A Fábula Do Cheque-Ensino Em Vila Azul
Paulo
Guinote, em 4 de Março
Em Vila Azul há meninos de famílias azuis claras e azuis
escuras. Há mais, mas simplifiquemos.
Os meninos das mais escassas famílias azuis claras
gostam de escolas azuis claras. São caras, mas dá para pagar os 4000 azures
por ano, mas vale pela segurança, pelos tops e pela diferenciação, pois
o direito de admissão é reservado.
Os meninos das mais numerosas famílias azuis escuras
vão a uma escola gratuita, com menos pedigree, menos tops, mas em
que todos podem entrar.
Nas famílias azuis claras, algumas pessoas muito inteligentes
apareceram a dizer que é injusto não poderem ir todos para as escolas melhores
e que deveria ser dado pelo Estado Liberal um cheque-brinde de 3000 azures,
para que todos os meninos, claros e escuros, pudessem ter liberdade para
escolher.
Os empreendedores das escolas azuis claras bateram
palmas e subiram o prémio de entrada para 5000 azures por ano, devido
à pressão da procura.
As famílias azuis claras não se importaram, pois com o
cheque-brinde do Estado Liberal, ainda poupavam dinheiro, precisando apenas de
juntar 2000 azures para continuarem diferenciadas.
As famílias azuis escuras viram-se um pouco sem saber
o que fazer, pois os 2000 azures necessários para terem liberdade para
escolher não estavam ao alcance de todas. Umas conseguiram e quiseram ir para
escola azul clara e lá passaram pelo crivo, resultante da tal pressão da
procura. Ficaram azuis assim-assim. Sentiram-se menos escuras, mas não o
suficiente para serem claras.
As escuras ficaram mais escuras e continuaram nas
escolas azuis escuras, cada vez mais abandonadas.
Nas escolas azuis claras, os empreendedores passaram a
dormir muito mais descansados, com o suave e doce tilintar da cascata de azures
do Estado Liberal. Em nome da Santa Liberdade.
Qualquer semelhança com um país real perto de si é
mera coincidência. Mas há quem deseje que seja apenas uma questão de tempo,
porque a porta já está entreaberta e oleada
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