domingo, 17 de março de 2013

A cama de Procrustes


 

José Augusto Lopes Ribeiro
E. S. Sá de Miranda – Braga

Segundo a mitologia, Procrustes era um bandido que vivia na estrada que ligava Mégara a Atenas e que moldava as pessoas à dimensão dos seus dois leitos. Assim,
obrigava os transeuntes que fossem grandes a deitarem-se na cama pequena (cortando-lhes os pés)
e aos pequenos deitava-os na cama grande (esticando-os até ao tamanho da cama).

Analogamente, o nosso sistema educativo procura ajustar alunos e professores a um padrão, promovendo uma uniformização que funciona de modo centralizado e burocrático. Deste modo, pretende-se impor aos docentes uma complexidade de tarefas e de exigências dignas de um herói (professor, psicólogo, assistente social, pai e mãe, etc), enquanto os alunos são inseridos numa escolaridade obrigatória, independentemente das condições socioeconómicas, culturais, físicas, psicológicas e afetivas, sem outros mecanismos de acompanhamento ou monitorização, sendo obrigados a realizar um percurso na escola, que muitos rejeitam à partida.

Neste contexto, a rigidez do processo despoleta uma enorme fricção entre os diversos intervenientes gerando disfunções na organização da Escola, no trabalho em sala de aula e no relacionamento entre professores, alunos e encarregados de educação. Daqui decorre uma violência silenciosa que provoca danos colaterais como a indisciplina e a desvalorização do trabalho docente.

A escola encontra-se, pois, paralisada e impotente para responder a questões como esta: se a escolaridade é obrigatória, então o que fazer com um aluno que não quer estudar, perturba as aulas e impede a aprendizagem dos colegas?

Os docentes são hiper-responsabilizados e convidados a encontrar soluções individuais para problemas sistémicos. A escola vai perdendo capacidade para enfrentar os novos desafios e a atividade docente está condenada a percorrer caminhos onde Procrustes massacra as suas vítimas

Sem comentários:

Enviar um comentário

Este blogue é gerido por Zé da Silva.
A partilha de ideias é bem vinda, mesmo que sejam muito diferentes das minhas. Má educação é que não.