quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Pai Natal a crédito




Ao que consta, o Pai Natal anda a fazer poupanças por esse Mundo fora. Mas em Portugal terá de continuar a gastar sem limites. Tem de satisfazer as vontades dos meninos portugueses, que a publicidade infantil massiva transformou em verdadeiros autómatos consumidores. E, mesmo quando o dinheiro acaba ao Pai Natal, há sempre empresas de crédito ao consumo dispostas a sugarem-lhe os recursos, através de empréstimos agiotas.

As crianças portuguesas e as suas famílias estão completamente indefesas, à mercê desse vírus social que é a publicidade infantil. O seu principal veículo é a televisão e a sua eficácia resulta das cerca de 20 horas que os miúdos passam por semana em frente ao pequeno ecrã. São quase três horas por dia, mais do que convivem com os pais ou os irmãos. Como as crianças não filtram a comunicação publicitária, assumem todas as mensagens como verdadeiras e convertem-se em consumidores compulsivos. E este efeito é tanto mais forte quanto mais desfavorecido é o meio socioeconómico. Adivinho a angústia de cada um dos pais que se vêem coagidos a comprar o brinquedo da moda, cujo preço represente mais de um terço do seu salário. Cede.

Se o dinheiro acabou, recorre em desespero ao crédito fácil. Fácil de obter... mas difícil, muito difícil, de pagar. As empresas de crédito ao consumo, que prometem o paraíso, lançam as pessoas num inferno. Anunciam taxas de juro já de si elevadas, da ordem dos nove por cento. Mas, na prática, fazem acrescer às taxas comissões, seguros, impostos e outros assaltos. Obrigam assim os clientes ao pagamento duma taxa anual efectiva de encargos, a famosa TAEG, da ordem dos 30 por cento. Em famílias de escassos recursos, estes empréstimos aniquilam a economia doméstica, destroem o equilíbrio familiar.

Nós, pais natais de Portugal, exigimos ao Pai Natal que para o ano proíba a publicidade dirigida a crianças com menos de 14 anos, à semelhança do que acontece nos outros países europeus. E ainda que extinga, por justo decreto, todas as dívidas cujas taxas sejam obscenamente elevadas.

Para que a alegria das crianças não se transforme, a prazo, na tristeza dos pais.

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