Não, não penso que a opinião formal sobre os assuntos que respeitam à Educação devam estar reservados a quem tem o diploma em Pedagogia, mas penso que essa opinião deve estar reservada a quem tem informação sólida na área da Pedagogia.
Se se opina sobre aprendizagem ou sobre ensino ou sobre outro assunto qualquer é preciso estar-se a par da teoria e da investigação que o esclareça, com especial destaque para a que se tem por certo no momento.
É dessa informação que se retira a opinião.Isto é tanto mais verdade quanto as opiniões têm efeitos práticos, tocam a vida das pessoas, podendo beneficiá-las ou prejudicá-as.É assim na medicina, é assim na engenharia, é assim na educação.
Admito, pois, que uma pessoa formada em arquitectura possa ter uma opinião sobre educação. Mas, nas condições que referi e não noutras.Não foi por acaso que me referi a esta profissão, mas por causa das declarações sobre a educação escolar feitas por uma pessoa que a exerce.Entre as muitas ideias erradas patentes nessas declarações, caso o referido jornal não tenha cometido erros de transcrição, contam-se as seguintes:
- O ensino está a mudar, “hoje não se centra apenas no ministrar de conhecimento e competências básicas de professor para aluno”.
- A escola deve ser “descentrada da sala de aula, em que os alunos se espalham por espaços informais, com os seus computadores portáteis, cruzando-se com os professores na biblioteca e discutindo projectos".
Se a pessoa fosse uma vulgar arquitecta a trabalhar numa vulgar empresa, eu passaria à frente e não estaria, de certeza, a escrever este texto, mas acontece que esta pessoa é, nada mais nada menos, do que uma representante do conselho de administração empresa Parque Escolar, que, efectivamente, por conta do governo, meteu “mãos à obra” e pôs essas ideias em prática.
Ora, tais ideias revelam uma concepção absurda e insustentável de ensino e de escola.
Passo a explicar as minhas razões, que várias vezes já expliquei neste blogue:
- O ensino está a mudar como sempre esteve, ainda que, desejavelmente, mantenha o que lhe imprime identidade como actividade humana que é, e que o faz funcionar, de modo que os alunos aprendam.
E o que lhe imprime identidade e eficácia é precisamente o facto de o professor “ministrar” (sim, ministrar, no sentido de fornecer, proporcionar…) conhecimentos aos alunos e, nessa tarefa, estimular as suas capacidades cognitivas e levá-los adquirir princípios éticos e morais.
O ensino não tem de ir mais longe, porque o ensino é isto. Se os professores se conduzirem por esta concepção de ensino cumprem a sua função. Nobre função, acrescento, pois tem-nos permitido transmitir a herança civilizacional e ampliá-la.Por essa razão, o ensino não pode ser descentrado da sala de aula, que é o lugar privilegiado para os professores ensinarem e os alunos aprenderem. E isto porque os alunos não aprendem sozinhos nem com computadores, aprendem se e quando os professores ensinam bem, nos espaços e nos tempos adequado para isso.
Não basta os alunos “cruzarem-se” com os professores para aprenderem.
Chegada ao fim deste texto, não posso deixar de perguntar: de que valem as linhas que escrevi, que são baseadas na investigação sobre o ensino e a aprendizagem que tenho por correcta, se é esta "a visão que a Parque Escolar tem para o ensino em Portugal” e que está a aplicar em cada escola onde intervém?
(texto de Helena Damião, in De Rerum Natura)
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