segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011
Sócrates põe. Merkel dispõe
Em linguagem oficial, Sócrates "aceitou um convite da chanceler alemã Angela Merkel para uma reunião em Berlim no dia 2 de Março". Em linguagem comum, usada por alguns jornais para intitular a notícia, "Merkel chamou Sócrates a Berlim".
Entre uma e outra situa-se a controversa questão do livre arbítrio: será que o Homem (no caso, o nosso homem em S. Bento) tem de alguma autonomia face ao que a divindade (ou, como diz a dra. Ferreira Leite, "quem paga") dispõe? Em termos ainda mais simples, poderia Sócrates (ou outro nas mesmas circunstâncias) ter recusado o "convite"?
domingo, 27 de fevereiro de 2011
sábado, 26 de fevereiro de 2011
Ironia do destino
Eis que, quando pensávamos que pior do que estávamos não era possível, apareceram os magrebinos e os árabes a fazer uma afronta a Portugal. Na luta pela liberdade e pela democracia, mesmo que pelo meio andem lá os fundamentalistas religiosos, esqueceram-se da crise portuguesa e da nossa impossibilidade de pagar barris de petróleo acima dos 100 dólares.
Na lógica ocidental da economia, ninguém tinha percebido que a Tunísia, o Egipto e a Líbia eram ditaduras, como ainda ninguém percebeu que são ditaduras os regimes do Irão e da Arábia Saudita que podem rebentar com a economia mundial se os povos que habitam estes países decidirem que também querem viver em democracia.
sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011
Gestores não eleitos, gestores de eleição
Uns nasceram nas juventudes partidárias e aprenderam a erguer na hora certa o punho (esquerdo, bem entendido) ou os dois dedos espetados, em "V" de vitória. Outros deixaram--se cortejar em "estados gerais" laranja, rosa ou de ambas as cores, na condição de independentes (a de quem está de coração com o partido, com a vantagem de não pagar quotas), disponibilizando--se para empregos bem pagos, mal chegasse a oportunidade.
Neste campo, felizmente para eles, a oportunidade é como a morte: chega sempre. Mais tarde ou mais cedo, vaga um lugar na administração de uma empresa pública, reservado a quadros ligados a um dos partidos com vocação de poder - PS ou PSD, para o caso é indiferente.
Tão amigos que nós vamos continuar a ser
Na vacuidade dos discursos diplomáticos encontram-se muitas subtilezas. A mais sui generis reside talvez na destreza com que os diplomatas transformam o mau no aceitável e o duvidoso no bom. A chamada "real politik" económica é, nesse particular, paradigmática de como os chamados valores essenciais são facilmente atirados para as calendas, a bem das relações bilaterais, dos negócios frutuosos, das recepções nas embaixadas coroadas a vinho francês e salgadinhos coloridos.
A revolta no Médio Oriente a que vamos assistindo por estes dias, e a forma como a União Europeia e os Estados Unidos demoraram a acordar para a realidade, ilustra na perfeição o engajamento dos estados face a poderes não-democráticos, em muitos casos corruptos, na maioria desrespeitosos dos Direitos Humanos.
Em Portugal, e, de uma forma geral, no Mundo ocidental, a classe política vai protagonizando sessões públicas de contorcionismo. Quase todos têm telhados de vidro. Sócrates (que, em 2007, durante uma visita de Kadafi a Portugal, lhe enalteceu as suas "visões estratégicas" e a sua "sabedoria"), Berlusconi, Merkel, passando pelos vários líderes norte-americanos.
Todos padecem do mesmo mal e fatalidade: são coniventes com as práticas de regimes que - queremos crer - não toleram apenas porque a inevitável diplomacia económica o determina. Para os chefes de Estado e de Governo do Mundo democrático, as lideranças autocráticas vão oscilando entre o repúdio e o fascínio. Com vantagem clara para o último. Já para não falar dos bancos suíços, tão afoitos a zelar pelas fortunas de sangue desses tiranetes e tão diligentes a congelar-lhes as contas quando estoura a borrasca.
Ora, não é crível que algo mude com esta sublevação popular. A estratégia calculista dos estados manter-se-á, na exacta proporção da sua dependência do petróleo. Sobre isto, Basílio Horta, o homem que lidera o investimento português no estrangeiro, foi cristalino: a aposta no Médio Oriente é para durar, independentemente de quem sejam os insanos que governem o território.
A corrida, agora, é entre os estados que não querem chegar atrasados ao futuro desses países que tombam. Com ditadores ou sem eles, o petróleo continuará a brotar do subsolo. E, uns bons metros acima, vai ser preciso reconstruir as estradas e os edifícios.
quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011
Tão amigos que nós éramos
(JN)
Alguns dos melhores amigos da política externa sem princípios, só com "fins", vigente nas Necessidades, de Ben Ali e Mubarak a Kadhafi, têm estado em apuros. Mas que não contem com Luís Amado, designadamente o "amigo" Kadhafi.
