terça-feira, 14 de dezembro de 2010
Ramiro Marques no seu blogue (www.profblog.org) mostra uma cadeira que acabara de comprar e diz (a ênfase é minha, como de costume, embora não concorde com tudo o que ele diz, mas ficará para outra ocasião):
O ano em que eu cheguei à conclusão de que não me resta alternativa senão leccionar até aos 70 anos de idade. O preço que eu tenho de pagar para sustentar os maiores beneficiários do Estado Social (ista): os jovens reformados com pensões milionárias.
Sim, estou a referir-me, por exemplo, aos políticos, quer os que se sentam no Parlamento quer aos edis, quase todos jovens reformados disto e daquilo, por esta e por aquela razão. Refiro-me também às professoras do 1º CEB e educadoras de infância que, até há pouco, gozaram de um regime de excepção que lhes permitiu aposentarem-se com 32 anos de serviço, 52 anos de idade e valor da pensão por inteiro (cerca de dois mil e oitocentos euros ilíquidos). E também aos jovens aposentados ou pré-aposentados de empresas públicas como a EDP, a REN e a CP ou com participações do Estado como a PT, que gozam as delícias da aposentadoria aos 50 anos de idade e ganharam o direito adquirido à pensão por inteiro. E, suprema delícia dos direitos adquiridos, ficaram isentos dos cortes salariais a que eu e outros "construtores de pirâmides" nos vimos forçados a aceitar a bem da construção do TGV, do novo aeroporto, da Parque Escolar SA e do pagamento das SCUT. A cereja em cima do bolo é o pagamento pelos aposentados de uma taxa de IRS mais baixa do que os colegas no activo.
Tudo isto em nome da defesa do Estado Social (ista) e dos direitos adquiridos. Faz lembrar o célebre livro de Paul Lafargue, o genro de Karl Marx, titulado Direito à Preguiça.
Esta cadeira, onde penso descansar as costas nos intervalos das aulas e fazer umas sestas nos "furos" do meu horário, vai permitir, assim Deus queira, que eu leve até aos 70 anos, quiçá um pouco mais, a arte de dar aulas até morrer, em proveito da defesa dos direitos adquiridos dos encostados e beneficiários de um Estado Social (ista) que condenou a minha geração à condição de construtores de pirâmides. Tudo a bem dos faraós.
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