segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Elias, o sem-abrigo

Cartoon Elias o sem abrigo, de R. Reimão e Aníbal F (JN)




A frase do dia

NÃO É POR NOS TRANSFORMAREM EM BURROS QUE SOMOS OBRIGADOS A COMER PALHA.



Ruy Ventura

Sócrates põe. Merkel dispõe






Em linguagem oficial, Sócrates "aceitou um convite da chanceler alemã Angela Merkel para uma reunião em Berlim no dia 2 de Março". Em linguagem comum, usada por alguns jornais para intitular a notícia, "Merkel chamou Sócrates a Berlim".


Entre uma e outra situa-se a controversa questão do livre arbítrio: será que o Homem (no caso, o nosso homem em S. Bento) tem de alguma autonomia face ao que a divindade (ou, como diz a dra. Ferreira Leite, "quem paga") dispõe? Em termos ainda mais simples, poderia Sócrates (ou outro nas mesmas circunstâncias) ter recusado o "convite"?


domingo, 27 de fevereiro de 2011

Estou farto, fatigado e outras coisas começadas por f...






(imagens retiradas da Internet)

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Animal feroz...



(Foto do Sol)

Ironia do destino



Eis que, quando pensávamos que pior do que estávamos não era possível, apareceram os magrebinos e os árabes a fazer uma afronta a Portugal. Na luta pela liberdade e pela democracia, mesmo que pelo meio andem lá os fundamentalistas religiosos, esqueceram-se da crise portuguesa e da nossa impossibilidade de pagar barris de petróleo acima dos 100 dólares.

Na lógica ocidental da economia, ninguém tinha percebido que a Tunísia, o Egipto e a Líbia eram ditaduras, como ainda ninguém percebeu que são ditaduras os regimes do Irão e da Arábia Saudita que podem rebentar com a economia mundial se os povos que habitam estes países decidirem que também querem viver em democracia.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Gestores não eleitos, gestores de eleição





Uns nasceram nas juventudes partidárias e aprenderam a erguer na hora certa o punho (esquerdo, bem entendido) ou os dois dedos espetados, em "V" de vitória. Outros deixaram--se cortejar em "estados gerais" laranja, rosa ou de ambas as cores, na condição de independentes (a de quem está de coração com o partido, com a vantagem de não pagar quotas), disponibilizando--se para empregos bem pagos, mal chegasse a oportunidade.


Neste campo, felizmente para eles, a oportunidade é como a morte: chega sempre. Mais tarde ou mais cedo, vaga um lugar na administração de uma empresa pública, reservado a quadros ligados a um dos partidos com vocação de poder - PS ou PSD, para o caso é indiferente.

Tão amigos que nós vamos continuar a ser





Na vacuidade dos discursos diplomáticos encontram-se muitas subtilezas. A mais sui generis reside talvez na destreza com que os diplomatas transformam o mau no aceitável e o duvidoso no bom. A chamada "real politik" económica é, nesse particular, paradigmática de como os chamados valores essenciais são facilmente atirados para as calendas, a bem das relações bilaterais, dos negócios frutuosos, das recepções nas embaixadas coroadas a vinho francês e salgadinhos coloridos.


A revolta no Médio Oriente a que vamos assistindo por estes dias, e a forma como a União Europeia e os Estados Unidos demoraram a acordar para a realidade, ilustra na perfeição o engajamento dos estados face a poderes não-democráticos, em muitos casos corruptos, na maioria desrespeitosos dos Direitos Humanos.


Em Portugal, e, de uma forma geral, no Mundo ocidental, a classe política vai protagonizando sessões públicas de contorcionismo. Quase todos têm telhados de vidro. Sócrates (que, em 2007, durante uma visita de Kadafi a Portugal, lhe enalteceu as suas "visões estratégicas" e a sua "sabedoria"), Berlusconi, Merkel, passando pelos vários líderes norte-americanos.


Todos padecem do mesmo mal e fatalidade: são coniventes com as práticas de regimes que - queremos crer - não toleram apenas porque a inevitável diplomacia económica o determina. Para os chefes de Estado e de Governo do Mundo democrático, as lideranças autocráticas vão oscilando entre o repúdio e o fascínio. Com vantagem clara para o último. Já para não falar dos bancos suíços, tão afoitos a zelar pelas fortunas de sangue desses tiranetes e tão diligentes a congelar-lhes as contas quando estoura a borrasca.