Como aconteceu com a amizade da Internacional Socialista a Ali e a Mubarak, que só "descobriu" que eram ambos ditadores corruptos, expulsando-os por indecente e má figura, quando foram apeados, Luís Amado e o Governo português continuam à espera de perceber no que dá a sangrenta repressão em curso na Líbia para tomar partido.
terça-feira, 22 de fevereiro de 2011
José Sócrates é que é mal educado
Henrique Raposo (www.expresso.pt)
8:36 Segunda feira, 21 de Fevereiro de 2011
I. É a piada do ano. Ver Sócrates a apelidar alguém de "mal educado" é o mesmo que ver Ricardo "mãozinhas" Rodrigues a dar palestras sobre segurança e propriedade. Para responder a Soares dos Santos, José Sócrates vestiu uma pele postiça e, qual Paula Bobone da política, disse com requinte telenoveleiro: "para se ser bem educado não basta ser rico" . Depois de rebolarmos a rir, devemos olhar para isto com atenção.
II. Deixemos de lado o populismo à Louçã contra o "rico", e olhemos apenas para a parte da educação. Porque, meus amigos, o nosso primeiro-ministro não tem sido a Paula Bobone da política; tem sido, isso sim, o taxista do nosso discurso público. Com ele, o nível baixou. Baixou no parlamento e baixou na praça pública devido ao desrespeito que Sócrates revela pelos jornalistas. [...]
III. Depois, temos a constante falta de nível no parlamento. José Sócrates é, no mínimo, chico esperto ou, no máximo, mal educado na forma como fala com os deputados. Está sempre a mandar aqueles boquinhas infantis que tornam o parlamento num liceu. É impossível acompanhar um debate sem ficar enervado com a falta de chá do primeiro-ministro. Impossível. E - o que é pior ainda - Sócrates não responde às perguntas dos deputados. Não responde. Outro show de altíssimo nível.
Sr. Mata e Sr. Esfola
Como fizeram para reduzir os salários e as prestações sociais, PS e PSD juntaram--se de novo no Parlamento, desta vez para impedir limites (nem sequer para os reduzir, só para lhes pôr freio) aos vencimentos dos gestores públicos.
Gestores públicos é um eufemismo usado para designar "boys" e "girls", em geral sem mais qualificações para gerirem o que quer que seja do que a sua disponibilidade para serem geridos. E se há assunto em que PS e PSD estão de acordo, além de que os pobres é que devem pagar as crises provocadas pelos ricos, é o da protecção dos "seus".
segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011
Portugal, assim como todos os outros...
(Carlos Abreu Amorim - JN)
No final da reunião do G20, o presidente do BCE, Jean-Claude Trichet, apelou aos governos europeus para aplicarem os seus planos de austeridade "rigorosa e convincentemente". Mas, de imediato, sublinhou que a sua mensagem era "muito forte para Portugal, assim como para os outros". Ficamos esclarecidos quanto à real identidade dos destinatários da advertência - tanto assim, que a defesa das cores lusas foi tomada a peito pela vice-presidente do Governo espanhol, Elena Salgado, que garantiu ao Mundo que Portugal aprovou medidas "muito austeras" para 2011, o que deveria ser suficiente para ressuscitar a confiança internacional. Embora, de passagem, a governante socialista "ibérica" tenha aproveitado para reafirmar que a Espanha foi "muito mais rápida" do que Portugal a definir e a aprovar um plano de reacção contra a crise - "seguramente" disse Salgado!
Este pequeno episódio do fim-de-semana elucida bastante a triste realidade em que estamos:
(i) Nos fóruns internacionais, quando se cuida da crise europeia, automaticamente pensa-se no problema chamado Portugal;
(ii) Os governantes indígenas já nem sequer desfrutam de uma réstia de prestígio e de credibilidade que os habilite a fazerem a sua própria defesa - ao invés, são forçados a engendrar uma desconsolada prática concertada com os "nuestros hermanos";
(iii) Estes, como a história ensina, estarão sempre dispostos a amparar-nos quando tal se revelar propício aos seus próprios interesses (para já, Portugal é a primeira linha de defesa económica e financeira da Espanha), não se coibindo, contudo, de evidenciar uma insuportável preeminência que julgam naturalmente sua.
domingo, 20 de fevereiro de 2011
Águas de bacalhau
A Bélgica está há mais de 250 dias sem governo. Ultrapassou o Iraque num recorde mundial que ninguém quer deter. Os belgas não se entendem porque uns falam francês, outros flamengo e uns poucos alemão. É um país pequeno com grandes divisões. Um país onde os socialistas francófonos preferem os liberais francófonos aos socialistas flamengos.
Os belgas estão em gestão corrente há oito meses e o FMI está mais longe da Bélgica do que de Portugal. Por cá, só o presidente da República é que está em gestão corrente, à espera do dia 9 de Março para recuperar o controlo do botão vermelho, o tal que dá acesso a lançar a bomba atómica (dissolução da Assembleia da República e convocação de novas eleições).
Os partidos estão muito activos, lançam moções de censura condenadas ao fracasso, ameaçam voltar à carga, preparam programas de governo, vão ter congressos e já pensam na campanha eleitoral.
Desde o primeiro PEC que o governo rosa está ligado à máquina laranja. A larga maioria dos políticos e dos comentadores políticos sabe que se o PSD desligar a máquina este governo morre. Está tudo à espera do dia.
"Nem o pai morre, nem a gente almoça" ou "Está tudo em águas de bacalhau" são expressões que os belgas não podem utilizar porque são expressões muito lusitanas, mas lá como cá dava muito jeito que os políticos trabalhassem em nome do povo que os elegeu.
