O Manifesto pela Democratização do Regime é uma boa
notícia. Significa que ainda há na sociedade, da direita à esquerda,
cidadãos que conseguem entender-se à volta de uma ideia e de um objetivo
precisos: a ideia é que a saída desta crise tem de ser política; o objetivo é
que essa saída seja estritamente democrática.
domingo, 31 de março de 2013
sábado, 30 de março de 2013
sexta-feira, 29 de março de 2013
quinta-feira, 28 de março de 2013
quarta-feira, 27 de março de 2013
Dia Mundial do Teatro - 2013
Mensagem por Dario Fo
Hoje, os atores e as companhias de teatro têm dificuldades em encontrar teatros, praças públicas e espectadores, tudo por causa da crise. Os Governantes, portanto, não estão mais preocupados com os problemas de controle sobre aqueles que se expressam com ironia e sarcasmo, já que não há lugar para atores, nem existe um público para assistir.
Ao contrário, durante o período do Renascimento, na Itália, os que estavam no poder tinham que fazer um esforço significativo para manter em seus territórios, os Commedianti, uma vez que estes desfrutavam de um grande público.
É sabido que o grande êxodo de artistas da Commedia dell'Arte aconteceu no século da Contra-Reforma, que decretou o desmantelamento de todos os espaços do teatro, especialmente em Roma, onde foram acusados de ofender a cidade santa. Em 1697, o Papa Inocêncio XII, sob a pressão de insistentes pedidos do lado mais conservador da burguesia e dos expoentes do clero, ordenou a demolição do Teatro Tordinona, em cujo palco, segundo os moralistas, tinha encenado o maior número de performances obscenas.
Na época da Contra-Reforma, o cardeal Carlo Borromeo, que era ativo no Norte de Itália, havia se comprometido com o resgate dos "filhos de Milão", estabelecendo uma clara distinção entre a arte - como a mais alta forma de educação espiritual, e o teatro - a manifestação de palavrões e de vaidade. Em uma carta dirigida aos seus colaboradores, que eu cito de improviso, ele se expressa mais ou menos da seguinte forma: "(...) em relação à erradicação da erva do mal, fizemos o nosso melhor para queimar textos que continham discursos infames, para erradicá-los da memória dos homens, e, ao mesmo tempo, a processar também aqueles que divulgaram tais textos impressos. Evidentemente, no entanto, enquanto estávamos dormindo, o diabo trabalhou com astúcia renovada. Como penetra na alma mais do que o que os olhos vêem, o que você pode ler nos livros desse tipo! Assim como a palavra falada e o gesto apropriado são muito mais devastadores para as mentes dos adolescentes e jovens do que uma palavra morta impressas em livros. É, portanto, urgente livrar nossas cidades de fabricantes de teatro, como fazemos com as almas indesejadas.".
Então, a única solução para a crise está na esperança de que uma grande "expulsão" seja organizada contra nós e, especialmente, contra os jovens que desejam aprender a arte do teatro: a diáspora nova de comediantes, de fabricantes de teatro, que, certamente, a partir de tal imposição, terão benefícios inimagináveis para uma nova representação."
Dario Fo
tradução é de Tonico Lacerda Cruz
Viva o Teatro
!!!
Zé da Silva
terça-feira, 26 de março de 2013
segunda-feira, 25 de março de 2013
domingo, 24 de março de 2013
sábado, 23 de março de 2013
sexta-feira, 22 de março de 2013
quinta-feira, 21 de março de 2013
Dia Mundial da Poesia - 2013
Sophia de Mello Breyner Andresen
Camões e a tença
Irás ao Paço. Irás pedir que a
tença
Seja paga na data combinada
Este país te mata lentamente
País que tu chamaste e não
responde
País que tu nomeias e não nasce
Em tua perdição se conjuraram
Calúnias desamor inveja ardente
E sempre os inimigos sobejaram
A quem ousou seu ser
inteiramente
E aqueles que invocaste não te
viram
Porque estavam curvados e
dobrados
Pela paciência cuja mão de
cinza
Tinha apagado os olhos no seu
rosto
Irás ao Paço irás pacientemente
Pois não te pedem canto mas
paciência
Este país que te mata lentamente.
"Que se lixem as eleições"
(DN de 17/3)
O Governo,
de uma forma geral, e o ministro das Finanças, de uma forma particular, parecem
apostados em dar razão ao líder do PSD. Pelo andar da carruagem, vão mesmo
lixar-se nas eleições.
