terça-feira, 22 de janeiro de 2013

O filme em rodagem


JOÃO MARCELINO



(João Marcelino - DN de sábado)


O princípio do ano parece ter trazido a expectativa de grandes novidades para 2013, o ano que deve testar de vez a fiabilidade dos orçamentos de Vítor Gaspar, assistir à polémica escolha das medidas para o corte de 4 mil milhões que o Governo pretende fazer na dimensão do apoio social e, até, referendar a saúde política de muitos protagonistas nas eleições locais de outubro.

Nas duas áreas políticas principais, o nervosismo cresce de forma evidente.

O PSD e o CDS mantêm a tensão que atingiu o auge no folhetim da TSU e prosseguiu com o ataque aos reformados, a quem Portas tinha jurado defender.

No PS já há quem, finalmente, olhe com apetite o lugar de António José Seguro.

O filme, que de filme se trata, para melhor compreensão, podia ter a seguinte sequência.





Cena 1 [Na área política da coligação no poder] António Pires de Lima, homem importante do CDS, defende que o primeiro-ministro deve identificar e demitir o responsável pelas fugas de informação para a imprensa de temas como o relatório do FMI. Fala em "deslealdade política grave" e afirma: "Eu não creio que uma tão rara, infeliz e tola forma de comunicar com os portugueses temas tão importantes seja vontade do senhor primeiro-ministro." Pois, na verdade, não é Pedro Passos Coelho o responsável pelo comunicação - quem será? Mistério.




Cena 2 Paulo Portas toma um pequeno-almoço com Miguel Relvas mas ainda não é desta que parece disposto a dar o aval do CDS a uma última versão da privatização da RTP. O dossier, que como se sabe começou com a certeza do PSD numa privatização a 100%, encolheu para uma venda parcial, com uma eventual concessão de serviço público ao comprador minoritário que pode ser inconstitucional. Um enorme sapo que Portas resiste a engolir. Já basta o que bastou.





 



Cena 3 Pedro Passos Coelho, ontem mesmo, no debate quinzenal na Assembleia da República, afirma: "Este Governo só não concluirá o seu mandato se os partidos do Governo não quiserem." Para bom entendedor.







Cena 4 [E agora na área do principal partido da oposição, o PS] António Costa, presidente da Câmara de Lisboa, considera, em habitual programa televisivo, que a direção do seu partido, o PS, está "diminuída" dada a sua má relação com o passado recente da liderança de José Sócrates. Segundo ele, "não se pode fingir que o passado não existe". António Costa bem sabe do que fala.



Cena 5 Carlos César, ex-presidente dos Açores, e Augusto Santos Silva, ministro de Sócrates, também se pronunciam no sentido de António Costa: em resumo, a liderança - que vai ter de ser apreciada este ano pelos militantes - é fraca. Ora aqui está uma curiosa coincidência. A política é dada a estas coisas.



Cena 6 Marques Mendes, querendo ajudar quem lhe vai fornecendo "material" para afrontar o anterior monopólio noticioso de Marcelo Rebelo de Sousa, intromete-se fora da sua área natural e desvenda: "Há sondagens dentro do PS que dão António Costa como favorito dos portugueses." Não se sabe, mas, partindo do princípio de que o estudo exista, admite-se que sejam os mesmos portugueses que, se pudessem ter votado no PSD, teriam preferido Manuela Ferreira Leite ao homem que acabou por ser primeiro-ministro. O povo é assim, tem lógicas que os militantes desconhecem.



Cena 7 António José Seguro, sem referir nunca explicitamente a palavra eleições, dá um passo mais alargado. No futuro, quando chegar a hora, quer "uma maioria absoluta", coisa que até hoje só Sócrates conseguiu. Nem Mário Soares. Ou seja, o líder socialista vai engrossando a voz.
O filme ainda está em plena rodagem. Seguir-se-ão rapidamente vários outros episódios. Aparecerão outros protagonistas, sobretudo em cenas menores. Com uma certeza: Passos Coelho, que afinal de contas nunca apontou a qualquer português o caminho do estrangeiro, vai ter de lidar em 2013 com adversidades escritas nas estrelas e o lugar de Seguro, de repente, tornou-se bastante apetecido. Vá lá saber-se porquê.



Por sorte, num momento importante da história do País, o consenso social tem sido defendido por homens responsáveis como Silva Peneda, João Proença, António Saraiva, João Vieira Lopes.

Se este precioso ativo está em risco de ser delapidado isso é única e exclusiva culpa do Governo, que deveria empenhar-se em corrigir erros, e afrontas, recentes. Enganar-se-á quem pense que basta ter uma maioria no Parlamento e um acordo com a 'troika'.



Este último aviso foi Francisco Balsemão, insuspeito de ser do contra, quem o fez.

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