sábado, 20 de outubro de 2012

Prisioneiros

JOÃO MARCELINO

(por JOÃO MARCELINO - DN de hoje)



1 Passos e Gaspar obedecem à troika, aos objetivos e àquilo que entendem ser a sua obrigação. A prova está neste Orçamento do Estado. Acreditam que assim aplacam as fúrias dos mercados e merecerão a simpatia da Europa do Norte na altura certa, ou seja, naquele momento fatal de incapacidade para cumprir que inevitavelmente chegará. Sabemo-lo nós - e por maioria de razões o sabem eles que falharam o controlo das contas este ano.

A oposição faz coro em uníssono porque a verdade é que se demonstrou que esta terapia agrava a doença. Até o FMI já o admite. Com um ajustamento feito à pressa, violento, vem a recessão, o défice aumenta, com ele a dívida nem sequer estagna. E a economia, em consequência de tudo isto, afunda-se, fechando empresas, rebocando os números do desemprego.

Nas ruas desaguam perigosamente cada vez mais descontentes.
Quem elegeu o Governo, porque queria um Estado reformado, mais pequeno, sente-se enganado.
Quem votou noutros partidos, ou nem sequer votou, nunca esperou grande coisa mas estava longe de imaginar a fúria fiscal em curso.

Toda a gente sabe que a vida vai piorar.

O País perdeu independência.

Pela terceira vez desde o 25 de Abril necessitou de ajuda externa. E isso também as pessoas debitam aos dirigentes políticos, sem conseguirem descortinar diferenças entre estes e os outros.

Iremos ver em que ambiente decorrerá a discussão do OE no Parlamento e nos espaços adjacentes.


2 Ainda assim, Paulo Portas entende que tem espaço para fazer política. Ou seja, arranjar um álibi que torne compreensível aos eleitores o facto de ser absolutamente incapaz de cumprir a palavra dada, a propósito de aumento de impostos, naqueles tempos inflamados em que verberava Sócrates ou até num momento mais recente quando escrevia aos militantes do PP mensagens para Portas e Gaspar...




Pronto. Portas está envergonhado. Sente que se ainda fosse jornalista não perdoaria tremenda cobardia política.
Conforta-o, e julga ele que lhe vale, o argumento da imperiosa necessidade nacional de ter um Orçamento porque "o País não pode ter uma crise política".

De facto, não pode.

É por isso, só por isso, que assinou dois momentos de ficção em menos de um mês. E já agora: com que utilidade?

3 A pergunta de Manuela Ferreira Leite resume o pensamento de muita gente: "Que interessa não falir se vamos estar todos 'mortos'? Se Portugal conseguisse chegar aos 2,5% de défice no final de 2014 e, antes, aos 4,5% em 2013 - repito: coisa em que nem sequer "eles" acreditam -

que País existiria nessa altura?

Que fatura social teria de ser paga?

Quantos desempregados, quantas falências, quanta infelicidade?

Estas são as perguntas que deveriam ser feitas por políticos.

Infelizmente, neste momento parece que só temos técnicos, feitores satisfeitos em tirar fotos "à direita de", que não acreditam em protagonizar iniciativas, se acham insignificantes à escala europeia.

Provavelmente é a única coisa em que estarão mais ou menos certos.

António José Seguro ao menos mexe-se sem complexos. Esteve com Hollande, foi ontem a Berlim. Pode parecer pouco mas é alguma coisa. A Europa tem de saber que Portugal quer cumprir mas está a caminhar para o desastre social

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