Decidam-se. Se querem derrubar o Governo e pedir ao povo que escolha outra vez, não façam contas ao resultado do partido. O país precisa ou não precisa de uma clarificação?
sábado, 19 de fevereiro de 2011
Armando Vara com pressa
Armando Vara deixou indignados os utentes de um centro de saúde em Lisboa quando, na quinta-feira, passou à frente de todos os doentes e deu ordens a uma médica para lhe passar um atestado, alegando estar com pressa para apanhar um avião.
Um dos doentes que se encontrava no centro de saúde, José Francisco Tavares, de 68 anos, apresentou uma reclamação pelo sucedido. A responsável pelo centro de saúde pediu desculpas pelo episódio, mas acusa Armando Vara de ter abusado dos seus direitos, noticia a TVI.
José Francisco Tavares, reformado, dirigiu-se ao centro de saúde com um ataque de sinusite, esperou cerca de uma hora pela consulta, tal como os restantes utentes, até ver o ex-ministro socialista desrespeitar o ordem de chegada.
A TVI adianta ainda que a médica de serviço ficou surpreendida ao receber Aramando Vara sem o ter chamado, ao que o ex-ministro respondeu que estava com pressa para apanhar um avião e queria que a médica lhe passasse um atestado médico na hora. O que acabou por acontecer.
Em declarações à TVI, a directora do centro de saúde, Manuela Peleteiro, descreveu o sucedido: "O senhor Armando Vara entrou aí como qualquer utente e passou à frente de toda a gente. Entrou no gabinete da médica sem avisar e sem que a médica percebesse que não estava na sua vez. Foi uma situação de abuso absolutamente inconfundível".
A TVI tentou contactar Aramando Vara através do advogado, mas sem êxito.
(JN online)
sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011
O desemprego cor-de-rosa
Coloco-me no lugar de um ministro (hipótese altamente académica) e interrogo-me:
se me questionassem sobre o número de pessoas que, todos os dias, engrossa a fileira dos desempregados, qual seria a minha resposta?
Franziria o sobrolho e, num acto condescendente, limitar-me-ia a expressar solidariedade para com eles, garantindo a minha enorme preocupação?
Atiraria as responsabilidades para a conjuntura económica, sublinhando que tudo o que podia ser feito pelo poder político o foi?
Ou seria optimista ao ponto de escolher os números que me eram mais favoráveis e, dessa forma, fazer notar ao Mundo que o Governo não se verga ante os caprichos da realidade?
A ministra do Trabalho, Helena André, e o secretário de Estado do Emprego, Valter Lemos, conseguiram fazer tudo isto num só dia. Diz a primeira que o número de desempregados "não tem nada a ver com o insucesso dos programas de políticas activas" (deve ter-se olvidado dos cortes salomónicos nos apoios sociais) e que a realidade até demonstra que os inscritos nos centros de emprego têm vindo a cair todos os meses.
Diz o segundo que a redução no número de inscritos em Janeiro "poderá ser o indício de uma inversão de tendências". E que "é melhor começar o ano de 2011 com uma boa notícia" do que o contrário.
Acontece que as boas notícias são estas:
de acordo com o Instituto Nacional de Estatística (INE), que é quem reporta a taxa de desemprego a Bruxelas - e não o Instituto de Emprego e Formação Profissional, de que se serve, tão habilmente, Valter Lemos -, todos os dias vão para o olho da rua 225 pessoas; 2010 foi o pior ano de sempre; há mais de 75 mil portugueses com curso superior sem emprego; e, se quisermos ir mesmo ao fundo do problema, concluímos que a taxa real de desemprego atinge, na verdade, os 13,4%, num total de 747 mil pessoas.
Ora, perante isto, qualquer responsável político devia sentir pudor em dizer o que quer que fosse. Porque tudo o que possa dizer resume-se ou a paternalismo saloio ou a tacticismo covarde. Estar calado é a melhor maneira de falar.
Ter declarado o fim da crise foi anedótico, conseguir encontrar boas notícias na falência pessoal de mais de 700 mil pessoas é apenas irresponsável. Aqui não há lugar a visões cor-de-rosa da realidade. Porque ela é negra. Digam os disparates que disserem.
quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011
Gráfico para meditar
Carlos Fiolhais
Foi anunciado pelo Instituto Nacional de Estatística que, no último trimestre de 2010, a taxa de desemprego em Portugal atingiu um novo máximo de 11,1%. A evolução nos últimos anos pode ver-se no gráfico do economista Luís Aguiar Conraria, preparado a partir dos números oficiais, e que ainda nãop inclui os últimos dados. É um gráfico para meditar.
Depois de ter meditado, o Secretário de Estado do Emprego e da Formação Profissional afirmou (transcrição no "Público" de hoje):
“Durante 2010 o crescimento do desemprego desacelerou bastante em relação a 2009. Nesse sentido, falei em estabilização e mantenho essa perspectiva, estamos numa estabilização com valores muito elevados que temos de conseguir baixar”.
Depois de ter meditado?
quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011
terça-feira, 15 de fevereiro de 2011
Correcção para todos os gostos
No Irão foram proibidos os "símbolos como corações, meios-corações, rosas vermelhas e qualquer outro relacionado com este dia (Dia dos Namorados)". Antes, entre outras infindáveis coisas incompatíveis com o política e teologicamente correcto islâmico, tinham já sido proibidos o "rock n' roll", o "rap", a música "ocidental" em geral, de Mozart a Madonna, o verniz para as unhas brilhante de mais, as "pizzas" e os hambúrgueres.
