“Um português sabe que a crise é grave quando se vê obrigado a arranjar um segundo emprego. E sabe que a crise é gravíssima quando vê que há membros do Governo que fazem o mesmo. Como Laurentino Dias, que agora acumula o lugar de secretário de Estado do Desporto com o de comentador de futebol. Mesmo sem utilizar o jargão indecifrável de Luís Fretas Lobo ou o histerismo sóbrio dos comentadores do Dia Seguinte, Laurentino Dias é o analista do momento. Uma espécie de Rui Santos com o cabelo desfrisado. Depois dos autarcas/dirigentes, agora temos os membros do Governo/comentadores. Para quando os deputados/ fiscais-de-linha?
[…]
Mas onde Laurentino tem sobressaído é na cobertura do processo Carlos Queiroz. Como a Guerra do Golfo para José Rodrigues dos Santos, está o “C*** da mãe de Luís Horta Gate” para Laurentino Dias. È a grande oportunidade da sua vida para brilhar. Ora validando sentenças, ora perorando sobre recolhas de chichi, ora sugerindo estratégias à FPF, Laurentino não pára de atirar bolas para o pinhal. É uma espécie de chuteira falante.
Poderão dizer que esse é o trabalho de um secretário de Estado do Desporto. Talvez. Mas só se, por exemplo, entre as funções do secretário de Estado da Agricultura estiver a obrigação de entrar em minha casa à hora do jantar e censurar-me por não papar legumes suficientes.
O que sucede é que a Secretaria de Estado do Desporto é o órgão oficial com que o Governo se associa aos êxitos desportivos. É a UHU dos balneários. Depois de uma vitória, lá aparece o secretário de Estado a colar-se aos vencedores. Laurentino Dias é aquele dedo maroto que vai rapar o chocolate ao fundo do tacho, para que o Governo se lambuze com os restos do bolo. […].
Só que, quando a selecção não tem bons resultados, não serve de muito. Isso talvez explique a forma enérgica com que Laurentino Dias se empenha em despedir Queiroz”, et cetera.
José Diogo Quintela, “O Rui Santos do cabelo desfrisado”, publicado na revista Pública (12/09/2010).
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