O problema dos exames entre nós é que não existe uma cultura de exames, mesmo que eles existam.
E porque parecem excêntricos e paradoxais em relação ao modelo de avaliação dos alunos ao longo da escolaridade obrigatória.
Porque os exames, mesmo no nosso sistema educativo em que as fórmulas matemáticas surgem nos enunciados dos exames, servem para avaliar conhecimentos e a aplicação prática desses mesmos conhecimentos.
Enquanto durante o ano lectivo, os anos lectivos, o ciclo de escolaridade, grande parte das preocupações dos professores se centram nas atitudes, no saber fazer teórico, no caderninho actualizado e em miríades de detalhes que os professores contabilizam - quantas vezes são obrigados a contabilizar! – para garantir sucesso ao aluno, raspando todo o tacho, de cima abaixo, mesmo que ele pouco perceba da matéria em apreço.
E lá se dá o trêzinho ou – horror dos horrores para mim – aquela coisa que dá pelo nome de trêsmenos (e que para mim é um trêsmenosum ou seja um dois real), que significa que o aluno merecia ficar no mesmo ano mas – hélas! – vamos obedecer ao critério do direito ao sucesso ou então caem-nos em cima as duas faces da mesma moeda: os eduqueses fofinhos e os economistas da educação.
Chega-se ao exame e é o descalabro porque – e aqui temos um outro paradoxo – o fracasso começa na atitude.
Os alunos do 9º ano não estão habituados aos exames, não percebem bem para que servem na maior parte dos casos e estão habituados a ouvir dizer que os exames, enfim, não se percebem bem para que existem se a ideia é baixar o insucesso e passa toda a gente, como aprenderam ao longo de nove anos de escolaridade.
No caso da Matemática, a situação de regresso dos resultados à infeliz normalidade (um dia se fará a devida contextualização da bolha de 2007-08) tem diversas razões, mas uma das principais é uma questão de atitude. E de falta de competências essenciais.
Curiosamente da falta daquilo que, durante o ano, se usa para mascarar que os alunos não estão em condições de enfrentar com sucesso um teste aos seus conhecimentos.
Eu sei que a atitude de ir à aula e levar o caderno deve ser valorizada.
E a competência de levar o material e fazer contas com a máquina de calcular sem a partir na cabeça do vizinho deve ser tida em conta.
Mas é dessa atitude e dessa competência que precisamos mesmo?
Ou precisamos de uma atitude positiva em relação ao trabalho e da competência para o fazer correctamente?
Ou chega-nos que, com simpatia, tentem fazer, mas não façam?
Enquanto se pensar que o insucesso real em Matemática (mas não só…) se resolve com mais tempo a usar métodos que se percebe terem resultados duvidosos e a aplicar parafernálias teóricas e tecnológicas que raquitizam o raciocínio, estaremos sempre no mesmo ponto de atraso relativo, com mais ou menos excitações estatísticas pontuais.
Enquanto não se perceber que o essencial passa por mudar a atitude geral de complacência desculpabilizadora perante o insucesso e por fomentar a competência efectiva para aprender e aplicar conhecimentos básicos, estamos feitos num oito, mas dos negativos.
O sucesso a Matemática, construído entre 2007 e 2008 para efeitos políticos, esgotou-se.
O legado do PAM rodriguista está agora à vista de todos.
Esta é a avaliação real de uma política errada.
Quem tanto gosta de accountability, tem aqui um belo case-study de péssima alocação de recursos.
Enquanto o PAM for um projecto de gabinete, muito (pre)ocupado em imensas reuniões, relatórios e outras coisas papelentas e ignorar que é desde o 1º ano de escolaridade (ou antes) que se deve incutir nos alunos uma atitude de rigor, esforço e trabalho, andam(os) a enganar-nos.
Só que os enganadores nunca estão à mão de semear quando é necessário confrontá-los com o seu legado.
Ou então aparecem, com a presidência de uma fundação debaixo do braço, para investigadores que supunhamos minimamente letrados em coisas educativas apresentarem como o livro mais sólido que leram, algo que não passa de um monólogo de alguém muito contentinho(a) consigo mesmo(a).
Paulo Guinote (A Educação do Meu Umbigo)
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