sexta-feira, 30 de julho de 2010

Boa consciência

O silêncio é o modo como o chamado "multiculturalismo" resolve os impasses morais a que o conduz o seu relativismo.
Ou muito me engano ou nenhum dos partidos que, em Portugal, fazem bandeira política da igualdade e dignidade das mulheres (e dos direitos humanos em geral) se manifestou ainda sobre a condenação, no Irão, à morte por apedrejamento de Sakineh Ashtiani, de 43 anos, acusada de alegado adultério.

"Adultério", em regimes islâmicos como o do Irão, é qualquer relação sexual fora do casamento, abrangendo não só pessoas casadas como viúvas ou divorciadas e homossexuais.
Até ser-se vítima de violação é "adultério".


Em 2008, na Somália, Asha Ibrahim, de 13 anos, foi levada para um estádio e ali publicamente apedrejada até à morte pelo "crime" de ter sido violada.
Para prolongar a agonia e sofrimento dos condenados, o art.º 104.º do Código Penal iraniano manda que as pedras "não podem ser tão grandes que matem imediatamente, nem tão pequenas que não possam ser classificadas de pedras".

Nada disto incomoda a boa consciência "multicultural".

O que a incomoda é a proibição da "burka" em França.


[JN - Manuel António Pina , como sempre]

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Tempo quente

Não estarei tão assiduamente aqui no blogue.

O tempo está quente e dilata a preguiça ainda que fundamentada nas férias.

Virei de quando em quando...

Menos 701 escolas

A crer no Ministério da Educação, é para garantir "igualdade de oportunidades" a todos os alunos que, "em estreita colaboração com associações de pais (...) e autarquias", irão ser encerradas a partir de Setembro mais 701 escolas do 1º Ciclo, a juntar às 5 172 encerradas desde 2000.
Apesar de o anúncio ter sido feito com meio país a banhos, sucedem-se, de Norte a Sul, os protestos das associações de pais e autarquias "em estreita colaboração" com as quais o ME teria preparado a coisa.
A seguir a centros de saúde, maternidades, urgências e estações de CTT, 701 pequenas comunidades rurais do desertificado interior ficarão agora sem escola e 10 mil crianças dos 6 aos 10 anos serão forçadas a percorrer todos os dias dezenas de quilómetros até chegarem, exaustas e sonolentas, às indiferenciadas linhas de produção educativa que são as "mega-escolas" dos centros urbanos.

O presidente da Câmara de Bragança fala de casos, no concelho, em que as crianças terão que fazer diariamente duas viagens de mais de hora e meia para ir à escola.

Só por humor negro alguém pode chamar a isso "igualdade de oportunidades".

Manuel António Pina
(JN de hoje)

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Vai tudo raso

João Paulo Guerra
(Diário Económico)
21/07/10 00:05

O projecto de revisão constitucional do PSD não deixa pedra sobre pedra do regime democrático nascido a 25 de Abril.

Em sete revisões, a Constituição já levara fortes machadadas dadas pelas maiorias qualificadas para o efeito.

O PSD quer acabar com o resto.

E não se diga que se trata de limar a Constituição dos resquícios ideológicos de pendor revolucionário.

Ao propor a abolição da justa causa para os despedimentos, o PSD revela o carácter da sua mais recente face, não apenas neoliberal, no sentido europeu ou norte-americano, mas inspirada nas economias asiáticas de ditadura do capital financeiro e de mão-de-obra descartável.

Ao propor a abolição do carácter tendencialmente gratuito da prestação dos cuidados de saúde, o projecto do PSD situa-se na América pré-Obama, da ditadura das companhias de seguros com absoluto menosprezo do direito humano à saúde.

E ao propor a substituição de um governo sem recurso à realização de eleições, o PSD revela a costeleta peruana, com governos cozinhados no churrasco da democracia.

Ou seja: o projecto de revisão da Constituição que o PSD vai apresentar não tem nada original, é tudo mais ou menos plasmado do que de mais tenebroso, explorador e totalitário há no mundo actual.

É um projecto raivoso, revanchista, de ajuste de contas contra o carácter de uma democracia nascida da liquidação de uma ditadura de 48 anos.

A revisão da Constituição da República Portuguesa far-se-á e será ou não aprovada em função de trocas e baldrocas de bastidores entre o proponente PSD e os colaborantes do costume, PS e CDS.

