Às duas
da tarde, a sala de seminários enche-se com 20 jovens investigadores,
estudantes de mestrado e professores da Nova
School of Business and Economics, sentados à volta de uma mesa em
Campolide, em Lisboa. Horacio Larreguy,
hispano-argentino, professor assistente do departamento de governo da
Universidade de Harvard, nos EUA, liga o seu computador ao projetor e começa a
falar do seu mais recente trabalho: “Se a
educação aumenta as capacidades de pensamento crítico, a consciência política e
o apoio à democracia, os cidadãos mais instruídos, com maior nível de formação
escolar, podem ser levados a pensar, em certos casos, que a sua participação é
fútil ou legitima regimes autocráticos.”
Toda a
literatura apontava para o efeito contrário, explica Larreguy ao PÚBLICO, já
depois de ter passado pelo crivo da arguição, céptica, dos seus pares
portugueses, no seminário organizado pelo centro Novafrica. “Julgamos que nas transições democráticas as coisas são complementares: o
bem-estar económico e a educação levam à participação política. Que com algum
desenvolvimento, as coisas chegam. O que este trabalho demonstra é que há
alguma complexidade nisso. Não digo que isso não seja assim, de todo, mas há
casos em que não se passa assim.”
[…]
Mas
responde com Espanha. “O meu feeling diz-me
que é de esperar que haja um nível elevado de desilusão entre os jovens mais
qualificados. É o que se passa em Espanha, com o Podemos. São pessoas educadas,
académicos, e estão a acarinhar esse preciso descontentamento. É natural, e
isso vê-se, que a juventude esteja desencantada e com uma participação política
menor em muitos países europeus. O que aconteceria àqueles eleitores espanhóis
se não existisse o Podemos? Talvez se abstivessem. Mas estou a falar fora da
minha zona de conforto…”
[…]
“quanto menos meios de
comunicação tivermos a denunciar escândalos de corrupção antes das eleições,
menor será a probabilidade de os políticos corruptos serem penalizados nas
urnas”.
A
pergunta seguinte é óbvia: os meios de comunicação social ajudam a prevenir a
corrupção? Larreguy não dá logo uma resposta directa, mas assume, ao fim de
alguns segundos, que “sim”. “Se os
políticos antecipam que existe uma possibilidade de os cidadãos virem a
conhecer pelos media um escândalo de corrupção, têm mais probabilidade de não
se envolver nesses esquemas. Ou seja, há estudos que o demonstram, a mera
hipótese de virem a ser revelados os escândalos faz com que os políticos temam
aceitar subornos.”
Será
nesse frágil terreno que várias democracias europeias estarão em jogo, nos
próximos tempos. Com o espectro de uma abstenção significativa, e com a sombra
de uma alta perceção da corrupção, o “alheamento
deliberado” pode
vir a revelar-se uma explicação mais próxima geograficamente do que deixa
antever o caso sul-africano debatido na Universidade
Nova.
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