segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Paz à sua alma


(Alberto Gonçalves)


Manuel Alegre avisou que estas eleições eram uma "luta de vida ou morte para a democracia". Cavaco ganhou, logo a democracia, representada por Alegre, faleceu. A esta hora, ao que tudo indica, as forças ditatoriais (designadas pela escolha popular) já enfiaram num calabouço o homem que nunca se cala. Se se calasse por um bocadinho, teria agora tempo para reflectir nos respectivos erros. Não foram poucos. Julgando coleccionar aliados, Alegre coleccionou inimigos: os que gostam do Governo e não gostaram das críticas de 2006; os que não gostam do Governo e não gostaram do estilo submisso de 2011; os que, sendo de esquerda, temem o fanatismo comunista na versão BE; os que, sendo comunistas, abominam o BE; os que, sendo do BE, abominaram as cedências ao "regime"; e os que, sendo "soaristas", são "soaristas". Alegre convenceu-se de que as suas desmesuradas virtudes bastariam para congregar tamanho saco de gatos e, o que seria notável, para disfarçar uma campanha fundamentada na hesitação e, vamos lá, no completo vazio. Poucos se convenceram do mesmo.



Aliás, suponho que a pífia votação de Alegre de deveu exclusivamente a um peculiar grupo sociológico: os sujeitos que sonham com um presidente-poeta, numa concepção bizarra da política e, dado o autor em questão, da literatura. A maioria dos portugueses, que ainda anda com os pés no chão, não lhes fez a vontade. Pior para a democracia, acham os apoiantes de Alegre. Pior para Alegre, acho eu.

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