Antes de propor a revisão da Constituição da República, este PSD deveria rever a sua própria constituição, porque a designação social-democrata é neste particular um caso de publicidade enganosa.

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Comentário:

Que dirão os ainda muitos sociais-democratas sobre isto?

Não tardará muito para que deixe de haver a maçada das eleições...

Está aberto o caminho para mais uma vitória do PS, saiba este ou outros mostrar o (des)amor ao povo do Passos Coelho.

Parece que é crime lutar por melhores condições de vida: estes sujeitos (PPC, JS, etc. a quem não lhes falta nada!...) mostram querer apenas um tipo de raça humana: os detentores de poder económico. Os outros... não tardará muito a serem novamente escravos!...

terça-feira, 20 de julho de 2010

BASTA !!!

Vós, gente nobre e pobre do interior do país, já destes demasiado para este interminável peditório: foram as maternidades, os centros de saúde, os postos da PSP e da GNR, as escolas… , que acrescentam desertificação à cancerígena desertificação que vos come os ossos e bebe o sangue, desde o final da década de 60.

Nas aldeias, vão ficando as pedras e os velhos empedernindo, até que não reste ninguém.

Já vistes os vossos filhos e os vossos familiares partirem para os quatro cantos do mundo.

E foram poucos os que voltaram!

Agora o Estado pede-vos novamente os filhos e os netos, não para a guerra, não para salvar a pátria, mas para poupar dinheiro que vai ser gasto em extravagâncias faraónicas, a pagar as asneiras da desgovernação e da desonestidade de alguns banqueiros.

Vós estais a ser levados vivos para a morgue.

Acreditai que, nos grandes centros, a não ser os filhos e os netos que lá tendes, poucos se importarão com isso, poucos serão capazes de se erguerem do sofá para protestar.

E acreditai também que outros há que só têm olhos para os votos e para os grandes viveiros onde eles crescem.

Está, pois, na hora de vos reerguerdes, para defender o vosso património humano, a vossa História, a herança dos vossos avós.

Está na hora de dizer BASTA, de dizer NÃO, sem petições, sem marchas, sem buzinas, sem folclore.

Está na hora de dizer um NÃO autêntico e genuíno, saído das vossas entranhas, em honra do passado e do futuro a que tendes direito.

Dizei NÃO ao encerramento das vossas escolas, aos bonitos e tecnológicos aviários onde querem enfiar os vossos filhos, a granel, longe dos vossos olhos, da vossa companhia, da vossa protecção.

Não deixeis que vos tirem o pouco que tendes, o pouco que ainda vai justificando os impostos que pagais, o pouco que ainda vos vai fazendo acreditar que viveis num país realmente solidário, o pouco que ainda vos vai agarrando à vida e à terra, à vossa terra, à terra onde tendes o direito de viver, dignamente, com a vossa descendência.

Não deixeis que ninguém, nenhum iluminado, vos diga o que é melhor para vós e para os vossos filhos.

Levantai-vos, pacificamente, e dizei BASTA!

Luís Costa, in www.profblog.org

segunda-feira, 19 de julho de 2010

O PS quer mesmo melhorar a Educação em Portugal?!

Na Finlândia, só três por cento dos estabelecimentos têm mais de 600 alunos

Ao contrário de Portugal, lá fora aposta-se no regresso a escolas mais pequenas
Por Clara Viana (in Publico de hoje)

Em Nova Iorque, a taxa de sucesso entre os alunos que foram transferidos para escolas mais pequenas é superior à dos que permanecem nos velhos estabelecimentos.

Os primeiros grandes agrupamentos nascem no próximo ano lectivo.

A criação de grandes agrupamentos escolares que irá começar a tomar forma em Portugal no próximo ano lectivo está em queda noutros países, que já viveram a experiência e tiveram maus resultados.

Na Finlândia, a pequena dimensão é apontada como uma das marcas genéticas de um sistema de ensino que se tem distinguido pelos seus resultados de excelência.

Em Portugal, para já, os novos agrupamentos, que juntam várias escolas sob uma mesma direcção, terão uma dimensão média de 1700 alunos, indicou o secretário de Estado da Educação, João Trocado da Mata.

O número limite fixado foi de três mil estudantes.