Adiar por um
ano o cumprimento das metas previstas no memorando, sem que a esse adiamento
corresponda um alivio da austeridade, é apenas ajustar o programa de
ajustamento à realidade dos números. A simples aritmética haverá de provar que
mais austeridade, mais recessão e mais desemprego é igual a menos votos.
Quando
Passos Coelho se dirigiu aos seus deputados explicando que não se importava de
perder umas eleições para salvar Portugal, Vítor Gaspar terá sido dos que
gostaram da tirada. O resto do PSD também, porque revelava um líder responsável
e, acima de tudo, porque aquilo cheirava a retórica política. No momento certo,
o Governo iria ajudar o PSD a conseguir nova vitória. 2014 e 2015 seriam anos
de crescimento e daria para aliviar a austeridade.
Como não vai
haver menos austeridade, menos recessão e menos desemprego igual a mais votos,
o independente Vítor Gaspar vai perceber, mais cedo do que tarde, como
funcionam os partidos. De herói a vilão é um passinho.
quarta-feira, 20 de março de 2013
terça-feira, 19 de março de 2013
Os Bombos da Festa do Costume
(Paulo Guinote, no seu blogue)
Veio a troika. Veio nova avaliação.
O Governo falhou previsões, falhou metas, falhou tudo,
excepto empobrecer o país.
Aplicou fórmulas e modelos errados, com o apoio e
encorajamento da dita troika.
Falhou. Assim como a própria troika, entidade
quase mítica formada por gente certificada como competente e inteligente de
três organismos internacionais, falhou de forma calamitosa.
Ordenaram cortes, congelamentos, despedimentos
disfarçados de outras designações.
- Reduziram apoios sociais,
- diminuíram compensações,
- aumentaram
- empobreceram a maioria do país,
enquanto mantinham
incólumes os grandes interesses e negócios.
O défice continuou mais ou menos onde estava.
Há que encontrar a solução.
Qual é?
Mais cortes, mais congelamentos, mais despedimentos,
agora com o nome de rescisões.
A fórmula que falhou, repetida.
Vamos mudar isto? Vamos salvar isto?
(Expresso online de ontem)
Não vou estender-me com a explicação destes conceitos. Mas já
todos percebemos que, passada a fase das provações extremas que estamos a
sofrer, por efeitos da brutal recessão e quebra de rendimentos que sentimos,
jamais voltaremos à situação anterior.
Também já todos entendemos que,
por muito que os economistas acertassem - e não acertam! - jamais poderemos
vislumbrar uma mera solução técnica para os inúmeros problemas que temos pela
frente, pelo que a solução tem de ser eminentemente política, embora levando
em conta os condicionamentos económicos.
Acresce que essa saída política tem de ser democrática e
conter em si escapes e válvulas. Ou seja, pode ser mais à direita ou mais à
esquerda, desde que cumpra dois requisitos fundamentais:
- não seja imposta aos cidadãos, pelo contrário estes se revejam nas escolhas;
- e permitir consensos amplos.
Ora o manifesto, subscrito por gente tão diferente que vai de Rui
Tavares (deputado europeu independente, eleito nas listas do BE) a Fernando
Condesso (ex-presidente do Grupo Parlamentar do PSD), passando por militares
como Vasco Lourenço, economistas como Ventura Leite e Almeida Serra, empresários
como Henrique Neto e ex-ministros, como Manuel Carrilho ou Veiga Simão e muitos
outros, artistas, professores universitários, investigadores, etc. cumpre estes
propósitos.
O que querem eles?
segunda-feira, 18 de março de 2013
domingo, 17 de março de 2013
A cama de Procrustes
José Augusto Lopes Ribeiro
E. S. Sá de Miranda – Braga
Segundo a mitologia, Procrustes era um bandido que
vivia na estrada que ligava Mégara a Atenas e que moldava as pessoas à dimensão
dos seus dois leitos. Assim,
obrigava os transeuntes que fossem grandes a
deitarem-se na cama pequena (cortando-lhes os pés)
e aos pequenos deitava-os na
cama grande (esticando-os até ao tamanho da cama).
Analogamente, o nosso sistema educativo procura
ajustar alunos e professores a um padrão, promovendo uma uniformização que
funciona de modo centralizado e burocrático. Deste modo, pretende-se impor aos
docentes uma complexidade de tarefas e de exigências dignas de um herói
(professor, psicólogo, assistente social, pai e mãe, etc), enquanto os alunos
são inseridos numa escolaridade obrigatória, independentemente das condições
socioeconómicas, culturais, físicas, psicológicas e afetivas, sem outros
mecanismos de acompanhamento ou monitorização, sendo obrigados a realizar um
percurso na escola, que muitos rejeitam à partida.
