sábado, 25 de setembro de 2010

É o que dá contornar a verdade

Churchill escreveu um dia que "os homens tropeçam por vezes na verdade, mas a maior parte torna a levantar-se e continua depressa o seu caminho, como se nada tivesse acontecido". Governo e Oposição tanto contornaram a verdade que agora levaram com ela de frente, qual soco em seco no estômago.

Aquilo a que assistismos nos dois últimos dias é pouco digno do Homem. O futuro do país decide-se numa indecorosa chantagem: se o PSD não aprovar o Orçamento do Estado para 2011, o Governo pura e simplesmente bate com a porta. Que é como quem diz, abre a porta ao Fundo Monetário Internacional.

Obcecados com a táctica política, para ver quem cai primeiro, PS e PSD mostram um total desrespeito pelos portugueses. E são esses que vão pagar os contornos à verdade. Pagando mais impostos, ganhando cada vez menos, empobrecendo dia após dia. Porque alguém (ou alguns) se lembrou de ser irresponsável.

Teixeira dos Santos joga o papel do odioso - como, aliás, qualquer ministro das Finanças. Questiona a Oposição sobre onde poderá cortar quatro mil milhões de euros do lado da despesa. Pois claro que não consegue, porque ainda ontem o seu colega António Mendonça veio reafirmar a firmeza do Governo em levar por diante a ligação em alta velocidade Lisboa-Madrid - que, com a terceira travessia sobre o Tejo incluída, fica por qualquer coisa como quatro mil milhões.

Mas o que o ministro das Finanças não explicou é por que razão tem de cortar naquela ordem de grandeza. Ora, o Governo não aprovou, em grande sentido de Estado ao lado do PSD, o austero PEC II? Onde, por exemplo, aumentou o IVA em um ponto percentual, criou uma taxa adicional sobre o IRS, alterou ou acabou com diversas prestações sociais, subiu as cativações e congelou as admissões de pessoal? E isso gerou o quê? Zero?

Merecemos, de facto, conhecer a execução do PEC II para, de uma vez por todas, ficarmos a saber qual a dimensão do buraco em que estamos metidos. Até lá, o nível da nossa democracia cai a olhos vistos, para regozijo dos investidores internacionais, que a cada dia que passa ficam mais ricos com a nossa irresponsabilidade.

(Joana Amorim - JN de hoje)

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