certamente prefere tê-lo amarrado e fragilizado pela situação actual em que as Finanças é que mandam e o PM faz os floreados (basta ver o que se passou na apresentação das medidas de austeridade…), do que ter de enfrentar um governo forte de um PSD em cuja direcção notoriamente não confia.
Quem pensa que Cavaco dissolverá o Parlamento mal ganhe as eleições para um segundo mandato é capaz de estar enganado. Mas mesmo que o faça, neste momento nada garante que o PS (com ou sem Sócrates, mas mais provavelmente com ele) não ficará à frente ou muito próximo do PSD, não existindo uma maioria absoluta à direita, como as sondagens insistem em demonstrar.
Aliás, é nisso que a oposição de esquerda também joga, receosa do timing de uma queda de Sócrates. PCP e Bloco apenas coreografam a agressividade para com o PS porque sabem que, havendo maioria PSD/CDS, as coisas ainda apertarão mais. Pelo que se limitam a ir pressionando, se possível nas ruas, mas nunca de forma a causar uma queda do governo. Quanto muito ligeiras inflexões de política, que é o máximo que podem esperar. O que podem ousar querer é, terminado o tango, que o PS lhes dê a mão num cenário de PS derrotado, mas maioria de esquerda no Parlamento.
[PCP e Bloco] Poderão querer forçar uma troca de liderança no PS, mas não querem que o PS seja claramente derrotado se isso significar uma maioria de direita.
E assim continuaremos, como temos estado há meses, num chove e não molha. E mesmo havendo eleições, a táctica errada do PSD ter sublinhado os seus traços liberais, encostando (teórica e retoricamente) o PS à esquerda na defesa de um pseudo-Estado Social em desagregação, em momento de grave crise, poderá levar a que Sócrates renasça de um modo que poucos poderiam prever há alguns meses.
E sim, pior do que o PEC III, será um Sócrates III, prometendo o TGV à esquerda em troca da sobrevivência política dele, mas à custa da falência do país, marcada ali para 2013-2014, no máximo 2015, quando isto passar a ser governado por um comissário europeu nascido para lá do Sena ou do Reno.
Mas, infelizmente, é o que me parece que pode vir a acontecer.
Parafraseando o que escrevi no outro dia, não é o facto de enfrentarmos um medíocre que faz de nós bons e muito menos excelentes.
E o excesso de confiança e erros de palmatória podem ser fatais.
E nesse caso, numa disputa entre coisas que podem parecer equivalentes nos méritos, num contexto de precariedade social e económica, perde quase sempre o desconhecido.
Cavaco só ganhou, em especial as maiorias, porque Soares tinha saído deixando o PS de rastos. E Guterres só ganhou porque Cavaco tinha saído deixando o PSD de rastos. E Durão Barroso ganhou mesmo à tirinha, porque Guterres tinha saído deixando o PS de rastos. E Sócrates ganhou porque Barroso tinha saído, deixando Santana a tomar conta do forte.
Se quem está não opta por bater com a porta, quem quer entrar, fica à espera. Pelo menos tem sido assim. Para inverter esta lógica era preciso mais do que temos visto por parte de quem estava à espera que Sócrates saísse pelo seu pé. O que notoriamente não fará.
Há gente muito apressada na política. Na análise e na prática. E há quem confunda desejo e vontade com factos e realidade. Quem ache que o que acha ser correcto, certo e bom se transforma em coisa só por isso mesmo.
Os factos já deveriam ter desmentido estas crenças ingénuas e quem não percebo se não vê, não quer ver ou não consegue ver.
Posso estar eu redondamente enganado, até contra a minha vontade, mas começo a vislumbrar a hipótese de um Sócrates III, tamanhos são os erros de uma oposição e os medos de outra.
Todos aqueles que vaticinaram uma rápida queda do governo de Sócrates perante a investida que parecia imparável do PSD de Passos Coelho já tinham tempo para ter acalmado. Aliás, há quem se mantenha nervoso, mas certamente porque já percebeu que tantos passos em falso estão a deixar alguns entusiasmos demasiado visíveis antes de tempo. Ao contrário do que parecia inevitável, o PSD tropeçou em si mesmo, encostou-se às redes e arrisca-se a perder ou não ganhar um combate apenas porque o adversário, mesmo de rastos, ter sabido atirar-se para cima dele e imobilizá-lo.