Neste contexto, a rigidez do processo despoleta uma
enorme fricção entre os diversos intervenientes gerando disfunções na
organização da Escola, no trabalho em sala de aula e no relacionamento entre
professores, alunos e encarregados de educação. Daqui decorre uma violência
silenciosa que provoca danos colaterais como a indisciplina e a desvalorização
do trabalho docente.
A escola encontra-se, pois, paralisada e impotente
para responder a questões como esta: se a escolaridade é obrigatória, então
o que fazer com um aluno que não quer estudar, perturba as aulas e impede a
aprendizagem dos colegas?
Os docentes são hiper-responsabilizados e convidados a
encontrar soluções individuais para problemas sistémicos. A escola vai perdendo
capacidade para enfrentar os novos desafios e a atividade docente está
condenada a percorrer caminhos onde Procrustes massacra as suas vítimas
sábado, 16 de março de 2013
sexta-feira, 15 de março de 2013
Os limites da decência
por FILOMENA MARTINS (DN de sábado)
Perder, de
repente, 60% a 90% dos rendimentos é uma enormidade, seja para quem for: sobre
isso, que não restem dúvidas.
Que estamos perante um abuso fiscal, também é
inegável: e a dimensão desse abuso tem de ser vista de todas as perspetivas,
sobretudo a dos abusados, e não apenas sob o chapéu populista dos "ricos
que paguem a crise".
Que todas as vítimas do choque de impostos deste Governo devem protestar, também é um direito mais do que legítimo.
Mas tenhamos todos a noção do ridículo: colocar Filipe Pinhal, ex-administrador do BCP, envolvido em vários processos judiciais, cuja pensão mensal será de mais de 46 mil euros, a liderar um movimento de reformados indignados contra a contribuição extraordinária de solidariedade, é um absurdo.
A iniciativa parecia até ter sido um golpe de génio de Vítor Gaspar:
Por mais que Pinhal e os 70 associados do movimento argumentem que lhe estão a fazer cortes em pensões privadas, precisam descer à terra.
As suas reformas, decididas num círculo de amigos restrito do qual todos saíram a ganhar, são pagas pelos bancos que o Estado está agora a financiar com o dinheiro de todos nós.
E há outros milhões de reformados, que cumpriram escrupulosamente os seus descontos, o seu contrato social, a quem foram feitos cortes em pensões abaixo do limiar de sobrevivência.
Os limites da decência foram ultrapassados.
Que todas as vítimas do choque de impostos deste Governo devem protestar, também é um direito mais do que legítimo.
Mas tenhamos todos a noção do ridículo: colocar Filipe Pinhal, ex-administrador do BCP, envolvido em vários processos judiciais, cuja pensão mensal será de mais de 46 mil euros, a liderar um movimento de reformados indignados contra a contribuição extraordinária de solidariedade, é um absurdo.
A iniciativa parecia até ter sido um golpe de génio de Vítor Gaspar:
- autodescredibilizou-se de imediato,
- tornou-se numa anedota nacional
- e conseguiu o objetivo contrário ao pretendido,
Por mais que Pinhal e os 70 associados do movimento argumentem que lhe estão a fazer cortes em pensões privadas, precisam descer à terra.
As suas reformas, decididas num círculo de amigos restrito do qual todos saíram a ganhar, são pagas pelos bancos que o Estado está agora a financiar com o dinheiro de todos nós.
E há outros milhões de reformados, que cumpriram escrupulosamente os seus descontos, o seu contrato social, a quem foram feitos cortes em pensões abaixo do limiar de sobrevivência.
Os limites da decência foram ultrapassados.
quinta-feira, 14 de março de 2013
quarta-feira, 13 de março de 2013
20 páginas inúteis
(Baptista-Bastos, hoje no DN)
Um alvoroço de artigos, crónicas, comentários, depoimentos acolheu o prefácio
que o dr. Cavaco apôs ao sétimo volume de Roteiros, singular colecção de
trivialidades pretendidamente políticas, e não, como o título sugere, itinerário
turístico.
Quase todos os preopinantes manifestaram perplexidade porque o autor nada dizia de novo. Estranha conclusão.
O homem é o que é: um medíocre brunido, formal e liso.