180?nem pensar! 230 é que é bom...
De vez em quando, erguem-se vozes trazendo à baila a questão do número de deputados. Não estamos a falar de vozes dos anónimos cidadãos que têm tendência para sempre «dizer mal» dos políticos; estamos, sim, a falar de vozes autorizadas, de gente do «métier».
Agora, é o dr. Jorge Lacão a insistir numa ideia de que nunca fez segredo: a de que os deputados deviam ser no máximo 180. É um socialista, é ministro - e é até o ministro dos Assuntos Parlamentares. Uma voz que, portanto, mereceria mais do que a forma seca e agastada como o dr. Francisco Assis lhe respondeu que, pela sua parte, o PS punha uma pedra sobre o assunto. Já se sabe que o PSD é da mesma opinião. E sucede até que os pequenos partidos também enfileiram nesse grupo, pois seriam os mais prejudicados. O PS ou o PSD podem dar-se ao luxo de perder uma dezena de deputados, mas os restantes quatro partidos com assento parlamentar sofreriam mais com a perda de um ou dois. A culpa é desse malfadado método de Hondt, que bem precisa de reforma...
Claro que o povo, que não tem sobre o assunto os conhecimentos que têm o dr. Lacão ou o dr. Assis, comentará com os seus botões: «Pois, pois, 'eles' iam mesmo sujeitar-se a mandar para o subsídio de desemprego nada menos do que 50 ilustres representantes da vontade popular!...».
Será uma «boutade» - mas o assunto é demasiado sério para nos ficarmos por aí. Conveniente seria que, em vez de o considerar uma questiúncula interna no PS, os responsáveis pelo partido do Governo viessem a público explicar a este povo que está a pagar a crise, explicar aos funcionários que vêem o seu número reduzir-se (por cada três que saiam só entram dois), por que não pode o Parlamento dispensar parte dos seus membros, muitos dos quais a gente não tem a mínima ideia do que lá andam a fazer...
domingo, 13 de fevereiro de 2011
quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011
"Ressentidos" & "zangados"
A reacção da actual direcção do PS ao pensamento crítico que, surpreendentemente, ainda sobrevive no partido, tem-se limitado a repetir o velhíssimo e primário método de, em vez de discutir as críticas, desautorizar os críticos.
Assim, Manuel Maria Carrilho comete o grande e horrível crime de pensar porque - diz Almeida Santos, actual presidente do PS (ou, talvez melhor, presidente do actual PS) - "está zangado""por ter sido apeado do lugar que tinha [embaixador de Portugal na UNESCO]".
Por sua vez, a ex-secretária de Estado da Educação Ana Benavente, que acusa Sócrates de coisas como "autocracia", "incompetência" e "falta de credibilidade", estará - garante Capoulas Santos, director da campanha do secretário-geral para o próximo congresso - ressentida porque "aspirou a ser deputada (...), um objectivo que aparentemente não foi atendido".
Começa, por isso, a ser preocupante a ausência de explicação para a recente entrevista do ex-dirigente e ex-deputado Henrique Neto ao "i". Alguém que diz que Almeida Santos censura as reuniões da Comissão Nacional e que Sócrates tem uma "visão totalitária", tendo cometido "tantos erros, e de tal maneira graves, que põem em causa a independência nacional", tem que estar, de certeza, "ressentido" ou "zangado" com qualquer coisa. Veremos nos próximos dias se Capoulas Santos e Almeida Santos desvendam o mistério. Ou então se Henrique Neto terá que ser internado.
quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011
E agora, José?
Os EUA querem dados pessoais, impressões digitais e perfis de ADN dos cidadãos europeus que tenham tido algum problema (grande, médio, pequeno ou nem por isso) com a Justiça. Só que não dão garantias sobre o que farão com esses dados, em especial sobre a sua protecção ou a possibilidade de virem a ser utilizados para condenações à morte, algo que violaria constituições como a portuguesa e o próprio Tratado de Lisboa. Por isso as negociações com a Comissão Europeia (CE) arrastam-se.
Para forçar a CE com factos consumados, os EUA têm tentado acordos bilaterais com governos europeus mais subservientes e despreocupados com os direitos dos seus cidadãos.
Foi aí que entraram o Governo português e o sempre "you are welcome" ministro Luís Amado. E o Governo português, "yes, Sir!", agiu "rapidamente e em força" e assinou de cruz o cheque em branco dos dados pessoais de milhares de cidadãos portugueses. Com a excitação, esqueceu-se até de ouvir - como a lei manda - a Comissão Nacional de Protecção de Dados (CNPD).
Conta agora o DN que, ouvida ano e meio depois, a CNPD considera esse cheque (que terá que ser ratificado na AR) "abusivo, excessivo, demasiado genérico, [de] difícil controlo de pesquisas indevidas, sem garantia da protecção dos dados [...] e [falho] de salvaguarda da pena de morte".
Se eu fosse o Governo, mandava já aos EUA os dados pessoais, impressões digitais e ADN dos membros da CNPD.
terça-feira, 8 de fevereiro de 2011
Cuidado com a City ou Wall Street!