Ora, não é crível que algo mude com esta sublevação popular. A estratégia calculista dos estados manter-se-á, na exacta proporção da sua dependência do petróleo. Sobre isto, Basílio Horta, o homem que lidera o investimento português no estrangeiro, foi cristalino: a aposta no Médio Oriente é para durar, independentemente de quem sejam os insanos que governem o território.


A corrida, agora, é entre os estados que não querem chegar atrasados ao futuro desses países que tombam. Com ditadores ou sem eles, o petróleo continuará a brotar do subsolo. E, uns bons metros acima, vai ser preciso reconstruir as estradas e os edifícios.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Tão amigos que nós éramos



(JN)


Alguns dos melhores amigos da política externa sem princípios, só com "fins", vigente nas Necessidades, de Ben Ali e Mubarak a Kadhafi, têm estado em apuros. Mas que não contem com Luís Amado, designadamente o "amigo" Kadhafi.


Como aconteceu com a amizade da Internacional Socialista a Ali e a Mubarak, que só "descobriu" que eram ambos ditadores corruptos, expulsando-os por indecente e má figura, quando foram apeados, Luís Amado e o Governo português continuam à espera de perceber no que dá a sangrenta repressão em curso na Líbia para tomar partido.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

José Sócrates é que é mal educado



Henrique Raposo (www.expresso.pt)

8:36 Segunda feira, 21 de Fevereiro de 2011



I. É a piada do ano. Ver Sócrates a apelidar alguém de "mal educado" é o mesmo que ver Ricardo "mãozinhas" Rodrigues a dar palestras sobre segurança e propriedade. Para responder a Soares dos Santos, José Sócrates vestiu uma pele postiça e, qual Paula Bobone da política, disse com requinte telenoveleiro: "para se ser bem educado não basta ser rico" . Depois de rebolarmos a rir, devemos olhar para isto com atenção.



II. Deixemos de lado o populismo à Louçã contra o "rico", e olhemos apenas para a parte da educação. Porque, meus amigos, o nosso primeiro-ministro não tem sido a Paula Bobone da política; tem sido, isso sim, o taxista do nosso discurso público. Com ele, o nível baixou. Baixou no parlamento e baixou na praça pública devido ao desrespeito que Sócrates revela pelos jornalistas. [...] 


III. Depois, temos a constante falta de nível no parlamento. José Sócrates é, no mínimo, chico esperto ou, no máximo, mal educado na forma como fala com os deputados. Está sempre a mandar aqueles boquinhas infantis que tornam o parlamento num liceu. É impossível acompanhar um debate sem ficar enervado com a falta de chá do primeiro-ministro. Impossível. E - o que é pior ainda - Sócrates não responde às perguntas dos deputados. Não responde. Outro show de altíssimo nível.


Sr. Mata e Sr. Esfola







Como fizeram para reduzir os salários e as prestações sociais, PS e PSD juntaram--se de novo no Parlamento, desta vez para impedir limites (nem sequer para os reduzir, só para lhes pôr freio) aos vencimentos dos gestores públicos.


Gestores públicos é um eufemismo usado para designar "boys" e "girls", em geral sem mais qualificações para gerirem o que quer que seja do que a sua disponibilidade para serem geridos. E se há assunto em que PS e PSD estão de acordo, além de que os pobres é que devem pagar as crises provocadas pelos ricos, é o da protecção dos "seus".


segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Portugal, assim como todos os outros...

(Carlos Abreu Amorim - JN)


No final da reunião do G20, o presidente do BCE, Jean-Claude Trichet, apelou aos governos europeus para aplicarem os seus planos de austeridade "rigorosa e convincentemente". Mas, de imediato, sublinhou que a sua mensagem era "muito forte para Portugal, assim como para os outros". Ficamos esclarecidos quanto à real identidade dos destinatários da advertência - tanto assim, que a defesa das cores lusas foi tomada a peito pela vice-presidente do Governo espanhol, Elena Salgado, que garantiu ao Mundo que Portugal aprovou medidas "muito austeras" para 2011, o que deveria ser suficiente para ressuscitar a confiança internacional. Embora, de passagem, a governante socialista "ibérica" tenha aproveitado para reafirmar que a Espanha foi "muito mais rápida" do que Portugal a definir e a aprovar um plano de reacção contra a crise - "seguramente" disse Salgado!

