(JN)
Torsten Hinrichs, responsável da Standard &Poor's na Alemanha, tomou posição sobre a criação dos Eurobonds, comentando que, se as obrigações europeias forem criadas, o conjunto não pode valer mais do que a sua parte mais fraca, isto apesar de a Alemanha assumir uma garantia de 22% e a Grécia apenas ser responsável por apenas 2%. Ou seja, condenou os hipotéticos Eurobonds a uma nota de "CC", equivalente ao lixo grego, desvalorizando o facto de a dívida pública alemã ter o "rating" mais elevado e representar a maior parte do cabaz.
Fica por saber se Hinrichs está a tentar dar uma ajuda à senhora Merkel, ou a prestar um serviço aos seus patrões americanos. No primeiro caso, de pouco lhe vale, porque a Chanceler alemã perde terreno em consecutivas eleições e só alguma imprensa portuguesa entende que isso se deve à sua flexibilidade relativamente ao Euro, e ao seu apoio à Grécia. Quem estiver mais atento ao que se passa na Alemanha sabe que o SPD e os ecologistas, que vão conquistando as eleições regionais, defendem a criação dos Eurobonds e o aprofundamento do modelo federal.
Por exclusão de partes, Hinrichs estará pois a agir de acordo com os interesses dos seus patrões. Senão vejamos: os US Treasury Bonds, merecem dessa agência o "rating" máximo, de "AAA", idêntico ao alemão, apesar de o défice orçamental americano ser muito superior ao da Zona Euro.
Ninguém ignora, e só um agente infiltrado pode querer esconder, que os Estados Unidos são um estado federal e, por isso, as obrigações do Estado americano são, também elas, resultante de um cabaz do qual fazem parte estados falidos, como é o caso da Califórnia, que tem um peso específico na economia americana muito superior ao que os países periféricos têm na economia da Zona Euro.
Alguém deveria perguntar, então, porque razão a agência de Hinrichs não atribui, por analogia, uma dotação de lixo à dívida americana, ajustando-a à situação orçamental da Califórnia. É claro que tudo isto só é possível numa Europa sem lideranças, que hesita em tomar as decisões, e que tolera, contrata e credibiliza agências de dotação americanas que servem interesses que não são os nossos.
Claro que há cumplicidades europeias que justificam esta inacção porque, no curto prazo, interessa aos sectores exportadores alemães que a Grécia, Portugal, a Irlanda, agora também a Itália e a Bélgica, e amanhã a Espanha, estejam na corda bamba. É isso que mantém a cotação do euro a um nível que lhes permite serem competitivos. Bastaria que a Grécia sucumbisse, para que os efeitos fossem terríveis para os alemães, cujos bancos seriam infectados pela exposição à dívida grega, e que ainda veriam o euro subir em flecha face ao dólar, o que teria dramáticas consequências na sua balança comercial.
O problema é que a estratégia de manter os países "do Sul" no limbo pode ter esse interesse de curto prazo, pode remunerar bem os bancos alemães, e pode convencer alguns eleitores "do Norte", que acham que somos preguiçosos e merecemos um castigo, mas comporta um enorme risco. De facto, a Europa e os Estados Unidos, que tiveram políticas idênticas nos últimos trinta anos, acreditando que o aumento da dívida pública teria um impacto positivo no crescimento económico que a viria a compensar, viram essa ilusão desfeita pela crise de 2008 que ainda não foi resolvida e lutam, agora, entre si, para atraírem o "superavit" das novas potências.
Ora, a verdade é que a crise orçamental americana é, tecnicamente, mais grave do que a europeia. A dívida acumulada é muito superior em percentagem do PIB do que a da Zona Euro. O que acontece é que os americanos têm uma política, um desígnio e uma liderança, o que não acontece na Europa. A propósito disso, e da incapacidade europeia para compreender o Mundo, a recente entrevista de Jacques Atalli ao Paris-Match, sob o título "SOS EURO", em que denuncia os ataques especulativos que estão em curso, deveria ser de leitura obrigatória para todos os chefes de estado europeus.
Fica por saber se Hinrichs está a tentar dar uma ajuda à senhora Merkel, ou a prestar um serviço aos seus patrões americanos. No primeiro caso, de pouco lhe vale, porque a Chanceler alemã perde terreno em consecutivas eleições e só alguma imprensa portuguesa entende que isso se deve à sua flexibilidade relativamente ao Euro, e ao seu apoio à Grécia. Quem estiver mais atento ao que se passa na Alemanha sabe que o SPD e os ecologistas, que vão conquistando as eleições regionais, defendem a criação dos Eurobonds e o aprofundamento do modelo federal.
Por exclusão de partes, Hinrichs estará pois a agir de acordo com os interesses dos seus patrões. Senão vejamos: os US Treasury Bonds, merecem dessa agência o "rating" máximo, de "AAA", idêntico ao alemão, apesar de o défice orçamental americano ser muito superior ao da Zona Euro.
Ninguém ignora, e só um agente infiltrado pode querer esconder, que os Estados Unidos são um estado federal e, por isso, as obrigações do Estado americano são, também elas, resultante de um cabaz do qual fazem parte estados falidos, como é o caso da Califórnia, que tem um peso específico na economia americana muito superior ao que os países periféricos têm na economia da Zona Euro.
Alguém deveria perguntar, então, porque razão a agência de Hinrichs não atribui, por analogia, uma dotação de lixo à dívida americana, ajustando-a à situação orçamental da Califórnia. É claro que tudo isto só é possível numa Europa sem lideranças, que hesita em tomar as decisões, e que tolera, contrata e credibiliza agências de dotação americanas que servem interesses que não são os nossos.
Claro que há cumplicidades europeias que justificam esta inacção porque, no curto prazo, interessa aos sectores exportadores alemães que a Grécia, Portugal, a Irlanda, agora também a Itália e a Bélgica, e amanhã a Espanha, estejam na corda bamba. É isso que mantém a cotação do euro a um nível que lhes permite serem competitivos. Bastaria que a Grécia sucumbisse, para que os efeitos fossem terríveis para os alemães, cujos bancos seriam infectados pela exposição à dívida grega, e que ainda veriam o euro subir em flecha face ao dólar, o que teria dramáticas consequências na sua balança comercial.
O problema é que a estratégia de manter os países "do Sul" no limbo pode ter esse interesse de curto prazo, pode remunerar bem os bancos alemães, e pode convencer alguns eleitores "do Norte", que acham que somos preguiçosos e merecemos um castigo, mas comporta um enorme risco. De facto, a Europa e os Estados Unidos, que tiveram políticas idênticas nos últimos trinta anos, acreditando que o aumento da dívida pública teria um impacto positivo no crescimento económico que a viria a compensar, viram essa ilusão desfeita pela crise de 2008 que ainda não foi resolvida e lutam, agora, entre si, para atraírem o "superavit" das novas potências.
Ora, a verdade é que a crise orçamental americana é, tecnicamente, mais grave do que a europeia. A dívida acumulada é muito superior em percentagem do PIB do que a da Zona Euro. O que acontece é que os americanos têm uma política, um desígnio e uma liderança, o que não acontece na Europa. A propósito disso, e da incapacidade europeia para compreender o Mundo, a recente entrevista de Jacques Atalli ao Paris-Match, sob o título "SOS EURO", em que denuncia os ataques especulativos que estão em curso, deveria ser de leitura obrigatória para todos os chefes de estado europeus.
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