(Expresso Online)
Calado, o senhor Ulrich é um poeta
"Se você andar aí na rua, infelizmente encontramos pessoas que
são sem-abrigo, isso não lhe pode acontecer a si ou a mim porquê? (...) E se
aquelas pessoas que nós vemos ali na rua, naquela situação, a sofrer tanto
aguentam, porque é que nós não aguentamos? Parece-me uma coisa absolutamente
evidente" - rematou o banqueiro.
Segundo Ulrich, "se os sem-abrigo
aguentam porque é que nós não aguentamos?"
1 - Para usar as palavras do próprio, "parece-me uma coisa
abolutamente evidente" que o senhor Ulrich tem uma forte tendência para associar
a emissão de sons produzidos com a boca ao disparate total".
2 - Quem é o senhor Ulrich para definir o que um português, um
grego ou um sem-abrigo aguenta? É por acaso grego ou sem-abrigo? Segundo
sei, é português e não me parece que passe, ou tenha alguma vez passado,
dificuldades ou vivido num banco de jardim. E quando o seu banco as passa tem o
Estado português a salvar-lhe a pele (1,5 mil milhões de euros de ajuda no Verão
passado) e a passar-lhe pó de talco no rabiosque para que este não fique com a
pele "austera". Ou seja, aguentam os portugueses mais austeridade para lhe ouvir
a seguir os disparates. E, suprema ironia, no mesmo dia em que apresenta lucros
milionários, fala como se a crise não tivesse a génese nas tropelias financeiras
de meia dúzia de banqueiros. E como se a austeridade, para ele, não fosse parte
da cura.
3- "(...) infelizmente encontramos pessoas que são
sem-abrigo, isso não lhe pode acontecer a si ou a mim porquê?". Ou a
pergunta é retórica ou só pode ser brincadeira. Aos jornalistas a quem se
dirigiu é bem capaz de acontecer, que todos sabemos o que está a passar-se nas
redacções dos jornais em termos de despedimentos, agora argumentar que pode
acontecer-lhe? Surreal. Aos trabalhadores do seu banco, talvez -"BPI
fecha 12 balcões e acaba 2012 com menos 258 trabalhadores" - Jornal i.
Resumindo: se os gregos sobreviveram os portugueses vão
sobreviver, se os sem-abrigo aguentam nós também aguentamos e se o
senhor Ulrich se mantivesse calado era um verdadeiro
poeta.