De vez em quando, erguem-se vozes trazendo à baila a questão do número de deputados. Não estamos a falar de vozes dos anónimos cidadãos que têm tendência para sempre «dizer mal» dos políticos; estamos, sim, a falar de vozes autorizadas, de gente do «métier».
Agora, é o dr. Jorge Lacão a insistir numa ideia de que nunca fez segredo: a de que os deputados deviam ser no máximo 180. É um socialista, é ministro - e é até o ministro dos Assuntos Parlamentares. Uma voz que, portanto, mereceria mais do que a forma seca e agastada como o dr. Francisco Assis lhe respondeu que, pela sua parte, o PS punha uma pedra sobre o assunto. Já se sabe que o PSD é da mesma opinião. E sucede até que os pequenos partidos também enfileiram nesse grupo, pois seriam os mais prejudicados. O PS ou o PSD podem dar-se ao luxo de perder uma dezena de deputados, mas os restantes quatro partidos com assento parlamentar sofreriam mais com a perda de um ou dois. A culpa é desse malfadado método de Hondt, que bem precisa de reforma...
Claro que o povo, que não tem sobre o assunto os conhecimentos que têm o dr. Lacão ou o dr. Assis, comentará com os seus botões: «Pois, pois, 'eles' iam mesmo sujeitar-se a mandar para o subsídio de desemprego nada menos do que 50 ilustres representantes da vontade popular!...».
Será uma «boutade» - mas o assunto é demasiado sério para nos ficarmos por aí. Conveniente seria que, em vez de o considerar uma questiúncula interna no PS, os responsáveis pelo partido do Governo viessem a público explicar a este povo que está a pagar a crise, explicar aos funcionários que vêem o seu número reduzir-se (por cada três que saiam só entram dois), por que não pode o Parlamento dispensar parte dos seus membros, muitos dos quais a gente não tem a mínima ideia do que lá andam a fazer...
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