O Manifesto pela Democratização do Regime é uma boa
notícia. Significa que ainda há na sociedade, da direita à esquerda,
cidadãos que conseguem entender-se à volta de uma ideia e de um objetivo
precisos: a ideia é que a saída desta crise tem de ser política; o objetivo é
que essa saída seja estritamente democrática.
quarta-feira, 20 de março de 2013
terça-feira, 19 de março de 2013
Os Bombos da Festa do Costume
(Paulo Guinote, no seu blogue)
Veio a troika. Veio nova avaliação.
O Governo falhou previsões, falhou metas, falhou tudo,
excepto empobrecer o país.
Aplicou fórmulas e modelos errados, com o apoio e
encorajamento da dita troika.
Falhou. Assim como a própria troika, entidade
quase mítica formada por gente certificada como competente e inteligente de
três organismos internacionais, falhou de forma calamitosa.
Ordenaram cortes, congelamentos, despedimentos
disfarçados de outras designações.
- Reduziram apoios sociais,
- diminuíram compensações,
- aumentaram
- empobreceram a maioria do país,
enquanto mantinham
incólumes os grandes interesses e negócios.
O défice continuou mais ou menos onde estava.
Há que encontrar a solução.
Qual é?
Mais cortes, mais congelamentos, mais despedimentos,
agora com o nome de rescisões.
A fórmula que falhou, repetida.
Vamos mudar isto? Vamos salvar isto?
(Expresso online de ontem)
Não vou estender-me com a explicação destes conceitos. Mas já
todos percebemos que, passada a fase das provações extremas que estamos a
sofrer, por efeitos da brutal recessão e quebra de rendimentos que sentimos,
jamais voltaremos à situação anterior.
Também já todos entendemos que,
por muito que os economistas acertassem - e não acertam! - jamais poderemos
vislumbrar uma mera solução técnica para os inúmeros problemas que temos pela
frente, pelo que a solução tem de ser eminentemente política, embora levando
em conta os condicionamentos económicos.
Acresce que essa saída política tem de ser democrática e
conter em si escapes e válvulas. Ou seja, pode ser mais à direita ou mais à
esquerda, desde que cumpra dois requisitos fundamentais:
- não seja imposta aos cidadãos, pelo contrário estes se revejam nas escolhas;
- e permitir consensos amplos.
Ora o manifesto, subscrito por gente tão diferente que vai de Rui
Tavares (deputado europeu independente, eleito nas listas do BE) a Fernando
Condesso (ex-presidente do Grupo Parlamentar do PSD), passando por militares
como Vasco Lourenço, economistas como Ventura Leite e Almeida Serra, empresários
como Henrique Neto e ex-ministros, como Manuel Carrilho ou Veiga Simão e muitos
outros, artistas, professores universitários, investigadores, etc. cumpre estes
propósitos.
O que querem eles?
segunda-feira, 18 de março de 2013
domingo, 17 de março de 2013
A cama de Procrustes
José Augusto Lopes Ribeiro
E. S. Sá de Miranda – Braga
Segundo a mitologia, Procrustes era um bandido que
vivia na estrada que ligava Mégara a Atenas e que moldava as pessoas à dimensão
dos seus dois leitos. Assim,
obrigava os transeuntes que fossem grandes a
deitarem-se na cama pequena (cortando-lhes os pés)
e aos pequenos deitava-os na
cama grande (esticando-os até ao tamanho da cama).
Analogamente, o nosso sistema educativo procura
ajustar alunos e professores a um padrão, promovendo uma uniformização que
funciona de modo centralizado e burocrático. Deste modo, pretende-se impor aos
docentes uma complexidade de tarefas e de exigências dignas de um herói
(professor, psicólogo, assistente social, pai e mãe, etc), enquanto os alunos
são inseridos numa escolaridade obrigatória, independentemente das condições
socioeconómicas, culturais, físicas, psicológicas e afetivas, sem outros
mecanismos de acompanhamento ou monitorização, sendo obrigados a realizar um
percurso na escola, que muitos rejeitam à partida.
Neste contexto, a rigidez do processo despoleta uma
enorme fricção entre os diversos intervenientes gerando disfunções na
organização da Escola, no trabalho em sala de aula e no relacionamento entre
professores, alunos e encarregados de educação. Daqui decorre uma violência
silenciosa que provoca danos colaterais como a indisciplina e a desvalorização
do trabalho docente.
