(DN de 17/3)
O Governo,
de uma forma geral, e o ministro das Finanças, de uma forma particular, parecem
apostados em dar razão ao líder do PSD. Pelo andar da carruagem, vão mesmo
lixar-se nas eleições.
Adiar por um
ano o cumprimento das metas previstas no memorando, sem que a esse adiamento
corresponda um alivio da austeridade, é apenas ajustar o programa de
ajustamento à realidade dos números. A simples aritmética haverá de provar que
mais austeridade, mais recessão e mais desemprego é igual a menos votos.
Quando
Passos Coelho se dirigiu aos seus deputados explicando que não se importava de
perder umas eleições para salvar Portugal, Vítor Gaspar terá sido dos que
gostaram da tirada. O resto do PSD também, porque revelava um líder responsável
e, acima de tudo, porque aquilo cheirava a retórica política. No momento certo,
o Governo iria ajudar o PSD a conseguir nova vitória. 2014 e 2015 seriam anos
de crescimento e daria para aliviar a austeridade.
Como não vai
haver menos austeridade, menos recessão e menos desemprego igual a mais votos,
o independente Vítor Gaspar vai perceber, mais cedo do que tarde, como
funcionam os partidos. De herói a vilão é um passinho.
Na verdade,
já não há muito a fazer. Podem sempre esperar pelo milagre em que acreditam e
que se baseia na teoria de que, regressando aos mercados, o dinheiro voltará a
jorrar e as empresas vão poder voltar à banca a juros decentes para investir. O
problema é que o efeito deste investimento na criação de empregos será muito
demorado.
Quem não se
está marimbando para as eleições é António José Seguro, que ambiciona ser
primeiro-ministro. Se lá chegar, vai herdar um país que não pode passar da
austeridade extrema para o regabofe, e, por isso, precisa de fazer acertos no
seu discurso.
Como Durão
Barroso disse antes de chegar a São Bento, também o líder do PS pode começar a
dizer que vai ser primeiro-ministro, só não sabe é quando. Seguro tem de
aproveitar o passa-culpas que já se começa a ouvir entre os nossos credores e o
nosso Executivo. Num país com tantos dedos acusadores apontados ao Governo, o
do líder do PS é só mais um.
Os
socialistas, que chamaram a troika e assinaram o memorando, têm de centrar o
seu discurso na defesa das alternativas que propõem. A confiança que o PS tem
de gerar no eleitorado, para ultrapassar o resultado mediano que tem nas sondagens,
só será conseguida se esse eleitorado acreditar que há um caminho viável na
alternativa proposta. E isso ainda não aconteceu.
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