Com penosa disposição li o texto, porque o alarido a tal me impelia. Os habituais tropeços nas preposições, o confuso desalinho com as adversativas, e a ausência total de qualquer ideia. O costume da banalidade, elevado à nobre condição de "tema."
Quase todos os preopinantes manifestaram perplexidade porque o autor nada dizia de novo. Estranha conclusão.
O homem é o que é: um medíocre brunido, formal e liso.
Com penosa disposição li o texto, porque o alarido a tal me impelia. Os habituais tropeços nas preposições, o confuso desalinho com as adversativas, e a ausência total de qualquer ideia. O costume da banalidade, elevado à nobre condição de "tema."
terça-feira, 12 de março de 2013
domingo, 10 de março de 2013
sábado, 9 de março de 2013
O "conselheiro" Borges
(João
Marcelino – DN de hoje)
1. Tenho por
certo que António Borges, nesta fase da sua vida, está muito pouco interessado
em fazer concessões em relação a tudo aquilo em que acredita, e a tudo aquilo
que julga saber.
Isso tem sido evidente nos últimos meses.
Cada vez que António Borges dá uma entrevista, e
desdobra-se como nunca nessa cruzada, o que diz produz efeito.
Em junho defendeu que os salários dos portugueses deviam baixar. Obrigou o primeiro-ministro a vir esclarecer que
o Governo não tinha nenhum plano para descer nominalmente os salários.
Em agosto, numa incursão sobre a RTP,
lançou a ideia de concessionar a estação a privados que tinham,
dizia ele, melhores condições para gerir a empresa - e despedir quem houvesse a
despedir a seguir. Mesmo quando, já no início deste ano, Miguel Relvas anunciou
que a privatização estava cancelada e se iria seguir a restruturação da RTP
mantendo-a na órbita do Estado, o conselheiro Borges entendeu que não seria bem
assim. E disse-o.
Em setembro, na mais bruta das polémicas, tinha
decidido chamar
ignorantes aos empresários que rejeitaram as alterações à taxa social única,
que Pedro Passos Coelho, pressionado pelo País, foi obrigado a meter na gaveta.
2. Agora,
retomando o tema que lhe é tão caro da baixa de salários, António Borges acha
que até o
ordenado mínimo (485 no Continente e um pouco mais nos Açores e na
Madeira) deveria
diminuir, como aconteceu noutros países, como a Irlanda. Que o salário mínimo português seja um terço do irlandês
será, com certeza, um pormenor; e que os patrões portugueses, numa perspetiva mais inteligente de
reanimação do mercado interno, estejam até disponíveis para negociar esse
salário mínimo nacional, deve ser - é - absolutamente irrelevante para o
"conselheiro" Borges.
Pelo meio disto, a avença de 300 mil euros que recebe para o grupo de trabalho que lidera dar conselhos ao Governo
sobre as privatizações não o impediu de assumir funções num grupo privado, a
Jerónimo Martins.
3. É um mistério que o Governo
continue a precisar dos doutos conselhos do antigo vice-governador do Banco de
Portugal e alto funcionário da Goldman Sachs.
Por um lado, cada vez que o homem fala - e já se percebeu
que não se sente limitado neste campo da comunicação - o Governo abana. Leva com os
protestos e críticas de empresários, trabalhadores e partidos da oposição,
quando não mesmo com as de relevantes militantes dos próprios PSD e CDS.
A irresistível lógica teórica defendida por Borges de
que baixos salários são um passo para promover o emprego no futuro seria,
aliás, sempre um excelente argumento para Pedro Passos Coelho fazer aquilo que
há muito se impõe: despedi-lo com justa causa, retirar ao
"conselheiro" a possibilidade de continuar a massacrar os seus
compatriotas com a dureza de quem parece que já nada espera da vida.
Há momentos em que é preciso dizer basta aos dislates,
mesmo que travestidos de alguma lógica académica ultraliberal.
Não há nenhum motivo de natureza racional que, tantos
disparates depois, aconselhe a manter este homem na órbita do Governo - pago, e bem pago, com o dinheiro de todos os contribuintes.
Se há limites para a arrogância intelectual paga pelo Estado, António Borges
ultrapassou-os todos.
Se todos os portugueses
trabalhassem de borla haveria pleno emprego e todas as empresas do mundo
quereriam estabelecer-se no nosso país - será que António Borges já pensou
nisto? É uma bela ideia, não é?
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Resumindo, digo eu:
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