Em Nova Iorque, o mayor Michael Bloomberg tem vindo a fazer precisamente o oposto.

[...]

... O estudo, desenvolvido pelo centro de investigação MDRC, abrangeu 21 mil estudantes, dos quais cerca de metade está já a frequentar as novas escolas. Uma das conclusões: entre estes, a taxa de transição ou de conclusão dos estudos é superior em sete pontos à registada entre os alunos inquiridos que frequentam outros estabelecimentos de ensino

Uma escala mais humana

Até 2014 terão passado à história dez por cento dos estabelecimentos com piores resultados.

[...]

No âmbito do novo programa Race to the top, lançado para combater o insucesso escolar, aos estados com melhores estratégias e resultados serão garantidos mais fundos para a educação.

Mas o objectivo não é só fechar as escolas com milhares de alunos e substituí-las por unidades com uma dimensão mais humana - embora este enfoque na "personalização" seja considerado vital.

A mudança de escala está também a ser acompanhada pela implementação de novos currículos, pela fixação de um corpo docente mais qualificado e por uma maior autonomia das escolas.

Esta aposta em escolas mais pequenas, mais bem qualificadas e com maior autonomia faz também parte das prioridades do novo primeiro-ministro conservador britânico, David Cameron, o que, a ser levado por diante, constituirá uma profunda inversão da tendência registada na última década no Reino Unido.

O número de escolas com mais de dois mil estudantes quase quadruplicou e cerca de 55 por cento das secundárias têm mais de 900 alunos. Com esta dimensão, a função dos docentes passou frequentemente a ser mais a de "apagar fogos" do que a de ensinar, constata-se num documento elaborado pela organização de professores Teach First.

Aumentar permite poupar

Um estudo elaborado há uns anos pelo EPPI-Centre, de Londres, com base nas experiências dos países da OCDE, concluía que os alunos tendem a sentir-se menos motivados nas escolas maiores e que os professores se sentem menos felizes com o ambiente vivido nestas.

Ao invés dos resultados obtidos em Nova Iorque, no que respeita às escolas secundárias concluía-se, em contrapartida, que os resultados dos alunos tendem a ser melhores em escolas maiores.

O que era justificado pela existência nestes estabelecimentos de corpos docentes com mais valências.

Por outro lado, o aumento da dimensão traduz-se numa redução do que o Estado tem de despender por cada aluno.

Em Portugal, no ensino não superior, esta factura rondará os três mil euros por ano.

Em Portugal, a par com a concentração de agrupamentos, irão também ser encerradas as escolas do 1.º ciclo com menos de 20 alunos.

A lista das que fecharão no próximo ano lectivo deverá ser conhecida esta semana.

Desde 2000 já fecharam portas 5172 escolas deste nível de ensino.

A ministra da Educação justificou esta medida dizendo que se pretende garantir que todas as crianças beneficiem "de escolas com os requisitos que a educação do século XXI exige".

Na Finlândia, quase não existem escolas com menos de 21 alunos, mas 40 por cento têm menos de 50 estudantes e são apenas três por cento as que vão além dos 600.

Outra norma obrigatória: para chegar à sua escola, as crianças não podem ser obrigadas a deslocar-se mais do que cinco quilómetros.

Por cá, serão cada vez mais os alunos que terão de percorrer uma distância quatro vezes superior a esta.

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Faço um apelo principalmente aos meus amigos do PS: Não deixem morrer a Escola Pública!!!

domingo, 18 de julho de 2010

O homem é parvo (Anda MST! Processa-me!)

Hoje no Expresso, no seu estilo truculento habitual, que já fez o seu sucesso quando as suas causas não eram o fumo, a caça e o marialvismo fora de moda:

"Na escola pública, teria o melhor ensino do mundo, os professores não faltariam com a impunidade com que faltam aqui e não se perpetuariam no lugar e na categoria, sendo incompetentes."

Pois… caro Miguel… num mundo ideal, os opinadores regiamente pagos não debitariam vacuidades com a impunidade generalista com que aqui o fazem, falando do que não percebem, só porque no passado alguém não estava disponível para tomar conta da prole alheia, quando fazia falta…

Paulo Guinote (in A Educação do Meu Umbigo)

Ai! Sophia: eu sei que não tem culpa!

sábado, 17 de julho de 2010

O universo paralelo de Sócrates

O primeiro-ministro ficou de olhos esbugalhados quando Miguel Macedo o acusou de "ter muita lata" por citar os dados da pobreza. Mas se a palavra "lata" pode não estar à altura de um debate sobre o estado da Nação, podemos sempre falar em descaramento.

