O padre Carreira das Neves é uma espécie de Cláudio Ramos da
Igreja Católica. Sempre que há tricas, o padre Carreira tem uma na manga -
da batina. Sabe sempre mais qualquer coisa que o comum dos párocos. É o
verdadeiro rato de sacristia. Teria uma excelente "carreira" como cronista
social numa publicação sobre a vida cor-de-rosa do Vaticano.
No dia 21, disse na SIC que sabia que o ex-bispo
auxiliar de Lisboa, Dom Carlos Azevedo, é homossexual e que "tinha problemas
complicados". Portanto, para o padre Carreira, para além de gay, Dom
Carlos tinha "problemas complicados".
Ora bem, mais generalista é
impossível. Dá para tudo. Insondáveis são as palavras de Carreira. Quem é
que hoje em dia não tem "problemas complicados"? Só Dom Carlos Azevedo, o padre
das Neves e Deus saberão, ao certo, a que problemas se referia. Prestações do
carro em atraso? Problemas hemorroidais?
Bem, sejam quais forem,
aparentemente a solução está em viajar até Itália. Segundo Carreira, "talvez ele
tenha ido para Roma por causa desses problemas complicados." Todos os
problemas vão dar a Roma.
Ontem, na SIC Notícias, o padre pediu desculpa pelas afirmações.
"Quero pedir perdão. Que me desculpe o Dom Carlos Azevedo(...) Fiz
declarações a partir de rumores que andavam por aí. Quando me perguntaram,
quando surgiu esta questão, se eu sabia, eu disse que tinha tido, há três ou
quatro meses, notícias através de um amigo de que havia rumores de que ele
era homossexual e que a homossexualidade era reconhecida", explicou.
Brilhante. A minha porteira não faria melhor.
Foi mais ou menos assim: tinha ido ao café comer uma pata de
veado e, ao balcão, estava uma senhora a dizer ao proprietário que o filho tinha
um Dom para a matemática, segundo a professora da primária. Na mesa ao
lado, numa conversa paralela, um moço estava a dizer que um vizinho dele, um tal
de Carlos, era um grande maricas e que o tinha sido apanhado agarrado ao
caseiro no celeiro da quinta de Almoçageme de Vale e Azevedo. Eu,
preocupado em registar o euromilhões em semana de jackpot, baralhei-me,
juntei tudo na 1,2,3, carreguei e saiu o DOM CARLOS AZEVEDO MARICAS. Estas
coisas acontecem. Tenho um primo que transformei em hermafrodita aos quinze
anos de idade, numa situação parecida mas passada na mercearia. Ainda hoje não
se livrou da fama -coitado.
"A minha mensagem... como chegou a ele... Com certeza que está
muito ofendido comigo. Quem não se sente não é filho de boa gente. Eu quero
dizer ao Dom Carlos Azevedo que sou amigo dele (...)", disse Carreira das
Neves.
É caso para dizer a Dom Carlos Azevedo, em jeito de conselho, que com
amigos destes mais vale fazer um pacto com o diabo.
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