Quando for grande, não quero ser presidente dos EUA; contento-me em ser presidente da TAP.
Não quero ser chanceler da Alemanha; chega-me a presidência da CGD.
Não quero o Eliseu; basta-me o BPN.
E porquê?
Porque rende muito mais ser gestor no Sector Empresarial do Estado português do que estar no topo político das mais poderosas nações.
Não é nada que não se soubesse, mas convém, vez por outra, agitar essas águas turvas.
Como fez o dr. Paulo Portas, no Parlamento, onde lembrou que «há empresas públicas a mais, remunerações de gestores públicos a mais», e etc..
O dr. Portas terá sido desde logo acusado de demagogia, mas afinal a demagogia é como o sal na comida: uma pitadinha q.b. aumenta o sabor...
E convém que não se deixe esquecer que este país, onde 20% da população está à porta da pobreza, onde o ordenado mínimo não chega aos 500 euros, onde cada vez há menos empregos, mantém um pequeno clã de privilegiados que auferem vencimentos astronómicos - para não dizer outra palavra...
A isso responde sempre o Governo que há que pagar regiamente aos gestores públicos, se não eles podem fugir-nos.
Ora, em 2009, existiam 93 empresas do SEE, equipadas com 448 gestores aparentemente imprescindíveis.
Mas haverá em Portugal tantas e tão ricas empresas privadas a querer disputar tanta gente habituada a ganhar tanto?
Ou será que Wall Street ou a City estão de olho nos nossos supercérebros?
Entende o dr. Paulo Portas que nenhum gestor público devia ganhar mais do que o PR.
Demagogia, claro, contrapõe o Governo, que uma vez mais não mexerá aí uma palheira.
Assim, resta-me terminar como comecei: quando for grande, não quero ser presidente da República;
aceitarei, modestamente, a presidência do Banco de Portugal.
segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011
O Plano Tecnológico
Bem pode o boneco de feira andar pelo país a espatifar o dinheiro dos nossos impostos, oferecendo portáteis a crianças de seis anos de idade, em véspera de eleições. Bem pode repetir pela centésima vez as habituais mentiras sobre o Plano Tecnológico. Portugal continua entre os cinco últimos da OCDE no acesso à Internet. Atrás de nós só a República Checa, a Grécia e o México.
Tal como tudo o resto a que ele meteu mãos, o plano tecnológico é também um rotundo fracasso.
Gráfico - Percentagem de famílias com acesso à internet
Fonte: OCDE (2010)
Tal como tudo o resto a que ele meteu mãos, o plano tecnológico é também um rotundo fracasso.
(Texto de Ramiro Marques)
domingo, 6 de fevereiro de 2011
Parar é aceitar... e morrer mais depressa
Começou a revolta que ainda não faz barulho
por Kátia Catulo , Publicado em 05 de Fevereiro de 2011
Professores estão ansiosos por gritar nas ruas contra os cortes na escola pública e nem querem esperar pela convocação dos sindicatos
O apelo circula nos emails, nos corredores das escolas, nos encontros marcados ao fim-de-semana, nos plenários organizados ao final da tarde ou à mesa dos restaurantes. Os professores conspiram quando e onde é possível, sem esperar pelos sindicatos para preparar os protestos contra a vaga de despedimentos e os cortes anunciados para o próximo ano lectivo. Querem ir para a rua depressa e a falta da logística das organizações sindicais não os impede de acreditar que vão conseguir mobilizar milhares de colegas nas praças ou nas avenidas de Lisboa. O comboio já está em movimento e a cada dia ganha mais velocidade.
Nas escolas de Setúbal ou de Oeiras são os professores que saem das aulas com vontade de se reunirem em vez de irem para casa ruminar sobre as desgraças que julgam virem aí. "A facilidade com que os professores se juntaram espontaneamente há poucos dias na Escola Básica Luísa Todi foi surpreendente", conta Jaime Pinho, do Movimento Escola Pública (MEP). Foi o princípio de uma corrente que em poucas horas contagiou a escola onde dá aulas mesmo ali ao lado - a Secundária D. João II - e estará prestes a entrar noutros agrupamentos de Setúbal ou de Palmela.
"Na minha escola, por exemplo, há uma grande vontade por parte dos professores de começarem a fazer qualquer coisa para travar o Ministério da Educação", explica Jaime Pinho. Os contactos já começaram - professor a professor, escola a escola, até entrarem em todas e conseguirem organizar um plenário com os docentes de todo o concelho de Setúbal. E depois logo se vê: "O que fazer com este movimento que está agora a germinar é ainda uma incógnita. Sentimos que o mínimo que podemos fazer é gritar alto numa praça da capital."
Em crescendo Em Oeiras a onda de protestos também já está formigar dentro das escolas. Começou sem fazer muito barulho, mas é para ir crescendo até ganhar a escala de uma manifestação nacional. Na próxima semana distribuem-se panfletos aos pais e encarregados de educação para mostrar o ponto de vista dos professores sobre as consequências dos cortes orçamentais previstos para a educação. Na semana seguinte há pelo menos duas escolas do concelho em que os professores vão parar e fazer um minuto de silêncio. Ainda antes de Fevereiro terminar, o murmúrio vai sair dos portões e ficar frente às escolas. Algumas dezenas de professores irão empunhar cartazes e faixas em "defesa da escola pública".
