sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Ainda o Ulrich


(Expresso Online)


Calado, o senhor Ulrich é um poeta

"O presidente do BPI, Fernando Ulrich, reforçou hoje que o país tem de aguentar mais austeridade, se for necessária. O banqueiro, que anunciou lucros superiores a 200 milhões, voltou a afirmar que "se os gregos sobreviveram, os portugueses também têm de conseguir."
 
"Se você andar aí na rua, infelizmente encontramos pessoas que são sem-abrigo, isso não lhe pode acontecer a si ou a mim porquê? (...) E se aquelas pessoas que nós vemos ali na rua, naquela situação, a sofrer tanto aguentam, porque é que nós não aguentamos? Parece-me uma coisa absolutamente evidente" - rematou o banqueiro.
 
Segundo Ulrich, "se os sem-abrigo aguentam porque é que nós não aguentamos?"
 
1 - Para usar as palavras do próprio, "parece-me uma coisa abolutamente evidente" que o senhor Ulrich tem uma forte tendência para associar a emissão de sons produzidos com a boca ao disparate total".
 
2 - Quem é o senhor Ulrich para definir o que um português, um grego ou um sem-abrigo aguenta? É por acaso grego ou sem-abrigo? Segundo sei, é português e não me parece que passe, ou tenha alguma vez passado, dificuldades ou vivido num banco de jardim. E quando o seu banco as passa tem o Estado português a salvar-lhe a pele (1,5 mil milhões de euros de ajuda no Verão passado) e a passar-lhe pó de talco no rabiosque para que este não fique com a pele "austera". Ou seja, aguentam os portugueses mais austeridade para lhe ouvir a seguir os disparates. E, suprema ironia, no mesmo dia em que apresenta lucros milionários, fala como se a crise não tivesse a génese nas tropelias financeiras de meia dúzia de banqueiros. E como se a austeridade, para ele, não fosse parte da cura.
 
3- "(...) infelizmente encontramos pessoas que são sem-abrigo, isso não lhe pode acontecer a si ou a mim porquê?". Ou a pergunta é retórica ou só pode ser brincadeira. Aos jornalistas a quem se dirigiu é bem capaz de acontecer, que todos sabemos o que está a passar-se nas redacções dos jornais em termos de despedimentos, agora argumentar que pode acontecer-lhe? Surreal. Aos trabalhadores do seu banco, talvez -"BPI fecha 12 balcões e acaba 2012 com menos 258 trabalhadores" - Jornal i.
 
Resumindo: se os gregos sobreviveram os portugueses vão sobreviver, se os sem-abrigo aguentam nós também aguentamos e se o senhor Ulrich se mantivesse calado era um verdadeiro poeta.

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