quinta-feira, 21 de março de 2013

"Que se lixem as eleições"


 
(DN de 17/3)
 

O Governo, de uma forma geral, e o ministro das Finanças, de uma forma particular, parecem apostados em dar razão ao líder do PSD. Pelo andar da carruagem, vão mesmo lixar-se nas eleições.

Adiar por um ano o cumprimento das metas previstas no memorando, sem que a esse adiamento corresponda um alivio da austeridade, é apenas ajustar o programa de ajustamento à realidade dos números. A simples aritmética haverá de provar que mais austeridade, mais recessão e mais desemprego é igual a menos votos.

Quando Passos Coelho se dirigiu aos seus deputados explicando que não se importava de perder umas eleições para salvar Portugal, Vítor Gaspar terá sido dos que gostaram da tirada. O resto do PSD também, porque revelava um líder responsável e, acima de tudo, porque aquilo cheirava a retórica política. No momento certo, o Governo iria ajudar o PSD a conseguir nova vitória. 2014 e 2015 seriam anos de crescimento e daria para aliviar a austeridade.

Como não vai haver menos austeridade, menos recessão e menos desemprego igual a mais votos, o independente Vítor Gaspar vai perceber, mais cedo do que tarde, como funcionam os partidos. De herói a vilão é um passinho.





Na verdade, já não há muito a fazer. Podem sempre esperar pelo milagre em que acreditam e que se baseia na teoria de que, regressando aos mercados, o dinheiro voltará a jorrar e as empresas vão poder voltar à banca a juros decentes para investir. O problema é que o efeito deste investimento na criação de empregos será muito demorado.

Quem não se está marimbando para as eleições é António José Seguro, que ambiciona ser primeiro-ministro. Se lá chegar, vai herdar um país que não pode passar da austeridade extrema para o regabofe, e, por isso, precisa de fazer acertos no seu discurso.

Como Durão Barroso disse antes de chegar a São Bento, também o líder do PS pode começar a dizer que vai ser primeiro-ministro, só não sabe é quando. Seguro tem de aproveitar o passa-culpas que já se começa a ouvir entre os nossos credores e o nosso Executivo. Num país com tantos dedos acusadores apontados ao Governo, o do líder do PS é só mais um.

Os socialistas, que chamaram a troika e assinaram o memorando, têm de centrar o seu discurso na defesa das alternativas que propõem. A confiança que o PS tem de gerar no eleitorado, para ultrapassar o resultado mediano que tem nas sondagens, só será conseguida se esse eleitorado acreditar que há um caminho viável na alternativa proposta. E isso ainda não aconteceu.

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