A escola encontra-se, pois, paralisada e impotente
para responder a questões como esta: se a escolaridade é obrigatória, então
o que fazer com um aluno que não quer estudar, perturba as aulas e impede a
aprendizagem dos colegas?
Os docentes são hiper-responsabilizados e convidados a
encontrar soluções individuais para problemas sistémicos. A escola vai perdendo
capacidade para enfrentar os novos desafios e a atividade docente está
condenada a percorrer caminhos onde Procrustes massacra as suas vítimas
sábado, 16 de março de 2013
sexta-feira, 15 de março de 2013
Os limites da decência
por FILOMENA MARTINS (DN de sábado)
Perder, de
repente, 60% a 90% dos rendimentos é uma enormidade, seja para quem for: sobre
isso, que não restem dúvidas.
Que estamos perante um abuso fiscal, também é
inegável: e a dimensão desse abuso tem de ser vista de todas as perspetivas,
sobretudo a dos abusados, e não apenas sob o chapéu populista dos "ricos
que paguem a crise".
Que todas as vítimas do choque de impostos deste Governo devem protestar, também é um direito mais do que legítimo.
Mas tenhamos todos a noção do ridículo: colocar Filipe Pinhal, ex-administrador do BCP, envolvido em vários processos judiciais, cuja pensão mensal será de mais de 46 mil euros, a liderar um movimento de reformados indignados contra a contribuição extraordinária de solidariedade, é um absurdo.
A iniciativa parecia até ter sido um golpe de génio de Vítor Gaspar:
Por mais que Pinhal e os 70 associados do movimento argumentem que lhe estão a fazer cortes em pensões privadas, precisam descer à terra.
As suas reformas, decididas num círculo de amigos restrito do qual todos saíram a ganhar, são pagas pelos bancos que o Estado está agora a financiar com o dinheiro de todos nós.
E há outros milhões de reformados, que cumpriram escrupulosamente os seus descontos, o seu contrato social, a quem foram feitos cortes em pensões abaixo do limiar de sobrevivência.
Os limites da decência foram ultrapassados.
Que todas as vítimas do choque de impostos deste Governo devem protestar, também é um direito mais do que legítimo.
Mas tenhamos todos a noção do ridículo: colocar Filipe Pinhal, ex-administrador do BCP, envolvido em vários processos judiciais, cuja pensão mensal será de mais de 46 mil euros, a liderar um movimento de reformados indignados contra a contribuição extraordinária de solidariedade, é um absurdo.
A iniciativa parecia até ter sido um golpe de génio de Vítor Gaspar:
- autodescredibilizou-se de imediato,
- tornou-se numa anedota nacional
- e conseguiu o objetivo contrário ao pretendido,
Por mais que Pinhal e os 70 associados do movimento argumentem que lhe estão a fazer cortes em pensões privadas, precisam descer à terra.
As suas reformas, decididas num círculo de amigos restrito do qual todos saíram a ganhar, são pagas pelos bancos que o Estado está agora a financiar com o dinheiro de todos nós.
E há outros milhões de reformados, que cumpriram escrupulosamente os seus descontos, o seu contrato social, a quem foram feitos cortes em pensões abaixo do limiar de sobrevivência.
Os limites da decência foram ultrapassados.
quinta-feira, 14 de março de 2013
quarta-feira, 13 de março de 2013
20 páginas inúteis
(Baptista-Bastos, hoje no DN)
Um alvoroço de artigos, crónicas, comentários, depoimentos acolheu o prefácio
que o dr. Cavaco apôs ao sétimo volume de Roteiros, singular colecção de
trivialidades pretendidamente políticas, e não, como o título sugere, itinerário
turístico.
Quase todos os preopinantes manifestaram perplexidade porque o autor nada dizia de novo. Estranha conclusão.
O homem é o que é: um medíocre brunido, formal e liso.
Com penosa disposição li o texto, porque o alarido a tal me impelia. Os habituais tropeços nas preposições, o confuso desalinho com as adversativas, e a ausência total de qualquer ideia. O costume da banalidade, elevado à nobre condição de "tema."
Quase todos os preopinantes manifestaram perplexidade porque o autor nada dizia de novo. Estranha conclusão.
O homem é o que é: um medíocre brunido, formal e liso.