Este pequeno episódio do fim-de-semana elucida bastante a triste realidade em que estamos:

(i) Nos fóruns internacionais, quando se cuida da crise europeia, automaticamente pensa-se no problema chamado Portugal;

(ii) Os governantes indígenas já nem sequer desfrutam de uma réstia de prestígio e de credibilidade que os habilite a fazerem a sua própria defesa - ao invés, são forçados a engendrar uma desconsolada prática concertada com os "nuestros hermanos";

(iii) Estes, como a história ensina, estarão sempre dispostos a amparar-nos quando tal se revelar propício aos seus próprios interesses (para já, Portugal é a primeira linha de defesa económica e financeira da Espanha), não se coibindo, contudo, de evidenciar uma insuportável preeminência que julgam naturalmente sua.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Águas de bacalhau



A Bélgica está há mais de 250 dias sem governo. Ultrapassou o Iraque num recorde mundial que ninguém quer deter. Os belgas não se entendem porque uns falam francês, outros flamengo e uns poucos alemão. É um país pequeno com grandes divisões. Um país onde os socialistas francófonos preferem os liberais francófonos aos socialistas flamengos.


Os belgas estão em gestão corrente há oito meses e o FMI está mais longe da Bélgica do que de Portugal. Por cá, só o presidente da República é que está em gestão corrente, à espera do dia 9 de Março para recuperar o controlo do botão vermelho, o tal que dá acesso a lançar a bomba atómica (dissolução da Assembleia da República e convocação de novas eleições).


Os partidos estão muito activos, lançam moções de censura condenadas ao fracasso, ameaçam voltar à carga, preparam programas de governo, vão ter congressos e já pensam na campanha eleitoral.


Desde o primeiro PEC que o governo rosa está ligado à máquina laranja. A larga maioria dos políticos e dos comentadores políticos sabe que se o PSD desligar a máquina este governo morre. Está tudo à espera do dia.


"Nem o pai morre, nem a gente almoça" ou "Está tudo em águas de bacalhau" são expressões que os belgas não podem utilizar porque são expressões muito lusitanas, mas lá como cá dava muito jeito que os políticos trabalhassem em nome do povo que os elegeu.


Decidam-se. Se querem derrubar o Governo e pedir ao povo que escolha outra vez, não façam contas ao resultado do partido. O país precisa ou não precisa de uma clarificação?

Humor no JN

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Armando Vara com pressa


Armando Vara deixou indignados os utentes de um centro de saúde em Lisboa quando, na quinta-feira, passou à frente de todos os doentes e deu ordens a uma médica para lhe passar um atestado, alegando estar com pressa para apanhar um avião.

Um dos doentes que se encontrava no centro de saúde, José Francisco Tavares, de 68 anos, apresentou uma reclamação pelo sucedido. A responsável pelo centro de saúde pediu desculpas pelo episódio, mas acusa Armando Vara de ter abusado dos seus direitos, noticia a TVI.

José Francisco Tavares, reformado, dirigiu-se ao centro de saúde com um ataque de sinusite, esperou cerca de uma hora pela consulta, tal como os restantes utentes, até ver o ex-ministro socialista desrespeitar o ordem de chegada.

A TVI adianta ainda que a médica de serviço ficou surpreendida ao receber Aramando Vara sem o ter chamado, ao que o ex-ministro respondeu que estava com pressa para apanhar um avião e queria que a médica lhe passasse um atestado médico na hora. O que acabou por acontecer.

Em declarações à TVI, a directora do centro de saúde, Manuela Peleteiro, descreveu o sucedido: "O senhor Armando Vara entrou aí como qualquer utente e passou à frente de toda a gente. Entrou no gabinete da médica sem avisar e sem que a médica percebesse que não estava na sua vez. Foi uma situação de abuso absolutamente inconfundível".

A TVI tentou contactar Aramando Vara através do advogado, mas sem êxito.

(JN online)

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Pingo Doce nos Homens da Luta

O desemprego cor-de-rosa


Coloco-me no lugar de um ministro (hipótese altamente académica) e interrogo-me:
se me questionassem sobre o número de pessoas que, todos os dias, engrossa a fileira dos desempregados, qual seria a minha resposta?
Franziria o sobrolho e, num acto condescendente, limitar-me-ia a expressar solidariedade para com eles, garantindo a minha enorme preocupação?
Atiraria as responsabilidades para a conjuntura económica, sublinhando que tudo o que podia ser feito pelo poder político o foi?
Ou seria optimista ao ponto de escolher os números que me eram mais favoráveis e, dessa forma, fazer notar ao Mundo que o Governo não se verga ante os caprichos da realidade?


