Eu lembro-me bem do que escrevi sobre o desgoverno de Sócrates e como era um imperativo nacional que o seu tempo acabasse antes que arrastasse o país para uma espiral de endividamento sem retorno. Escrevi também, e não o renego, que se isso tivesse de ser feito à custa de uma governação de Direita não haveria que ter receio e pagar esse preço.
 
Ora bem… chegámos ao ponto em que a experiência de quase dois anos já provou que em troca do endividamente externo se passou para o esbulho interno. Aos negócios das PPP com amigos sucedeu-se o encobrimento de dívidas e buracos de compadres e conhecidos.
 
Como em 2011 era indispensável correr com o Partido de Sócrates do poder a todo o custo, tornou-se evidente que é indispensável correr com a facção do Pedro e do Miguel da governação, no prazo mais curto que seja possível. Até porque já tiveram tempo suficiente para mostrar a sua incompetência para brincar com o aparelho de Estado e para demonstrar que não é com equivalências e habilidezas que se governa mesmo um país suave de hábitos como o nosso.
 


 
Mesmo tendo em conta que o Presidente se vai entretendo a distribuir medalhas, o Provedor de Justiça se destaca por arquivar as queixas dos cidadãos, a Procuradoria Geral da República se ocupa em guerras internas pelo controle da máquina e o Tribunal Constitucional se assemelha a uma tertúlia que toma decisões de conveniência política e não com base jurídica.
 
Estando a base da soberania democrática no tão evocado “povo”, parece-me a mim que, como antes, não é apenas de quatro em quatro anos que deve ser ouvido em situações de previsível catástrofe política e social. E o seu som, independentemente da selecção musical, começa a fazer-se ouvir para além da apatia e desânimo em que o quiseram silenciar.
 
E tal como antes achava que o “povo de Esquerda” deveria colaborar no derrube de Sócrates por ser um imperativo nacional, não servindo o argumento do medo do papão da Direita, também acho agora que o “povo de Direita” não deve recear o derrube de Passos e Relvas, só porque isso pode reconduzir a Esquerda ao poder. Até porque, com a experiência ganha com todo este processo, quero acreditar que não serão cometidos os mesmos erros do passado recente e haverá um controle mais apertado de qualquer governação futura.
 
Considero, portanto, que a cegueira causada pela partidarite aguda ou por eventuais traumas anti isto e aquilo deve dar lugar a um olhar claro e objectivo sobre o actual estado de desgoverno do país, com falhas sucessivas, amadorismos diversos, compadrios evidentes, negócios calamitosos para o interesse público e uma total ausência de sentido de Estado.
 
Como antes, é importante fechar mais este ciclo negro da nossa História. O relvas-governante é um atentado de lesa-pátria e quem dele depende para manter o poder é cúmplice dessa ofensa a um país que, apesar de muita mediocridade política, antiga e moderna, precisa recuperar algum orgulho e não se envergonhar a cada noticiário ou primeira página de jornal.