quarta-feira, 8 de abril de 2015

Os bem falantes opinion makers

Este artigo é copiado (em excertos) do que está abaixo. Faço-o, porque começo a ver e a ler que muitos comentadores (os tais bem falantes opinion makers - BFOM) assumem uma comichão incómoda, porventura na extremidade oposta à boca do aparelho digestivo.
Eu penso que Sampaio da Nóvoa é um académico notável a que nenhum dos BFOM alguma vez chegará aos calcanhares. Caramba! O homem foi reitor de uma universidade!
Não é político? O que é que temos ganho, como país e como pessoas, com as dezenas ou centenas ou milhares de políticos multicolores partidários que têm enxameado as mais diversas instâncias da República? Salvo algumas, poucas, exceções: NADA!!!
Os BFOM provavelmente têm medo de perder assunto, porque parece-me que já poucos lhes ligam. Um presidente sem partido? Qual é o problema? Ah! Pois! Os dos partidos têm medo de continuar a esvaziar-se de ideias e de gente...

Zé da Silva


Macroscópio

Por José Manuel Fernandes, Publisher
Boa noite!


Eu sei que é o trocadilho fácil e, de resto, nada original. Névoa, Nóvoa, e o que pouco que se sabe sobre o candidato presidencial que pode ser mais ainda não é. Cito só alguns exemplos: "Sampaio da Nóvoa por enquanto é uma névoa para mim", disse segunda-feira Miguel Sousa Tavares no seu habitual comentário na SIC; “PS e presidenciais. Não é uma névoa, é uma tempestade”, titulou Ana Sá Lopes numa crónica no jornal i; “Nóvoa é uma névoa: poucos o conhecem e talvez ainda menos tenham uma real ideia do seu pensamento político” escrevia hoje Fernando Sobral no Jornal de Negócios; A névoa política, reforçava, também hoje, Helena Cristina Coelho no Diário Económico.

Será assim tanta a Névoa? Pelo menos três órgãos de informação – o Observador, a Rádio Renascença e o Expresso – tentaram, a partir dos seus discursos e entrevistas, apresentar um pouco do seu pensamento. Tomemos nota:
  • Rita Dinis esteve a ler os discursos e as entrevistas de Sampaio da Nóvoa e, no Observador, deu conta do resultado em Quer saber quem é Sampaio Nóvoa?. Nesse trabalho procura expor o que se sabe do seu pensamento sobre temas como as presidenciais, a necessidade de mudança, austeridade, pobreza e desigualdades sociais ou mesmo António Costa, mas destaco uma das passagens onde se ilustra como, nos últimos tempos, ele tem sido mais duro sobre o papel dos políticos do sistema e as políticas do sistema, a que chama de “políticas de vistas curtas”, uma passagem que parece estar a irritar alguns dos seus potenciais apoiantes: ““José Mujica, Presidente do Uruguai, teve a coragem de dizer que quem gosta muito de dinheiro deve afastar-se da política. Se tivermos as mãos atadas por teias e arranjos, não teremos condições para defender o interesse público, de todos”, disse, classificando a “sucessão de ‘casos’ no último ano” de “insuportáveis”. “Não os vou nomear, sabemos quais são, não estou a acusar ninguém, que se faça justiça. Mas não podemos tolerar isto nem mais um minuto”, disse.”
  • João Carlos Malta também fez, na Rádio Renascença, um apanhado de citações do ex-reitor da Universidade de Lisboa em O que pensa Sampaio da Nóvoa sobre a austeridade, as desigualdades e os políticos? Escolho uma citação onde Nóvoa se refere a ele próprio: "Chegou de novo o dia em que temos de pensar mais nos outros do que em nós, em que temos de nos virar para o país, procurar sentidos, construir sentidos, uma vida digna de ser vivida". 
  • No Expresso Diário (reservado a assinantes), Rosa Pedroso Lima procura descrever as circunstâncias de O homem que Cavaco lançou e Soares apoia. Pequeno extrato: “Os objetivos da sua intervenção política começam agora a tornar-se mais claros. A “nova política” que Nóvoa defende para o País implica uma ”democracia democrática” aberta às pessoas e aos movimentos sociais, frase que só não ficou vazia de signiticado, porque o orador fez questão de referir que a ideia implica coligações e protagonistas bem precisos. Em concreto, Sampaio da Nóvoa quer um PS “aberto a todas as esquerda, a todas as forças de mudança existentes em Portugal”.

Mas se estes artigos podem ajudar a dissipar um pouco - muito pouco, para ser sério - da névoa que envolve Nóvoa, a verdade é que ao ler as opiniões que têm vindo a ser publicadas, o grau de satisfação dos colunistas ainda é muito baixo, ou mesmo inexistente.

No mesmo Expresso Diário isso era visível em duas crónicas, as de Ricardo Costa – Sampaio da Nóvoa, a absoluta incógnita – e Daniel Oliveira – O apoio precoce a Nóvoa (ambos só para assinantes):
  • Ricardo Costa: “Sampaio da Nóvoa é, acima de tudo, uma grande incógnita, podendo ser um desastre eleitoral ou um razoável candidato, estando dependente de si, dos apoios e dos outros candidatos. Se o candidato “do outro lado da barricada” for Marcelo, não tem qualquer hipótese. Se for um candidato menos abrangente - Marcelo entra na esquerda, apesar de muitos não acharem isso - pode ir fazendo o seu caminho, desde que não diga disparates e mostre o que pensa, que em bom rigor ninguém sabe o que é.
  • Daniel Oliveira: “O problema é que, avançando com o apoio do PS e não sendo conhecido da maioria dos portugueses, António Sampaio da Nóvoa será apresentado aos portugueses não como o académico independente e vindo de fora da política mas como o candidato dos socialistas a Belém. Este apoio dá-lhe notoriedade mas retira-lhe a sua principal vantagem competitiva: ser um verdadeiro independente.”

