sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Falta de castigo - Expresso















Ricos professores ricos


Os professores portugueses vão subir de ricos professores a professores ricos. O governo assim os quer na proposta de orçamento para 2013.

Não podendo ir para os escalões mais altos da sua carreira há muito congelada passarão a integrar os escalões mais altos de IRS É mais uma generosa forma de descompensação forçada. Docentes taxados como ricos têm de ser ricos à força. Pedagogicamente, o que é a melhor riqueza.

Por ora, segundo o relatório da rede Eurydice da Comissão Europeia, divulgado no Dia Mundial do Professor, já estão entre os mais afortunados da Europa ao lado dos espanhóis, gregos e irlandeses. Viram os bolsos dos seus rendimentos aliviados em média 20% entre 2010 e 2012. Coisa pouca.

Eurydice vê mais. Os professores levam 34 anos para chegar ao topo da carreira quando a média europeia fica entre 15 e 25 anos. Somos mais lentos a fazer escalada quando a escalada dos preços é vertiginosa em Portugal. A Eurydice é velhaca. Bem podia estar calada. Só sente na pele quem sabe.

O presidente da República, como referiu no discurso pronunciado no beco onde se comemorou o 5 de Outubro, elogiou os professores que têm um "papel fundamental" e que "tem de ser valorizado". Quer a Educação como a "grande causa republicana do novo milénio".


 
Eu disse beco. Enganei-me como sempre e tenho dúvidas se é beco, viela, ou lugar esconso. Sei que se chama Praça da Galé. Mas parece um claustro que evita a ruidosa claustrofobia que a Praça do Município provoca a intrépidos políticos. Ainda assim uma mulher histérica aos gritos e outra a cantar Lopes Graça conseguiram entrar, o que não tem graça nenhuma.

Bagão Félix considerou o Orçamento para 2013 "um terramoto fiscal" que vai dar cabo da economia. Só não avalia se tem grau 7, "destruidor", ou grau 8, "devastador". Eu acho que o grau é 20, "redentor".

O terramoto de 1755 teve amplitude similar ao fiscal e o maremoto subsequente não deixaram pedra sobre pedra, matando milhares de pessoas em todo o país. Mas permitiu ao Marquês de Pombal reformar o ensino, criar uma escola primária em cada freguesia e o cargo de Director Geral de Estudos para recrutamento de professores que ficaram com privilégios que antes apenas os nobres possuíam. Com a extinção da Direcção Geral de Estudos foi criada a Real Mesa Censória que passou a controlar escolas e professores.

Os que sobreviverem ao terramoto de 2013 só devem estar infinitamente gratos ao governo. Os que não puderam entrar no Pátio que sejam ser desterrados para as galés.

E os professores, que enjoam facilmente em terra e não sabem gritar nem cantar, em vez de terem um ministro panhona imponhem-lhes uma mesa censória real. Uns para continuarem no desemprego e os outros para não amimarem os ricos alunos nem lhes ensinarem coisas inconvenientes.

A "grande causa republicana" exige que a maioria dos portugueses sejam taxados como ricos e educados como pobres de espírito.


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