Todo esse reboliço tem um grupo de professores por trás - o movimento 3R - Renovar, Refundar e Rejuvenescer. São pouco mais de 40 professores da Grande Lisboa, mas esperam vir a contaminar outras escolas. E é por isso que esta tarde vão ocupar um restaurante de Carcavelos. A convocatória para os professores participarem neste encontro chegou por emails disseminados com a eficácia de um vírus informático. "O objectivo desta iniciativa é apenas partilhar as ideias que vamos tendo para lutar contra aquilo que consideramos ser a destruição da escola pública", diz André Pestana, professor contratado em Oeiras e um dos coordenadores do 3R. Partilhando as ideias com os colegas vão encorajando outras escolas a fazerem o mesmo.
À mesa do restaurante, André Pestana vai tentar chegar mais longe. Quer sondar até onde os colegas estão dispostos a ir: "Estamos ainda a ponderar lançar algumas ideias para concretizar iniciativas que se traduzam num protesto forte." Só que antes disso é preciso alargar a influência do movimento e chegar a mais professores e a outros movimentos. O 3R quer aproveitar esta terça-feira - dia em que a ministra Isabel Alçada será ouvida na comissão de Educação da Assembleia da República - para estender o seu campo de acção. Haverá movimentações na rua, protestos de professores e até de encarregados de educação das escolas privadas com contratos de associação. O ambiente perfeito para contactar outros movimentos e fazer crescer essa vontade de mobilizar os colegas para uma missão ainda maior.
Unir forças Quem for dos sindicatos e quiser juntar-se será bem-vindo - esclarece André Pestana -, mas o movimento 3R assegura que não vai ficar à espera que sejam as estruturas sindicais a dar o passo seguinte: "Os sindicalistas estão muito centrados em ganhar a guerra nos tribunais e ainda alimentam a esperança de vir a negociar com o ministério, mas nós acreditamos na mobilização de base para vencer este ataque contra a escola pública."
Só que há-de chegar o momento em que sindicatos e movimentos independentes de professores têm de se entender, avisa Jaime Pinho, do MEP. "No início houve muita desconfiança mútua, mas hoje é essencial reconhecer que a única via para chegarmos a algum lado é trabalhar em conjunto." Resta ver quem dá o primeiro passo. "Alguém terá de estender a mão", diz o coordenador do Movimento Escola Pública. E esse "alguém" são os sindicatos, que, por terem "maiores responsabilidades", deviam ter a "grandeza" de reconhecer a "força que os movimentos podem fazer para travar o governo". O comboio já partiu. Falta saber quem fará a viagem.
Debate em: http://www.saladosprofessores.com/index.php?option=com_smf&Itemid=62&topic=19787
por Kátia Catulo , Publicado em 05 de Fevereiro de 2011
(foto retirada de "A Educação do Meu Umbigo"
Professores estão ansiosos por gritar nas ruas contra os cortes na escola pública e nem querem esperar pela convocação dos sindicatos
O apelo circula nos emails, nos corredores das escolas, nos encontros marcados ao fim-de-semana, nos plenários organizados ao final da tarde ou à mesa dos restaurantes. Os professores conspiram quando e onde é possível, sem esperar pelos sindicatos para preparar os protestos contra a vaga de despedimentos e os cortes anunciados para o próximo ano lectivo. Querem ir para a rua depressa e a falta da logística das organizações sindicais não os impede de acreditar que vão conseguir mobilizar milhares de colegas nas praças ou nas avenidas de Lisboa. O comboio já está em movimento e a cada dia ganha mais velocidade.
Nas escolas de Setúbal ou de Oeiras são os professores que saem das aulas com vontade de se reunirem em vez de irem para casa ruminar sobre as desgraças que julgam virem aí. "A facilidade com que os professores se juntaram espontaneamente há poucos dias na Escola Básica Luísa Todi foi surpreendente", conta Jaime Pinho, do Movimento Escola Pública (MEP). Foi o princípio de uma corrente que em poucas horas contagiou a escola onde dá aulas mesmo ali ao lado - a Secundária D. João II - e estará prestes a entrar noutros agrupamentos de Setúbal ou de Palmela.
"Na minha escola, por exemplo, há uma grande vontade por parte dos professores de começarem a fazer qualquer coisa para travar o Ministério da Educação", explica Jaime Pinho. Os contactos já começaram - professor a professor, escola a escola, até entrarem em todas e conseguirem organizar um plenário com os docentes de todo o concelho de Setúbal. E depois logo se vê: "O que fazer com este movimento que está agora a germinar é ainda uma incógnita. Sentimos que o mínimo que podemos fazer é gritar alto numa praça da capital."
Em crescendo Em Oeiras a onda de protestos também já está formigar dentro das escolas. Começou sem fazer muito barulho, mas é para ir crescendo até ganhar a escala de uma manifestação nacional. Na próxima semana distribuem-se panfletos aos pais e encarregados de educação para mostrar o ponto de vista dos professores sobre as consequências dos cortes orçamentais previstos para a educação. Na semana seguinte há pelo menos duas escolas do concelho em que os professores vão parar e fazer um minuto de silêncio. Ainda antes de Fevereiro terminar, o murmúrio vai sair dos portões e ficar frente às escolas. Algumas dezenas de professores irão empunhar cartazes e faixas em "defesa da escola pública".