Porque é disso que se trata quando ouvimos José Sócrates dizer que "Portugal alcançou a mais baixa taxa de pobreza de sempre" ou acenar com o "crescimento da economia e a diminuição do desemprego registado".

Um primeiro--ministro que "guia o Governo pelo valor da responsabilidade" devia aplicar esse mesmo princípio às leituras macroeconómicas.

No que à pobreza concerne, os dados do INE referem-se aos rendimentos de 2008, ainda a crise económica estava a levantar voo dos EUA para a Europa. E de pouco me adianta ouvir o primeiro-ministro dizer que a "redução foi particularmente significativa" no grupo dos idosos - mantendo, aliás, a tendência registada desde 2006. Porque não disse aos portugueses que o mesmo estudo coloca em 22,9% o risco de pobreza nas crianças, valor que atinge os 42,8% se analisarmos os agregados constituídos por dois adultos com três ou mais crianças. Imagine agora o leitor quando fizermos as contas com os rendimentos de 2010.

O que nos remete para uma experiência próxima da recuperação - a "retoma" económica. Essa sensação de viajar através de um túnel iluminado no fundo. Mas, como deixa claro o Banco de Portugal, essa luz esfuma-se já em 2011. Porque se é verdade que, este ano, o PIB deverá crescer quase 1%, Sócrates sabe que no ano seguinte voltamos à estaca (quase)-zero.

Com crescimentos de 0,2% não há retoma, há estagnação. No emprego - o primeiro-ministro tem toda a razão quando diz que "os efeitos do crescimento económico sobre o emprego são diferidos no tempo". No rendimento das famílias, que vai cair este ano 1,3% e 0,8% em 2011. No Estado social, porque as condições de vida dos portugueses vão piorar.

Sócrates está cada vez mais isolado na defesa do seu Estado social (onde pára a ideologia socialista?). Porque enquanto o apregoa, os seus ministros-chave - Vieira da Silva e Teixeira dos Santos - delapidam-no.

Joana Amorim (JN)

quarta-feira, 14 de julho de 2010

A propósito dos exames... e o PAM

O problema dos exames entre nós é que não existe uma cultura de exames, mesmo que eles existam.
E porque parecem excêntricos e paradoxais em relação ao modelo de avaliação dos alunos ao longo da escolaridade obrigatória.

Porque os exames, mesmo no nosso sistema educativo em que as fórmulas matemáticas surgem nos enunciados dos exames, servem para avaliar conhecimentos e a aplicação prática desses mesmos conhecimentos.

Enquanto durante o ano lectivo, os anos lectivos, o ciclo de escolaridade, grande parte das preocupações dos professores se centram nas atitudes, no saber fazer teórico, no caderninho actualizado e em miríades de detalhes que os professores contabilizam - quantas vezes são obrigados a contabilizar! – para garantir sucesso ao aluno, raspando todo o tacho, de cima abaixo, mesmo que ele pouco perceba da matéria em apreço.

E lá se dá o trêzinho ou – horror dos horrores para mim – aquela coisa que dá pelo nome de trêsmenos (e que para mim é um trêsmenosum ou seja um dois real), que significa que o aluno merecia ficar no mesmo ano mas – hélas! – vamos obedecer ao critério do direito ao sucesso ou então caem-nos em cima as duas faces da mesma moeda: os eduqueses fofinhos e os economistas da educação.

Chega-se ao exame e é o descalabro porque – e aqui temos um outro paradoxo – o fracasso começa na atitude.
Os alunos do 9º ano não estão habituados aos exames, não percebem bem para que servem na maior parte dos casos e estão habituados a ouvir dizer que os exames, enfim, não se percebem bem para que existem se a ideia é baixar o insucesso e passa toda a gente, como aprenderam ao longo de nove anos de escolaridade.

No caso da Matemática, a situação de regresso dos resultados à infeliz normalidade (um dia se fará a devida contextualização da bolha de 2007-08) tem diversas razões, mas uma das principais é uma questão de atitude. E de falta de competências essenciais.