A ministra do Trabalho, Helena André, e o secretário de Estado do Emprego, Valter Lemos, conseguiram fazer tudo isto num só dia. Diz a primeira que o número de desempregados "não tem nada a ver com o insucesso dos programas de políticas activas" (deve ter-se olvidado dos cortes salomónicos nos apoios sociais) e que a realidade até demonstra que os inscritos nos centros de emprego têm vindo a cair todos os meses.


Diz o segundo que a redução no número de inscritos em Janeiro "poderá ser o indício de uma inversão de tendências". E que "é melhor começar o ano de 2011 com uma boa notícia" do que o contrário.


Acontece que as boas notícias são estas:
de acordo com o Instituto Nacional de Estatística (INE), que é quem reporta a taxa de desemprego a Bruxelas - e não o Instituto de Emprego e Formação Profissional, de que se serve, tão habilmente, Valter Lemos -, todos os dias vão para o olho da rua 225 pessoas; 2010 foi o pior ano de sempre; há mais de 75 mil portugueses com curso superior sem emprego; e, se quisermos ir mesmo ao fundo do problema, concluímos que a taxa real de desemprego atinge, na verdade, os 13,4%, num total de 747 mil pessoas.


Ora, perante isto, qualquer responsável político devia sentir pudor em dizer o que quer que fosse. Porque tudo o que possa dizer resume-se ou a paternalismo saloio ou a tacticismo covarde. Estar calado é a melhor maneira de falar.


Ter declarado o fim da crise foi anedótico, conseguir encontrar boas notícias na falência pessoal de mais de 700 mil pessoas é apenas irresponsável. Aqui não há lugar a visões cor-de-rosa da realidade. Porque ela é negra. Digam os disparates que disserem.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Gráfico para meditar


Carlos Fiolhais



Foi anunciado pelo Instituto Nacional de Estatística que, no último trimestre de 2010, a taxa de desemprego em Portugal atingiu um novo máximo de 11,1%. A evolução nos últimos anos pode ver-se no gráfico do economista Luís Aguiar Conraria, preparado a partir dos números oficiais, e que ainda nãop inclui os últimos dados. É um gráfico para meditar.



Depois de ter meditado, o Secretário de Estado do Emprego e da Formação Profissional afirmou (transcrição no "Público" de hoje):


Durante 2010 o crescimento do desemprego desacelerou bastante em relação a 2009. Nesse sentido, falei em estabilização e mantenho essa perspectiva, estamos numa estabilização com valores muito elevados que temos de conseguir baixar”.


Depois de ter meditado?

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Desemprego







(Imagens colhidas no De Rerum Natura)

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Correcção para todos os gostos




No Irão foram proibidos os "símbolos como corações, meios-corações, rosas vermelhas e qualquer outro relacionado com este dia (Dia dos Namorados)". Antes, entre outras infindáveis coisas incompatíveis com o política e teologicamente correcto islâmico, tinham já sido proibidos o "rock n' roll", o "rap", a música "ocidental" em geral, de Mozart a Madonna, o verniz para as unhas brilhante de mais, as "pizzas" e os hambúrgueres.

Mais perto, em Valência, conta Arturo Pérez-Reverte que o Conselho da Juventude e a autarquia divulgaram um "Guia de linguagem não heterossexista" que, entre outros casos, visa excluir da linguagem expressões "que pressuponham a existência de um pai e de uma mãe", de modo a que "a presunção de heterossexualidade" e a de que as pessoas têm que pertencer a um sexo determinado "vão desaparecendo da sociedade".

Por cá, com o atraso com que sempre nos chegam as grandes conquistas civilizacionais, só se proíbem ainda minudências como o tabaco ou o sal no pão. Para quando, ó drs. Francisco George e Malaca Casteleiro, um Movimento de Libertação da Gramática que erradique dela preconceitos heterossexistas como o dos géneros (por que raio o português não tem um neutro?) e acabe com a regra machista e antidemocrática que manda que, havendo numa série um elemento masculino, a concordância se faça no masculino mesmo que todos os restantes, centenas ou milhares, sejam femininos?