Aqui no Observador fomos um pouco mais generosos nos textos que dedicámos a Sampaio da Nóvoa – mas porventura mais críticos.

No domingo, em Isto não está a acontecer, Helena Matos, depois de recordar que quem lançou para a notoriedade pública o professor de História da Educação foi Cavaco Silva ao convidá-lo para discursar no 10 de Junho de 2012, procura glosar a retórica que parece fazer o orgulho, e explica o êxito entre uma parte da opinião pública, de Sampaio da Nóvoa:
Já me estou a ver de ghostwriter presidencial. Hora de pagar aos credores? Manda-se discurso invocando a pátria que é mátria, terra nossa, sem preço nem custo, palavras que reduzem à mera substância o espaço de saber, tesouro que amealhámos e que nos fará vencer… E pronto fica o problema resolvido: em primeiro lugar porque os credores não percebem o conteúdo e em segundo porque não se sentem capazes de se submeter a nova tortura de tal ditirâmbica prosa. Sanções à Rússia? Segue telegrama capaz de entreter Putin por vários meses: País à beira de um rio triste stop mensageiro da mudança Stop mudança que muda e nos muda stop de quem sente e não consente Stop

Segunda-feira foi a vez de eu mesmo, em Dois homens, duas candidaturas. A sério?, fazer uma comparação entre a sua proto-candidatura e a candidatura já confirmada de Henrique Neto. Para chegar, nomeadamente, à seguinte conclusão:
E mesmo sendo eu parcial – tenho imenso respeito por percursos de vida como o de Henrique Neto, mesmo podendo discordar de muitas das suas ideias e propostas – a verdade é que, verdadeiramente, não estamos perante dois candidatos de corpo inteiro. O que temos pela frente é algo diferente. De um lado, alguém [Henrique Neto] que sabe que está sozinho mas tem coisas interessantes a dizer ao país, mesmo sabendo que muitas das suas ideias não serão as mais populares. Do outro lado, alguém [Sampaio da Nóvoa] que se sabe acompanhado mas pouco tem a dizer ao país. Com uma agravante: julga que tem.

Hoje, Rui Ramos, em O significado de Sampaio da Nóvoa, defende a ideia de que uma sua eventual candidatura “não tem outra substância, neste momento, senão as manobras e os cálculos da velha oligarquia política.” É uma ideia que sustenta partindo do que ouviu, no fim-de-semana, aos “explicadores televisivos” Marques Mendes e Marcelo Rebelo de Sousa:
Os comentários de Mendes e de Marcelo são um sinal. Nas próximas eleições legislativas e presidenciais, os partidos parecem tentados a pegar o eleitorado de cernelha, para lhe arrancar o que será um cheque em branco, um voto às escuras. Nunca a política portuguesa foi tão opaca. E é só isso, neste momento, que a candidatura de Nóvoa significa.  

Regresso agora a um texto já referido, o de Ana Sá Lopes no jornal i, PS e presidenciais. Não é uma névoa, é uma tempestade, para destacar uma das suas passagens, esta mais favorável ao proto-candidato, pois defende-o de quem o ataca no PS: “Muitos dos que passam a vida a defender a abertura da política à sociedade civil entraram em estado de estupor por a sociedade civil, sem pedir licença, entrar na política. Um extraterrestre vindo da universidade? O que é que ele quer? Rebentar com tudo? Com o nosso delicioso mundo fechado? O respeitabilíssimo reitor passou num instante a um (…) perigoso “populista” pelo simples facto de apontar uma coisa que deveria ser de compreensão simples: quem gosta muito de dinheiro não deve vir para a política. Já temos exemplos que sobrem sobre a gravidade deste problema para que este simples statement seja entendido pelos portugueses. Mas, pelos vistos, por altas eminências do PS, não.”

Já Alberto Gonçalves, no Diário de Notícias, em Os disponíveis, manteve-se fiel ao seu estilo especialmente corrosivo: “Devia haver limites. Não há. Santana "aguarda um chamamento". Helena Roseta, dona de uma tese conspirativa acerca do acidente da Germanwings, só não concorrerá se não for "rica ou corrupta". Paulo Morais, que dispensa comentários, pondera um avanço. E um Prof. da Nóvoa, que quer proibir a austeridade através de clichés, parece ter convencido o PS a patrocinar a sua entusiástica pessoa. Uma coisa é desprezar a presidência, outra é humilhar a desgraçada da República. Por mim, nem para votar estarei disponível.”

Para o fim do Macroscópio de hoje deixei o outro candidato, Henrique Neto, que publicou hoje um artigo de opinião no Diário Económico, O debate de ideias e de soluções. Pequeno extracto:
Venho em paz (…). Não pretendo nenhuma ruptura na nossa democracia. Antes, quero evitar que ela ocorra entre os portugueses e o sistema político, como está em desenvolvimento noutros países, mas para que isso aconteça o sistema político vai ter que mudar o seu funcionamento colocando os cidadãos no centro das preocupações da política, e dando-lhes mais capacidade para exercer um escrutínio reforçado sobre a escolha dos seus representantes e sobre a sua actuação.

E por aqui me fico nesta quarta-feira chuvosa. Bom descanso, boas leituras, e voltaremos a encontrar-nos amanhã, no local do costume: o Macroscópio.

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