(Alberto Gonçalves - DN)
O eng. Sócrates acha que a nossa situação económica é uma "obsessão" dos jornalistas que teimam em questioná-lo a propósito. Dos jornalistas e de um punhado adicional de pacóvios que julgam relevante o facto de o País estar de rastos e que, na sua ignorância, julgam também que o primeiro-ministro desse país talvez devesse ter uma opinião sobre o assunto.
Obviamente, não tem. Ainda por cima, no momento do desabafo o eng. Sócrates encontrava-se no seu ambiente natural, ou seja, na Líbia, durante uma Cimeira UE/África a que faltaram todos os líderes europeus que, vá lá saber-se porquê, não apreciam ver-se associados a figuras do gabarito do sr. Kadhafi.
Por sorte ou vocação, o eng. Sócrates não sofre de escrúpulos desses, e deu gosto ver a alegria com que saltitou por Tripoli, a anunciar exportações do computador chamado Magalhães e bugigangas afins e, claro, a discorrer acerca das energias renováveis. As energias renováveis comovem imenso o eng. Sócrates: à primeira menção de uma ventoinha gigante ou de dois painéis solares, o homem fica com pele de galinha e dispõe-se logo a organizar conferências internacionais para tratar tão premente matéria. Foi o caso.
Agora a sério, o eng. Sócrates lembra uma noiva outrora abandonada no altar. Os anos passaram e, incapaz de digerir o desapontamento, a senhora continua de véu e grinalda, embora, excepto pelos escombros de uma vida, em seu redor não reste mais nada, nem cerimónia, nem convidados, nem altar. Ainda assim, é preciso imaginar a noiva feliz, a oferecer fatias de bolo velho e a exibir a aliança, perdão, o Magalhães e as ventoinhas a transeuntes pasmados. Por piedade, os transeuntes dão-lhe os parabéns. Chamar a noiva, perdão, o eng. Sócrates, à realidade não é perigoso, mas apenas inútil. Uma inútil obsessão.
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