sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Gestores não eleitos, gestores de eleição





Uns nasceram nas juventudes partidárias e aprenderam a erguer na hora certa o punho (esquerdo, bem entendido) ou os dois dedos espetados, em "V" de vitória. Outros deixaram--se cortejar em "estados gerais" laranja, rosa ou de ambas as cores, na condição de independentes (a de quem está de coração com o partido, com a vantagem de não pagar quotas), disponibilizando--se para empregos bem pagos, mal chegasse a oportunidade.


Neste campo, felizmente para eles, a oportunidade é como a morte: chega sempre. Mais tarde ou mais cedo, vaga um lugar na administração de uma empresa pública, reservado a quadros ligados a um dos partidos com vocação de poder - PS ou PSD, para o caso é indiferente.

À espera do gestor, quantas vezes sem passado profissional, mas com o currículo preenchido de bons serviços prestados ao partido, está um salário com muitos zeros à direita, telemóvel bem abastecido, gasolina mais ou menos à discrição e outras inconfessáveis sinecuras. Não são "tachos", são gigantescas panelas, que não entram em efervescência, porque nestes meios a discrição é a mãe do sucesso - se quem delas se alimenta passar despercebido, tanto melhor.


Ninguém elege os gestores públicos, mas eles são mesmo de eleição. Num ou noutro caso, quando sobra dinheiro ao fim do ano ainda têm direito a prémios. Os prejuízos é que nunca dão penalizações. Ofereça o ministro, que ganha muito menos, o corpo às balas.


O sector empresarial do Estado é assim há muito tempo - e pelo andar da carruagem continuará a ser. À sua medida, promove políticas activas de emprego. Pelo menos dos "boys"...


É, portanto, muito injusta a crítica do secretário-geral do PSD aos seus "vencimentos pornográficos". Só pode ser inveja de Miguel Relvas, dirigente do mesmo partido que - de mão dada com o PS, porque os amigos são para as ocasiões -, chumbou os maléficos propósitos do CDS, PCP e Bloco sobre a matéria. Imagine-se que queriam limitar o salário dos gestores públicos ao do presidente da República! É demagogia a mais, constatou Relvas, ao anunciar que o PSD vai apresentar um projecto de resolução. Eis uma habilidosa forma de remover o tema do espaço público...

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