Todo esse reboliço tem um grupo de professores por trás - o movimento 3R - Renovar, Refundar e Rejuvenescer. São pouco mais de 40 professores da Grande Lisboa, mas esperam vir a contaminar outras escolas. E é por isso que esta tarde vão ocupar um restaurante de Carcavelos. A convocatória para os professores participarem neste encontro chegou por emails disseminados com a eficácia de um vírus informático. "O objectivo desta iniciativa é apenas partilhar as ideias que vamos tendo para lutar contra aquilo que consideramos ser a destruição da escola pública", diz André Pestana, professor contratado em Oeiras e um dos coordenadores do 3R. Partilhando as ideias com os colegas vão encorajando outras escolas a fazerem o mesmo.
À mesa do restaurante, André Pestana vai tentar chegar mais longe. Quer sondar até onde os colegas estão dispostos a ir: "Estamos ainda a ponderar lançar algumas ideias para concretizar iniciativas que se traduzam num protesto forte." Só que antes disso é preciso alargar a influência do movimento e chegar a mais professores e a outros movimentos. O 3R quer aproveitar esta terça-feira - dia em que a ministra Isabel Alçada será ouvida na comissão de Educação da Assembleia da República - para estender o seu campo de acção. Haverá movimentações na rua, protestos de professores e até de encarregados de educação das escolas privadas com contratos de associação. O ambiente perfeito para contactar outros movimentos e fazer crescer essa vontade de mobilizar os colegas para uma missão ainda maior.
Unir forças Quem for dos sindicatos e quiser juntar-se será bem-vindo - esclarece André Pestana -, mas o movimento 3R assegura que não vai ficar à espera que sejam as estruturas sindicais a dar o passo seguinte: "Os sindicalistas estão muito centrados em ganhar a guerra nos tribunais e ainda alimentam a esperança de vir a negociar com o ministério, mas nós acreditamos na mobilização de base para vencer este ataque contra a escola pública."
Só que há-de chegar o momento em que sindicatos e movimentos independentes de professores têm de se entender, avisa Jaime Pinho, do MEP. "No início houve muita desconfiança mútua, mas hoje é essencial reconhecer que a única via para chegarmos a algum lado é trabalhar em conjunto." Resta ver quem dá o primeiro passo. "Alguém terá de estender a mão", diz o coordenador do Movimento Escola Pública. E esse "alguém" são os sindicatos, que, por terem "maiores responsabilidades", deviam ter a "grandeza" de reconhecer a "força que os movimentos podem fazer para travar o governo". O comboio já partiu. Falta saber quem fará a viagem.
Debate em: http://www.saladosprofessores.com/index.php?option=com_smf&Itemid=62&topic=19787
sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011
Uma "modesta proposta"
Espero, pelos melhores e mais sensatos motivos, que algum partido aproveite a minha "modest proposal" para a revisão constitucional em curso: que, em vez de votarmos nas nossas "legislativas", passemos a votar nas alemãs, pois é hoje claro que, se quem manda em Portugal são os governos saídos das "legislativas" portuguesas, quem manda nesses governos é a Sra. Merkel ou quem quer que governe a Alemanha.
O que se tem passado desde que a crise financeira assentou arraiais por cá - apesar da política exorcista de Sócrates e do truque infantil de fechar os olhos para que a crise não nos visse - mostra que, de modo a manter a legitimidade democrática das repetidas decisões do Governo tomadas contra os seus compromissos eleitorais, deveríamos votar não para a AR mas para o Bundestag e para o chanceler alemão.
Anuncia-se que hoje, no Conselho Europeu, a Sra. Merkel irá exigir a Sócrates que inscreva na Constituição um limite ao défice ou à dívida pública, disso fazendo depender a flexibilização do FEE que permita a ajuda europeia a Portugal sem recurso ao FMI. E, como era de esperar, logo apareceu na AR gente do PS e do PSD a imaginar "maneiras possíveis" de meter essa exigência a martelo nas propostas de revisão já apresentadas.
Segundo o DN, Sócrates recusa. Resta saber durante quanto tempo. A sua "firme recusa" à anterior exigência da Sra. Merkel de despedimentos fáceis e baratos durou um mês.
quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011
Prendas para que vos quero
Tenho andado a matutar nas afirmações do ex-presidente Jorge Sampaio à saída do Tribunal Central de Instrução Criminal de Lisboa onde foi defender o seu amigo José Penedos, arguido de crimes de corrupção e participação económica em negócio no chamado processo "Face Oculta".
Conta quem lá esteve que Sampaio garantiu ao tribunal que o amigo está acima de qualquer suspeita; o que é uma maneira de dizer, pois Sampaio foi justamente defendê-lo de muitas e graves suspeitas... Mas até aqui tudo bem, é o seu papel como testemunha de defesa e ele cumpriu-o zelosamente, prescindindo até da faculdade de testemunhar por escrito porque "os papéis são silenciosos" (e não falam aos jornalistas à saída dos tribunais).
Mas Sampaio foi mais longe, fez questão de revelar que, na Presidência, recebeu prendas "que não cabiam em três salas". Mais: que "nunca compr[ou] uma caneta ou um relógio" (mostrou até a caneta que trazia, que lhe terá sido oferecida não sabe por quem). E que, apesar disso, "nunca se senti[u] minorado na [sua] honestidade".
