sábado, 19 de junho de 2010

D. José Policarpo está em campanha

por RUI HORTELÃO (no DN)
Selecção e realces de minha autoria


Devíamos ter desconfiado quando o ouvimos criticar tão frontalmente Cavaco Silva, pela aprovação do casamento homossexual.

Devíamos ter percebido que D. José Policarpo podia ter sublinhado a sua desilusão sem a centrar apenas num político tão católico como Cavaco e que, se não o fez, alguma razão terá.

Devíamos, à parte das movimentações de bastidores que surgiram, excluir a hipótese de as declarações terem sido precipitadas ou pouco reflectidas.

Quanto mais não fosse quando, na quarta-feira, indiferente ao aproveitamento político entretanto feito das suas palavras, o cardeal-patriarca voltou ao tema.

Desta vez já não personalizando no Presidente, é certo, mas lembrando que a Igreja é muito mais do que a sua hierarquia e que "os cristãos leigos (...) devem ser porta-vozes, no seio da sociedade, dos autênticos valores cristãos". Nova a crítica a Cavaco Silva? Parece pouco para tão firme e invulgar posição.

Só um objectivo maior do que o mero ataque pessoal ao mais católico dos chefes de Estado desde 1974 ou do que o desafio a Santana Lopes e a todos os que não gostam de Cavaco Silva pode justificar a determinação com que o cardeal-patriarca tem abordado o tema das presidenciais.

O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, D. Jorge Ortiga, tentou arrefecer a polémica, mas o impacto - e consequências - das palavras de D. José Policarpo é irreversível. No mínimo, condicionará toda a acção futura de Cavaco Silva - mesmo depois de uma eventual eleição -, em particular na gestão dos temas mais delicados para a Igreja.

[...]

"A Igreja pode meter-se não na pequena política partidária mas nas questões que dizem respeito ao bem comum."

[...]

Fica assim confirmado que D. José Policarpo está em campanha. Mas não numa campanha recente, apontada contra Cavaco Silva ou contra o islão. O cardeal- -patriarca está, isso sim, em campanha por uma Igreja mais activa na defesa da moral e dos dogmas católicos, mesmo que nem sempre seguindo uma disciplina tão ortodoxa como a que Bento XVI tem tentado impor.

A direita católica dificilmente apresentará um candidato alternativo a Cavaco Silva e só por milagre conseguiria derrotá-lo.

Mas isso é política partidária.

E a campanha de D. José Policarpo é teológica.

Além disso, já ganhou ao abanar a consciência dos "crentes envergonhados (...), políticos, intelectuais, profissionais da comunicação".

E, sendo os adversários Manuel Alegre e Fernando Nobre, ganhará também com a reeleição de Cavaco.

1 comentário:

  1. ...e Cavaco candidatar-se-á??? Bem sei que este pseudo-apoio do PS a Alegre é o mesmo que dizer - "nós apoiámo-lo para não ter que apoiar o outro, mas na verdade preferimos o segundo" - A questão é que para Alegre é melhor este apoio fraco do que nenhum... e se com nenhum já faria sombra...

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