(Jorge Brito Pereira - Diário Económico)
É mentira que os responsáveis do PS tinham razões para acreditar, durante a campanha eleitoral das últimas eleições legislativas (Setembro de 2009), que era possível cumprir o programa de obras públicas previsto no Programa do Governo e simultaneamente consolidar as contas públicas.
Assim como é mentira pretender que, um ano depois, é possível equilibrar as contas públicas sem cortar fortemente nas despesas do Estado.
E é mentira que seja possível diminuir a despesa sem afectar de forma relevante as despesas sociais com cortes que, face ao aumento exponencial da dívida e do seu serviço, se afiguram cada dia mais radicais e monstruosos.
É mentira por isso que seja possível sair deste ciclo vicioso em que entramos sem reformar o nosso Estado social.
E é mentira que, em qualquer caso, seja possível reequilibrar as contas públicas no próximo par de anos à custa de cortes na despesa, ou seja, sem novo aumento de impostos.
E é mentira que um novo aumento de impostos possa ser feito sem afectar gravemente a classe média e a capacidade do nosso sector privado gerar profundidade à economia.
Já agora, é mentira que a despesa e o ‘deficit' estejam em 2010 inferiores ao que estavam no período homólogo de 2009.
E é por isso mentira que o endividamento público esteja controlado e que seja razoável esperar que o limite do ‘deficit' previsto no PEC 2 seja cumprido a não ser que ocorra um milagre (espontâneo ou induzido) na receita.
E é também mentira que a situação orçamental não seria muito mais favorável se o Governo tivesse introduzido as portagens nas SCUT quando isso, há vários anos, começou a ser defendido.
E é mentira que no último trimestre de 2009 fosse responsável defender o que a este propósito consta do Programa do Governo.
Já agora, e porque o mundo não muda assim tão depressa, é também mentira que o mundo tenha mudado em Maio deste ano e que se passasse a justificar um aumento de impostos que antes não se justificava.
E é também mentira que os números do desemprego no último trimestre tenham o que quer que seja de positivo - temos o quarto maior desemprego da OCDE e a tendência é de agravamento desde o início da década de 90.
E é mentira que quando foi adjudicado o troço do TGV entre o Caia e o Poceirão (Dezembro de 2009) não se sabia que alguns meses depois não existiriam condições para adjudicar o troço entre Lisboa e o Caia.
E, salvo novo milagre, é mentira que em Novembro as coisas sejam diferentes e possa ser lançado um novo concurso.
De todas as coisas más que aconteceram à política portuguesa nas últimas décadas, a banalização da mentira é certamente a pior.
A mentira destrói qualquer viabilidade de construção de uma relação positiva dos cidadãos com os poderes públicos, corrói a confiança nos políticos até ao grau zero, mina o optimismo no futuro e, sobretudo, cria comportamentos desmobilizados e irresponsáveis nos governados.
A mentira faz com que os políticos pareçam tolos e, sobretudo, faz com que não pareçam honestos - apenas adia a necessidade de confronto com a verdade, fazendo depois com que esse confronto doa muito mais, como uma dor de dentes que não é tratada.
Por tudo isto, continuar a dar a entender que é patriótico alimentar uma confiança cega na nossa economia e que é contra os nossos interesses confrontar-nos com a verdade é uma das coisas mais irresponsáveis que ouvi.
(imagens retiradas da internet)
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