Publicado dia 06/01/2013
PAULO BALDAIA (dn)
O primeiro-ministro
e o ministro das Finanças têm de perceber que esta ideia que começa a
generalizar-se não lhes é favorável. Nem a eles nem ao País. O problema nunca é
o resto do mundo, mesmo quando nos sentimos cheios de razão. Se todos os outros
não nos percebem, podemos ter a certeza de que estamos a explicar-nos mal. Ou,
pior, a fazer mal.
A mensagem
de Cavaco Silva, a intervenção de Durão Barroso, as declarações de Paulo
Portas, o artigo de Mota Amaral, a opinião de Pinto Balsemão, para falar apenas
de personalidades do centro-direita que falaram esta semana, criam a ideia de
que Passos Coelho e Vítor Gaspar estão isolados no modo como olham para o País.
Já não se
ouvem apoios públicos à trajectória do Governo, mesmo que nenhuma das
personalidades referidas conteste a necessidade de cumprir o memorando ou
defenda a reestruturação da dívida. Em todos se percebe que cai mal a ideia de
que o Governo se orgulha da austeridade que nos foi imposta, desvalorizando o
impacto social.
A verdade é
que uma crise desta dimensão necessita de uma dose de confiança extra. Daí que
a comunicação não seja, neste contexto, uma mera performance para melhorar
níveis de popularidade. Neste momento, comunicar bem é fazer política ao mais
alto nível. Não venceremos a crise, não nos servirá de nada a austeridade, se
não formos capazes de recuperar o consenso social e político que construímos
quando chamamos a troika. Temos de estar juntos para pagar a dívida, mas também
para fazer crescer o País.
Há coisas
que correm bem. Para falar das mais óbvias, convém recordar que a balança
comercial está equilibrada e os juros da dívida fixaram-se abaixo dos famosos
7%. A verdade é que a percepção que os portugueses fazem desta situação de
emergência é que o principal resultado das políticas do Governo é o de estar a
deixar muita gente pelo caminho. Ou seja, também há coisas que estão a correr
mal.
Melhorar a
comunicação servirá para aumentar os níveis de confiança, mas ao Governo não
lhe basta comunicar melhor. É preciso que escute com mais atenção os sinais de
emergência social que chegam de todo o lado. Será um erro fatal confundir
determinação com intransigência.
Vítor Gaspar
é muito respeitado nas reuniões do Ecofin, Passos Coelho elogiado em Bruxelas,
mas até por lá já começaram a soar as campainhas de alarme. A grande maioria
dos portugueses está descrente, sente-se injustiçada e começa a não entender
para que servem os sacrifícios. O primeiro-ministro e o ministro das Finanças
podem estar muito bem acompanhados lá fora, mas estão cada vez mais sozinhos cá
dentro. Não é bom para eles nem para nós, que precisamos de confiar no trabalho
deles.
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