Com penosa disposição li o texto, porque o alarido a tal me impelia. Os habituais tropeços nas preposições, o confuso desalinho com as adversativas, e a ausência total de qualquer ideia. O costume da banalidade, elevado à nobre condição de "tema."
terça-feira, 12 de março de 2013
domingo, 10 de março de 2013
sábado, 9 de março de 2013
O "conselheiro" Borges
(João
Marcelino – DN de hoje)
1. Tenho por
certo que António Borges, nesta fase da sua vida, está muito pouco interessado
em fazer concessões em relação a tudo aquilo em que acredita, e a tudo aquilo
que julga saber.
Isso tem sido evidente nos últimos meses.

Cada vez que António Borges dá uma entrevista, e
desdobra-se como nunca nessa cruzada, o que diz produz efeito.
Em junho defendeu que os salários dos portugueses deviam baixar. Obrigou o primeiro-ministro a vir esclarecer que
o Governo não tinha nenhum plano para descer nominalmente os salários.
Em agosto, numa incursão sobre a RTP,
lançou a ideia de concessionar a estação a privados que tinham,
dizia ele, melhores condições para gerir a empresa - e despedir quem houvesse a
despedir a seguir. Mesmo quando, já no início deste ano, Miguel Relvas anunciou
que a privatização estava cancelada e se iria seguir a restruturação da RTP
mantendo-a na órbita do Estado, o conselheiro Borges entendeu que não seria bem
assim. E disse-o.

Em setembro, na mais bruta das polémicas, tinha
decidido chamar
ignorantes aos empresários que rejeitaram as alterações à taxa social única,
que Pedro Passos Coelho, pressionado pelo País, foi obrigado a meter na gaveta.
2. Agora,
retomando o tema que lhe é tão caro da baixa de salários, António Borges acha
que até o
ordenado mínimo (485 no Continente e um pouco mais nos Açores e na
Madeira) deveria
diminuir, como aconteceu noutros países, como a Irlanda. Que o salário mínimo português seja um terço do irlandês
será, com certeza, um pormenor; e que os patrões portugueses, numa perspetiva mais inteligente de
reanimação do mercado interno, estejam até disponíveis para negociar esse
salário mínimo nacional, deve ser - é - absolutamente irrelevante para o
"conselheiro" Borges.
Pelo meio disto, a avença de 300 mil euros que recebe para o grupo de trabalho que lidera dar conselhos ao Governo
sobre as privatizações não o impediu de assumir funções num grupo privado, a
Jerónimo Martins.
3. É um mistério que o Governo
continue a precisar dos doutos conselhos do antigo vice-governador do Banco de
Portugal e alto funcionário da Goldman Sachs.
Por um lado, cada vez que o homem fala - e já se percebeu
que não se sente limitado neste campo da comunicação - o Governo abana. Leva com os
protestos e críticas de empresários, trabalhadores e partidos da oposição,
quando não mesmo com as de relevantes militantes dos próprios PSD e CDS.
A irresistível lógica teórica defendida por Borges de
que baixos salários são um passo para promover o emprego no futuro seria,
aliás, sempre um excelente argumento para Pedro Passos Coelho fazer aquilo que
há muito se impõe: despedi-lo com justa causa, retirar ao
"conselheiro" a possibilidade de continuar a massacrar os seus
compatriotas com a dureza de quem parece que já nada espera da vida.
Há momentos em que é preciso dizer basta aos dislates,
mesmo que travestidos de alguma lógica académica ultraliberal.
Não há nenhum motivo de natureza racional que, tantos
disparates depois, aconselhe a manter este homem na órbita do Governo - pago, e bem pago, com o dinheiro de todos os contribuintes.
Se há limites para a arrogância intelectual paga pelo Estado, António Borges
ultrapassou-os todos.
Se todos os portugueses
trabalhassem de borla haveria pleno emprego e todas as empresas do mundo
quereriam estabelecer-se no nosso país - será que António Borges já pensou
nisto? É uma bela ideia, não é?
+++***+++***+++
Resumindo, digo eu:
A Fábula Do Cheque-Ensino Em Vila Azul
A Fábula Do Cheque-Ensino Em Vila Azul
Paulo
Guinote, em 4 de Março
Em Vila Azul há meninos de famílias azuis claras e azuis
escuras. Há mais, mas simplifiquemos.
Os meninos das mais escassas famílias azuis claras
gostam de escolas azuis claras. São caras, mas dá para pagar os 4000 azures
por ano, mas vale pela segurança, pelos tops e pela diferenciação, pois
o direito de admissão é reservado.
