quarta-feira, 21 de julho de 2010

Vai tudo raso

João Paulo Guerra
(Diário Económico)
21/07/10 00:05

O projecto de revisão constitucional do PSD não deixa pedra sobre pedra do regime democrático nascido a 25 de Abril.

Em sete revisões, a Constituição já levara fortes machadadas dadas pelas maiorias qualificadas para o efeito.

O PSD quer acabar com o resto.

E não se diga que se trata de limar a Constituição dos resquícios ideológicos de pendor revolucionário.

Ao propor a abolição da justa causa para os despedimentos, o PSD revela o carácter da sua mais recente face, não apenas neoliberal, no sentido europeu ou norte-americano, mas inspirada nas economias asiáticas de ditadura do capital financeiro e de mão-de-obra descartável.

Ao propor a abolição do carácter tendencialmente gratuito da prestação dos cuidados de saúde, o projecto do PSD situa-se na América pré-Obama, da ditadura das companhias de seguros com absoluto menosprezo do direito humano à saúde.

E ao propor a substituição de um governo sem recurso à realização de eleições, o PSD revela a costeleta peruana, com governos cozinhados no churrasco da democracia.

Ou seja: o projecto de revisão da Constituição que o PSD vai apresentar não tem nada original, é tudo mais ou menos plasmado do que de mais tenebroso, explorador e totalitário há no mundo actual.

É um projecto raivoso, revanchista, de ajuste de contas contra o carácter de uma democracia nascida da liquidação de uma ditadura de 48 anos.

A revisão da Constituição da República Portuguesa far-se-á e será ou não aprovada em função de trocas e baldrocas de bastidores entre o proponente PSD e os colaborantes do costume, PS e CDS.

Antes de propor a revisão da Constituição da República, este PSD deveria rever a sua própria constituição, porque a designação social-democrata é neste particular um caso de publicidade enganosa.

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Comentário:

Que dirão os ainda muitos sociais-democratas sobre isto?

Não tardará muito para que deixe de haver a maçada das eleições...

Está aberto o caminho para mais uma vitória do PS, saiba este ou outros mostrar o (des)amor ao povo do Passos Coelho.

Parece que é crime lutar por melhores condições de vida: estes sujeitos (PPC, JS, etc. a quem não lhes falta nada!...) mostram querer apenas um tipo de raça humana: os detentores de poder económico. Os outros... não tardará muito a serem novamente escravos!...

1 comentário:

  1. (...)
    Do processo revolucionário surgiu a Terceira República Portuguesa, com uma constituição que contemplava todas as garantias formais de uma democracia moderna e que proclamava ainda a transição ao socialismo e reconhecia a força dos movimentos populares durante o PREC mediante a incorporação de instituições de democracia directa nas bases. Também fazia irreversiveis as "conquistas da revolução", como a nacionalização de sectores estratégicos e da banca, ou a reforma agrária. Um Conselho da Revolução formado por militares do MFA actuaria como garante do cumprimento da constituição durante os primeiros anos.

    No entanto, uma vez que começou a funcionar o regime democrático, os eleitores deram o poder a partidos que renegavam do conteúdo socializante da constituição. Paralisaram a Reforma Agrária e foram revendo a constituição para poder iniciar a reprivatização do sector público da economia. As instituições de democracia directa nunca foram organizadas e essa parte da constituição continua vigente, mas como letra morta.

    (...)

    A alusão ao socialismo? foi só esperar pelo Sr Silva que simplesmente a retirou de todo!!!

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