Neste momento, o PSD é vítima de si mesmo e de uma equipa de estrategas e tácticos que mereciam ser despedidos com mais do que justa causa, de tão ingénuos ou displicentes. Ou então são imensamente desconhecedores do país onde vivem e do seu eleitorado. Em contrapartida, Sócrates deveria beijar o chão que pisam alguns dos seus consultores.
Neste momento, o PSD tem duas hipóteses: ou ser novamente, no caso do OE muleta do governo perante o país ou ser coerente e ser apresentado como causador de uma crise que pouco fez para que acontecesse, mas que conseguiu em poucos meses parecer que também é sua.
Cavaco Silva prefere um governo com Teixeira dos Santos a ministro das Finanças do que outro com uma equipa do tipo Nogueira Leite/Frasquilho. Pode não confiar em Sócrates, mas certamente prefere tê-lo amarrado e fragilizado pela situação actual em que as Finanças é que mandam e o PM faz os floreados (basta ver o que se passou na apresentação das medidas de austeridade…), do que ter de enfrentar um governo forte de um PSD em cuja direcção notoriamente não confia.
Quem pensa que Cavaco dissolverá o Parlamento mal ganhe as eleições para um segundo mandato é capaz de estar enganado. Mas mesmo que o faça, neste momento nada garante que o PS (com ou sem Sócrates, mas mais provavelmente com ele) não ficará à frente ou muito próximo do PSD, não existindo uma maioria absoluta à direita, como as sondagens insistem em demonstrar.
Aliás, é nisso que a oposição de esquerda também joga, receosa do timing de uma queda de Sócrates. PCP e Bloco apenas coreografam a agressividade para com o PS porque sabem que, havendo maioria PSD/CDS, as coisas ainda apertarão mais. Pelo que se limitam a ir pressionando, se possível nas ruas, mas nunca de forma a causar uma queda do governo. Quanto muito ligeiras inflexões de política, que é o máximo que podem esperar. O que podem ousar querer é, terminado o tango, que o PS lhes dê a mão num cenário de PS derrotado, mas maioria de esquerda no Parlamento.
[PCP e Bloco] Poderão querer forçar uma troca de liderança no PS, mas não querem que o PS seja claramente derrotado se isso significar uma maioria de direita.
E assim continuaremos, como temos estado há meses, num chove e não molha. E mesmo havendo eleições, a táctica errada do PSD ter sublinhado os seus traços liberais, encostando (teórica e retoricamente) o PS à esquerda na defesa de um pseudo-Estado Social em desagregação, em momento de grave crise, poderá levar a que Sócrates renasça de um modo que poucos poderiam prever há alguns meses.
E sim, pior do que o PEC III, será um Sócrates III, prometendo o TGV à esquerda em troca da sobrevivência política dele, mas à custa da falência do país, marcada ali para 2013-2014, no máximo 2015, quando isto passar a ser governado por um comissário europeu nascido para lá do Sena ou do Reno.
Mas, infelizmente, é o que me parece que pode vir a acontecer.
Parafraseando o que escrevi no outro dia, não é o facto de enfrentarmos um medíocre que faz de nós bons e muito menos excelentes.
E o excesso de confiança e erros de palmatória podem ser fatais.
E nesse caso, numa disputa entre coisas que podem parecer equivalentes nos méritos, num contexto de precariedade social e económica, perde quase sempre o desconhecido.
Cavaco só ganhou, em especial as maiorias, porque Soares tinha saído deixando o PS de rastos. E Guterres só ganhou porque Cavaco tinha saído deixando o PSD de rastos. E Durão Barroso ganhou mesmo à tirinha, porque Guterres tinha saído deixando o PS de rastos. E Sócrates ganhou porque Barroso tinha saído, deixando Santana a tomar conta do forte.
Se quem está não opta por bater com a porta, quem quer entrar, fica à espera. Pelo menos tem sido assim. Para inverter esta lógica era preciso mais do que temos visto por parte de quem estava à espera que Sócrates saísse pelo seu pé. O que notoriamente não fará.
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