Curiosamente da falta daquilo que, durante o ano, se usa para mascarar que os alunos não estão em condições de enfrentar com sucesso um teste aos seus conhecimentos.

Eu sei que a atitude de ir à aula e levar o caderno deve ser valorizada.
E a competência de levar o material e fazer contas com a máquina de calcular sem a partir na cabeça do vizinho deve ser tida em conta.

Mas é dessa atitude e dessa competência que precisamos mesmo?

Ou precisamos de uma atitude positiva em relação ao trabalho e da competência para o fazer correctamente?
Ou chega-nos que, com simpatia, tentem fazer, mas não façam?

Enquanto se pensar que o insucesso real em Matemática (mas não só…) se resolve com mais tempo a usar métodos que se percebe terem resultados duvidosos e a aplicar parafernálias teóricas e tecnológicas que raquitizam o raciocínio, estaremos sempre no mesmo ponto de atraso relativo, com mais ou menos excitações estatísticas pontuais.

Enquanto não se perceber que o essencial passa por mudar a atitude geral de complacência desculpabilizadora perante o insucesso e por fomentar a competência efectiva para aprender e aplicar conhecimentos básicos, estamos feitos num oito, mas dos negativos.

O sucesso a Matemática, construído entre 2007 e 2008 para efeitos políticos, esgotou-se.
O legado do PAM rodriguista está agora à vista de todos.
Esta é a avaliação real de uma política errada.
Quem tanto gosta de accountability, tem aqui um belo case-study de péssima alocação de recursos.

Enquanto o PAM for um projecto de gabinete, muito (pre)ocupado em imensas reuniões, relatórios e outras coisas papelentas e ignorar que é desde o 1º ano de escolaridade (ou antes) que se deve incutir nos alunos uma atitude de rigor, esforço e trabalho, andam(os) a enganar-nos.

Só que os enganadores nunca estão à mão de semear quando é necessário confrontá-los com o seu legado.
Ou então aparecem, com a presidência de uma fundação debaixo do braço, para investigadores que supunhamos minimamente letrados em coisas educativas apresentarem como o livro mais sólido que leram, algo que não passa de um monólogo de alguém muito contentinho(a) consigo mesmo(a).

Paulo Guinote (A Educação do Meu Umbigo)

terça-feira, 6 de julho de 2010

O PRÉMIO CONFISCADO


Muito gosta o estado português de tirar com uma mão o que dá com a outra. Por vezes não se coíbe de tirar com a mesma mão que deu.
Exemplo recente é o Prémio que o Ministério da Cultura, com a Associação Internacional de Críticos de Arte, decidiu atribuir ao fotógrafo português Paulo Nozolino.
Teria de desembolsar logo de imediato dez por cento do Prémio para efeitos de IRS e assinar uma nota de honorários (honorários?!).
Com a manipulação dos escalões recentemente efectuada, poderia até o artista subir de escalão com o dinheiro do prémio, e ter de pagar mais ao Estado do que pagaria se não fosse a recompensa, isto é, o Prémio ser, de facto, um prejuízo.
Afirmou o artista em comunicado que encontrei no blogue Arte Photographica:
Recuso na sua totalidade o Prémio AICA/MC 2009 em repúdio pelo comportamento obsceno e de má fé que caracteriza a actuação do Estado português na efectiva atribuição do valor monetário do mesmo. O Estado, representado na figura do Ministério da Cultura (DGARTES), em vez de premiar um artista reconhecido por um júri idóneo pune-o! Ao abrigo de “um parecer” obscuro do Ministério das Finanças, todos os prémios de teor literário, artístico e científico não sujeitos a concurso são taxados em 10% em sede de IRS, ao contrário do que acontece com todos os prémios do mesmo cariz abertos a candidaturas. A saber: Quem concorre para ganhar um prémio está isento de impostos pelo Código de IRS. Quem, sem pedir, é premiado tem que dividir o seu valor com o Estado!"
Não é só a injustiça de pagar imposto por conta do prémio (não seria mais simples o Estado dar um prémio menor, mas dá-lo livre de impostos?).
É também a completa arbitrariedade fiscal que consiste em taxar uns prémios e outros não.
Há premiados e premiados.
Como eu compreendo Nozolino...
Muitos parabéns por ter recusado o prémio!


quinta-feira, 1 de julho de 2010

Manuel António Pina no seu melhor

O dia de todos os prodígios
(JN de hoje)


Apartir de hoje, tudo custará mais 1% (porque ou há moralidade ou tudo paga o mesmo, o pão como as trufas e o champanhe francês).