Quererá Sampaio dizer que receber prendas é sempre coisa inteiramente inocente? Que ninguém recebe prendas para cobrar favores? Que, pelo facto de ele próprio ter recebido prendas, três salas delas, sem dar nada em troca toda a gente (no caso todos os seus amigos) fazem o mesmo? E, já agora, acha Sampaio que quem o ouve à porta de um tribunal ou lá dentro é estúpido?
terça-feira, 1 de fevereiro de 2011
Nem bom vento...
(JN de hoje)
1. Sopram ventos estranhos no Norte de África. Primeiro, foram os tunisinos a correr com o corrupto Ben Ali, dando o corpo às balas. Agora são os egípcios, dispostos a morrer para varrerem o ditador Mubarak. Ventos estranhos para nós, europeus habituados a cooperar com déspotas. Um mal menor, quando nos dizem que a alternativa é o islamismo radical e as suas estratégias de confrontação e violência. Suspirámos de alívio, há uns anos, quando a elite argelina liquidou, a ferro e fogo, os fundamentalistas que tinham vencido as eleições de forma democrática. Marrocos, Argélia, Tunísia, Líbia e Egipto ficam no nosso quintal. Para as democracias europeias, obesas e hipocondríacas, é sempre preferível fazer negócio. Ainda que o parceiro seja um patife. Até José Sócrates, político de pouco peso a nível europeu, se passeia, volta e meia, pelas areias dos desertos norte-africanos, distribuindo sorrisos e assinando contratos. Os tunisinos e os egípcios que agora enfrentam tropas, tanques e até caças, não sabem o que é o realismo político. Lembraram-se de repente de reclamar pão e liberdade e deixam os nossos governos atarantados. Primeiro, porque nunca se sabe se o déspota local se aguenta no poder, ou seja, se vai ser preciso continuar a tratá-lo como parceiro de negócios. Depois, porque estamos sempre à espera de ver surgir entre a multidão um tipo qualquer de turbante, exibindo o Corão, de bomba à cintura e apelando ao martírio. E entre um déspota e um alucinado, pouca importância tem o pão e a liberdade que aquela gente pede.
2. Já de Espanha, como de costume, nem bom vento, nem bom casamento. A semana começou com mais uma prova de que José Sócrates já não se dá ao trabalho de pensar em medidas de combate à crise, limita-se a copiar tudo o que Zapatero anuncia. E quanto pior, melhor. Já tinha sido assim com o corte de salários nos funcionários públicos. Desta vez foi com a decisão de tornar mais baratos os despedimentos. Argumenta-se que os patrões terão, assim, mais vontade de criar emprego. Uma receita infalível... ou talvez não. Em Espanha os despedimentos mais baratos não impediram novo recorde na taxa de desemprego: já são 4,7 milhões de desempregados. Aconselha-se, mesmo assim, a oposição a comprar, no quiosque, os jornais espanhóis, se quiser saber o que aí vem. Aposto singelo contra dobrado que, mais mês menos mês, vamos ser confrontados com uma proposta para atrasar a idade da reforma dos 65 para os 67 anos. Ou talvez até um pouco mais, para mostrarmos aos investidores estrangeiros como, apesar de pobres, somos espectacularmente competitivos. Suspeito é que, de direito adquirido em direito adquirido desmantelado, um destes dias serão os europeus que gritarão nas ruas por liberdade e pão.
A política anda mesmo na mó de baixo
(JN de hoje)
Uma sondagem concluiu que 90 e tal por cento dos portugueses não confiam no(s) governo(s), acham que os políticos se servem em vez de servirem e estão desiludidos com a política, que, devendo ser "res publica", é cada vez mais... "res" privada. Um politólogo ouvido pelo JN não podia descrever a situação de forma mais cruel: "os partidos são máquinas com agenda própria que vivem para os seus dirigentes e quadros e só secundariamente são agentes ao serviço do país". Cenário mais negro do estado a que chegou a política em Portugal dificilmente poderia ser pintado...
Essa desilusão quase generalizada tem reflexo, por exemplo, nos actos eleitorais. Anda muita gente a tentar explicar os 53,37% de abstenção com o comodismo, o frio, a ausência de suspense - e passa alegremente por cima de sinais alarmantes como este: os votos brancos quase atingiram 200 mil. No primeiro caso pode falar-se de "antipolíticos" passivos, mas os votos brancos provêm de "antipolíticos" activos. Ou seja, cidadãos que querem passar a mensagem de que não se revêem em nenhum dos candidatos nem nos seus programas.
Mas há mais - há José Manuel Coelho. Quando se pensaria que ia desistir à boca das urnas, depois de cumprir a tarefa de "dizer mal" do dr. Jardim, sucede que vai em frente e arrecada quase 190 mil votos. Mesmo descontando 46 mil de madeirenses antijardinistas, como explicar que só no continente tivesse recolhido mais de 140 mil votos? Esperariam esses eleitores que Coelho chegasse a Belém? Decerto que não! A exemplo de quem votou em branco, quem votou Coelho o mais que esperaria é que os nossos políticos acordassem de vez para a evidência de que a política anda, por cá, pelas ruas da amargura, é mal amada e nada respeitada.
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