Os meninos das mais numerosas famílias azuis escuras
vão a uma escola gratuita, com menos pedigree, menos tops, mas em
que todos podem entrar.
Nas famílias azuis claras, algumas pessoas muito inteligentes
apareceram a dizer que é injusto não poderem ir todos para as escolas melhores
e que deveria ser dado pelo Estado Liberal um cheque-brinde de 3000 azures,
para que todos os meninos, claros e escuros, pudessem ter liberdade para
escolher.
Os empreendedores das escolas azuis claras bateram
palmas e subiram o prémio de entrada para 5000 azures por ano, devido
à pressão da procura.
As famílias azuis claras não se importaram, pois com o
cheque-brinde do Estado Liberal, ainda poupavam dinheiro, precisando apenas de
juntar 2000 azures para continuarem diferenciadas.
As famílias azuis escuras viram-se um pouco sem saber
o que fazer, pois os 2000 azures necessários para terem liberdade para
escolher não estavam ao alcance de todas. Umas conseguiram e quiseram ir para
escola azul clara e lá passaram pelo crivo, resultante da tal pressão da
procura. Ficaram azuis assim-assim. Sentiram-se menos escuras, mas não o
suficiente para serem claras.
As escuras ficaram mais escuras e continuaram nas
escolas azuis escuras, cada vez mais abandonadas.
Nas escolas azuis claras, os empreendedores passaram a
dormir muito mais descansados, com o suave e doce tilintar da cascata de azures
do Estado Liberal. Em nome da Santa Liberdade.
Qualquer semelhança com um país real perto de si é
mera coincidência. Mas há quem deseje que seja apenas uma questão de tempo,
porque a porta já está entreaberta e oleada
sexta-feira, 8 de março de 2013
Ele e mais ninguém

(Fernanda Câncio - DN de hoje)
Presidente da República ainda se escreve com maiúsculas. Mas se o novo AO não
mudou isso, o atual detentor do cargo está empenhado em reduzi-lo a paródia e
opróbrio.
Após meses de silêncio tão inexplicável que a piada mais frequente do
Twitter era compará-lo ao moribundo Chávez, Cavaco emergiu à porta de uma
fábrica de moagem para, em autêntica conferência de imprensa, moer-nos o que nos
resta de paciência com os habituais e penosos autoelogios e autorreferenciações,
mais as pusilanimidades e mesquinhices costumeiras.
Que já disse tudo na mensagem de Ano Novo, que trabalha dez horas por dia (vá
lá, não se queixou outra vez de ganhar pouco), que "tem informação que mais
ninguém tem e experiência que mais ninguém tem", que o Governo finalmente fez o
que ele defende mas que não lhe dá ouvidos como devia, etc. E, finalmente, que
"as pessoas que se manifestam no respeito pelas leis da República devem ser
ouvidas".
quinta-feira, 7 de março de 2013
quarta-feira, 6 de março de 2013
Crónica sobre a moral

(Baptista-Bastos - DN de hoje)
O banqueiro Filipe Pinhal, e um vistoso grupo de "quadros" superiores,
resolveram associar-se num objectivo protestatário, e criar os Reformados
Indignados.
Pinhal recebe, mensalmente, o equivalente a 14 mil contos (moeda antiga) correspondente aos descontos de que diz ter sido esportulado durante uma vida de trabalho insano e muito fatigante. Parece que lhe querem "extorquir", continua ele, uma fatia grossa do rédito. Disse, também, que não foi à manifestação de 2 de Março "porque tinha outros compromissos". De contrário, certamente, veríamos o banqueiro, senão de punho vertical, pelo menos a cantar a Grândola, vila morena.
Creio que a reforma de Filipe Pinhal está nos ajustes: ele descontou, é justificado que lhe "restituam" o que despendeu. Tudo legal. Porém, a ferida está na imoralidade do caso, espelho restituído da sórdida imoralidade quase generalizada. Para auferir uma reforma daquele montante, o vencimento que recebia, além dos prémios, das "surdas", das mordomias várias, já de si era absolutamente imoral, tendo em conta os ordenados da maioria dos portugueses. Lembro que o comendador Joe Berardo, criticou, em assembleias do BCP, de que Pinhal era administrador, os "obscenos vencimentos do conselho de administração".
Dir-se-á: isso é lá com eles. Não é; também é connosco, porque o facto, extremamente deplorável, pertence à circunstância portuguesa, confrontada não só com a problemática social como à dúvida e à decepção permanentes de milhões de nós.
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