Mas não aumenta apenas o IVA, aumenta também, para quem não tiver trabalho, o tempo de descontos necessário para ter direito a subsídio de desemprego.

Ao menos nesse campeonato, o da destruição do Estado Social, não só ganhamos à Espanha como lhe estamos a dar uma abada pois, a partir de hoje, além de ser preciso descontar mais tempo para se ter subsídio, este será mais reduzido e os desempregados serão obrigados a trabalhar por menos dinheiro.

E - já que, como diria o outro, isto de destruir direitos sociais é como o "ketchup" - quem, acabado o subsídio, não tiver como sobreviver não sobrevive pois acaba também o prolongamento extraordinário do subsídio social de desemprego.

E é com um subsídio mais baixo e durante menos tempo, ou sem subsídio nenhum, que milhares e milhares de portugueses terão que pagar, a partir de hoje, mais 1% pelo pão nosso de cada dia.

É justo, alguém tinha que pagar o descontrolo orçamental e o preço do champanhe já está pela hora da morte.

Uma braçadeira de chumbo no braço de Ronaldo

Nova polémica reforça teoria de que CR7 não tem perfil para liderar a equipa das quinas
JOÃO FARIA (JN de hoje)


Pior do que as suas exibições, Ronaldo mostrou mau perder, ao remeter para Queiroz as explicações sobre o afastamento luso do Mundial. Com o seu carácter de novo em xeque, a solução pode passar por lhe retirar a braçadeira de capitão.

A aparente disposição de Cristiano Ronaldo pretender resolver tudo sozinho, como se tivesse essa obrigação moral quando joga com a camisola portuguesa prejudica o seu rendimento, com reflexos no próprio comportamento, fora das quatro linhas. A perspectiva é defendida, ao JN, por João Nuno Coelho, sociólogo atento ao fenómeno desportivo. "É um peso que, em regra, limita as suas actuações por Portugal, e que é acentuado pela discutível opção de lhe entregar a braçadeira de capitão", prossegue o especialista.

"Estamos a falar de um futebolista à escala mundial, que é idolatrado em todo o lado, com a responsabilidade acrescida de ser o capitão da selecção, quando se percebe, facilmente, que não tem perfil de líder", frisa, por sua vez, Jorge Silvério, psicólogo desportivo e provedor do adepto da Liga de Clubes.

O episódio de anteontem, quando, após o jogo, na zona mista do Estádio Green Point, na Cidade do Cabo, remeteu para Carlos Queiroz as explicações sobre o afastamento de Portugal do Mundial, agravou a imagem de mau perder que lhe é frequentemente atribuída. O craque rapidamente se retractou, no site da empresa que o representa, mas os estilhaços do desabafo perduraram, reavivando a discussão sobre a legitimidade do jogador em ser capitão de equipa, situação iniciada na era Scolari e que manteve com Queiroz.

"Ele dá mostras de não ter estrutura para aguentar a fama e vacila. Já teve reacções negativas com colegas e com o público. Amua com facilidade e não vai ser fácil resolver esta problema", perspectiva João Nuno Coelho.

Como dizia ontem a Imprensa espanhola, o CR9 (do Real Madrid), parece valer mais do que o CR7 (da selecção). "O Ronaldo pode ser um jogador de excelência se realmente quiser", defende o sociólogo, lembrando que, depois de muito se ter falado na juventude do avançado, aos 25 anos "começa a parecer uma questão estrutural, difícil de gerir".

"Se ele não tivesse ido para o Manchester United, poderia ser agora outro Quaresma", acrescenta João Nuno Coelho.

Já Jorge Silvério defende que a Federação Portuguesa de Futebol devia ter nos seus quadros alguém que ajudasse Ronaldo. "Teve o gesto bonito de oferecer a Tiago o prémio de melhor em campo, com a Coreia do Norte. Isso é próprio de quem se quer afirmar, mas não se deve ser líder só às vezes. É verdade que foi escolhido para ser capitão, mas não foi treinado para isso e os reflexos estão à vista", conclui o psicólogo.